No domínio contemporâneo da produção alimentar, as considerações éticas estão a tornar-se tão substanciais como o sabor e a tradição. Um novo estudo analisa as atitudes dos consumidores, revelando que, embora o impacto climático seja uma preocupação, o bem-estar animal lidera significativamente as prioridades dos compradores. Esta revelação apresenta novos desafios e orientações para produtores, varejistas e legisladores da indústria suína.
Equilibrar o bem-estar animal e o meio ambiente
A carne de porco, um alimento básico em muitas dietas em todo o mundo, está sob escrutínio por vários motivos. Estes incluem o uso de antibióticos, doenças infecciosas, bem-estar animal e implicações ambientais. Apesar da notável pegada climática de indústrias como a da carne bovina, do café e do chocolate, o consumo de carne suína contribui significativamente para as emissões globais de CO2.
Pesquisadores do Departamento de Economia de Alimentos e Recursos da Universidade de Copenhague procuraram compreender a disposição dos consumidores em pagar por carne de porco “melhorada”. Esta melhoria abrange um melhor bem-estar animal, redução do impacto climático, minimização do uso de antibióticos, garantia contra bactérias nocivas e prevenção de alimentos que contribuam para a desflorestação.
O preço do consumo ético
O estudo, realizado na Dinamarca, Alemanha, Reino Unido e Xangai, na China, indica que os consumidores estão dispostos a pagar mais por carne suína melhorada. No entanto, quando se trata de dar prioridade ao destino do seu dinheiro, os consumidores europeus, em particular, demonstram uma clara preferência por um melhor bem-estar dos animais.
O professor Peter Sandøe, autor sênior do estudo, observa: “As respostas confirmam que um foco estreito na produção de carne suína favorável ao clima não se alinha com as principais preocupações dos consumidores. Eles consideram a qualidade de vida dos porcos crucial, ofuscando a importância de reduzir a pegada ambiental do produto.”
Este sentimento não se limita a alguns indivíduos com consciência ecológica. A maioria dos participantes em todos os países pesquisados colocou a melhoria do bem-estar dos suínos acima da redução da pegada climática. Este facto evidencia uma ligação direta e empática com as condições de vida dos animais.
Paradoxo climático do consumidor
Apesar do aumento dos diálogos globais centrados no clima, os consumidores pareciam subestimar o impacto climático das suas escolhas alimentares, especialmente no que diz respeito à carne de porco. O professor associado Thomas Bøker Lund, coautor do estudo, compartilha a surpresa ao descobrir que os consumidores deram “prioridade relativamente baixa” à redução da pegada climática da carne suína.
Essa atitude reflete uma crença predominante do consumidor. A maioria das pessoas sente que as escolhas individuais no balcão de carnes podem não ter um impacto significativo nas questões climáticas mais amplas.
Lund explica: “Ao comprar carne, os consumidores sentem-se capacitados para melhorar o bem-estar de um animal específico. No entanto, o impacto climático destas escolhas parece mais abstrato e muitos preferem abordar as preocupações climáticas através de ações alternativas.”
Abordagens holísticas para o bem-estar animal
As descobertas servem como um apelo para uma abordagem abrangente na indústria suína. Sandøe sublinha o dilema que enfrentam os produtores e os decisores políticos: “Rotular a carne de porco como ‘amiga do clima’ não será suficiente, uma vez que não satisfaz a procura do consumidor. Além disso, dar prioridade à produção centrada no clima pode significar sacrificar o bem-estar dos animais, piorando potencialmente as suas condições de vida.”
Há uma necessidade inerente de equilibrar a redução de CO2 com o tratamento ético dos animais. Sandøe continua: “A pecuária ofusca significativamente a carne suína nas emissões de CO2, portanto, substituir a carne bovina por carne suína ou de frango é benéfico. No entanto, devemos gravitar coletivamente em direção a uma dieta baseada em vegetais.”
O aspecto financeiro também não pode ser esquecido. Embora os consumidores tenham manifestado vontade de pagar até 20% mais por “carne de porco ética”, este prémio não cobre os custos de melhorias substanciais no bem-estar, de acordo com os cálculos da equipa de investigação.
Repensando o varejo e a regulamentação
São necessárias estratégias inovadoras para conciliar as preferências dos consumidores com as realidades económicas e éticas. Os investigadores sugerem racionalizar as ofertas de retalho, reduzindo a variedade de produtos para obter economias de escala e poupanças. Fazer isso permitiria subsequentemente que os retalhistas cumprissem padrões de bem-estar mais elevados sem custos astronómicos.
Uma revisão regulatória, sugere Sandøe, também poderia impulsionar mudanças em todo o setor. Traçando paralelos com intervenções anteriores bem-sucedidas no bem-estar das aves, ele propõe o estabelecimento de padrões mínimos de bem-estar animal para a carne suína, aplicados em nível nacional.
“Em vários países, as taxas de mortalidade de leitões são inaceitáveis e muitas porcas estão sobrecarregadas por exigências de produção intensiva”, salienta Sandøe. Ele defende a suspensão do aumento das pressões de produção apenas por causa das preocupações climáticas.
Mudança na política de bem-estar animal
A investigação sublinha a necessidade urgente de regulamentos actualizados, especialmente porque não houve reformas significativas nos regulamentos de bem-estar social desde o final da década de 1990. Sandøe conclui: “Em vez de exacerbar as tensões de produção em nome da proteção climática, precisamos de padrões de bem-estar rigorosos. Já é hora de uma ação decisiva e compassiva no domínio do bem-estar animal.”
Em resumo, as implicações deste estudo são claras. O caminho para uma indústria alimentar sustentável e ética exige caminhar na corda bamba entre a responsabilidade ambiental e o bem-estar animal, ao mesmo tempo que mantém as preferências e a consciência do consumidor na vanguarda.
O estudo completo foi publicado na revista Ciência Pecuária.
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