Animais

Os fertilizantes perturbam os campos elétricos das flores e confundem as abelhas

Santiago Ferreira

Os zangões usam vários sinais diferentes para localizar e identificar flores adequadas para colher pólen e néctar. Eles se concentram no perfume e na cor das flores, mas também são sensíveis ao campo elétrico ao redor de uma flor. Esses minúsculos campos elétricos se formam a partir do desequilíbrio de carga entre o solo e a atmosfera e são únicos para cada espécie, dependendo da distância da planta ao solo e do formato das flores. As flores utilizam campos eléctricos como um meio adicional de se anunciarem aos polinizadores, mas parece que as actividades humanas podem alterar estes sinais eléctricos e tornar mais difícil aos polinizadores detectarem a presença de flores adequadas.

Um estudo publicado na revista PNAS Nexo investigou os efeitos, sobre as abelhas, da pulverização de plantas com fertilizantes e pesticidas. Esses sprays químicos provocam alterações nos campos elétricos ao redor das flores por até 25 minutos após a exposição, muito mais tempo do que as flutuações causadas por fenômenos naturais, como o vento. Os investigadores descobriram que os zangões eram menos propensos a pousar em flores que tinham sido pulverizadas com fertilizantes ou pesticidas, e que isso resultou numa redução no esforço de alimentação das abelhas.

Ellard Hunting, da Escola de Ciências Biológicas de Bristol, e sua equipe, observaram que os fertilizantes não afetavam a visão ou o olfato das abelhas, e então eles começaram a imitar as mudanças elétricas causadas por fertilizantes e pesticidas no campo, manipulando flores eletricamente. Os resultados de seus experimentos mostraram que os zangões foram capazes de detectar e discriminar as pequenas e dinâmicas alterações do campo elétrico causadas pelos produtos químicos.

“Sabemos que os produtos químicos são tóxicos, mas sabemos pouco sobre como afetam a interação imediata entre plantas e polinizadores. As flores têm uma série de sinais que atraem as abelhas para promover a alimentação e a polinização. Por exemplo, as abelhas usam sinais como o odor e a cor das flores, mas também usam campos elétricos para identificar plantas”, explicou o Dr. “Um grande problema é: a aplicação de agroquímicos pode distorcer os sinais florais e modificar o comportamento de polinizadores como as abelhas.”

E não são apenas os zangões e as pulverizações de fertilizantes ou pesticidas que estão envolvidos aqui: várias outras partículas transportadas pelo ar, como nanopartículas, gases de escape, nanoplásticos e partículas virais, podem ter impactos semelhantes, afectando uma vasta gama de organismos que utilizam a energia eléctrica. campos que estão praticamente em toda parte no ambiente natural.

“O que torna este estudo importante é que é o primeiro exemplo conhecido de “ruído” antropogénico que interfere com o sentido eléctrico de um animal terrestre. É muito parecido com o ruído de um barco a motor, que prejudica a capacidade dos peixes de detectar seus predadores, ou com a luz artificial à noite, que confunde as mariposas; os fertilizantes são uma fonte de ruído para as abelhas que tentam detectar sinais elétricos florais”, disse o coautor do estudo, Sam England.

“Isso amplia nossa compreensão das formas multifacetadas pelas quais a atividade humana está impactando negativamente o mundo natural, o que pode parecer bastante deprimente, mas esperançosamente nos permitirá introduzir ou inventar soluções para prevenir os efeitos adversos que esses produtos químicos podem estar causando nas abelhas. .”

“O facto de os fertilizantes afectarem o comportamento dos polinizadores, interferindo na forma como um organismo percebe o seu ambiente físico, oferece uma nova perspectiva sobre como os produtos químicos produzidos pelo homem perturbam o ambiente natural”, concluiu o Dr.

O projeto foi financiado pelo Conselho Europeu de Pesquisa e pela Fundação Nacional Suíça para a Ciência.

Por Alison Bosman, Naturlink Funcionário escritor

Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

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