Animais

Golfinhos ameaçados sofrem com os níveis mais altos conhecidos de PFAS

Santiago Ferreira

Um estudo recente conduzido por cientistas da Marine Mammal Foundation, da Universidade RMIT e da Universidade de Melbourne revelou concentrações alarmantes de produtos químicos PFAS nos golfinhos Burrunan, criticamente ameaçados de Victoria.

Esses produtos químicos, muitas vezes chamados de “produtos químicos eternos” devido à sua persistência, são comumente encontrados em produtos como embalagens de alimentos, espuma de combate a incêndios e utensílios de cozinha antiaderentes.

Insights chocantes

O estudo analisou amostras de 38 golfinhos de várias espécies encontrados encalhados ao longo da costa de Victoria, com foco particular nas populações de golfinhos Burrunan na Baía de Port Phillip e nos Lagos Gippsland.

As descobertas mostraram que as concentrações médias de alguns produtos químicos nestes golfinhos eram dez vezes superiores aos níveis que se acredita causarem toxicidade hepática e outros problemas de saúde.

Níveis mais altos de PFAS registrados

Um golfinho Burrunan juvenil de Port Phillip Bay exibiu uma concentração de PFAS no fígado de 19.500 nanogramas por grama, marcando o nível mais alto registrado em um golfinho individual em todo o mundo.

“Não só encontrámos os níveis mais elevados destes tóxicos produzidos pelo homem numa espécie que já está criticamente ameaçada – incluindo em recém-nascidos e juvenis – como também encontrámos um golfinho da Baía de Port Phillip com concentrações de PFAS quase 30 por cento mais elevadas do que qualquer outro golfinho individual. relatados globalmente”, disse a autora principal Chantel Foord, estudante de doutorado no Grupo de Pesquisa em Ecotoxicologia da RMIT e na Fundação Mamíferos Marinhos.

Implicações do estudo

Foord assegurou que estes resultados não implicam necessariamente um risco para os seres humanos nas águas vitorianas, uma vez que os golfinhos ingerem peixes inteiros, incluindo órgãos que acumulam poluentes, ao contrário do consumo humano, que normalmente envolve apenas tecido muscular dos peixes.

O estudo, publicado no Ciência do Meio Ambiente Total revista, levanta questões sobre a fonte desta poluição, especialmente porque nenhuma fabricação de PFAS ocorre na Austrália. Foord enfatizou a importância de identificar as fontes desses produtos químicos e compreender o seu comportamento no meio ambiente.

Status crítico

A Dra. Kate Robb, Diretora da Marine Mammal Foundation e coautora do estudo, destacou a situação crítica do golfinho Burrunan. “Com apenas 250 indivíduos nestas populações, aumentar a nossa compreensão dos processos ameaçadores é absolutamente crucial para a conservação e protecção do golfinho Burrunan, e na gestão e mitigação dessas ameaças”, disse ela.

Os especialistas também descobriram contaminantes emergentes, indicando que os novos produtos químicos de substituição já estão a bioacumular no ecossistema marinho. Esta descoberta sublinha a necessidade de esforços contínuos de investigação e conservação para proteger estes mamíferos marinhos ameaçados e o seu habitat.

Mais sobre o PFAS

PFAS, que significa Substâncias Per- e Polifluoroalquil, são um grupo de produtos químicos produzidos pelo homem que estão em produção desde a década de 1940. Os PFAS são usados ​​em uma ampla gama de produtos de consumo e aplicações industriais devido à sua capacidade de resistir ao calor, à água e ao óleo.

Fontes

Os produtos comuns que contêm PFAS incluem utensílios de cozinha antiaderentes, roupas repelentes de água, tecidos e tapetes resistentes a manchas, cosméticos e produtos que utilizam espumas de combate a incêndios.

Preocupações

Uma das principais preocupações com os PFAS é a sua persistência no ambiente e no corpo humano, razão pela qual são frequentemente referidos como “produtos químicos eternos”. Eles não se decompõem e podem acumular-se com o tempo. Essa persistência pode levar à contaminação da água potável, do solo e do ar.

Riscos de saúde

A exposição a certos PFAS tem sido associada a uma série de problemas de saúde. Estudos indicam que o PFAS pode afectar o crescimento, a aprendizagem e o comportamento de bebés e crianças mais velhas, diminuir as hipóteses de uma mulher engravidar, interferir com as hormonas naturais do corpo, aumentar os níveis de colesterol, afectar o sistema imunitário e aumentar o risco de cancro.

Regulamento

Os esforços para gerir e mitigar a contaminação por PFAS incluem a regulamentação da sua utilização, o desenvolvimento de materiais alternativos e a limpeza de locais contaminados.

No entanto, o uso generalizado e a persistência destes produtos químicos tornam esta tarefa um desafio. Além disso, a compreensão científica dos efeitos de muitos PFAS na saúde ainda está em evolução, tornando a regulamentação e a remediação uma questão complexa.

PFAS e vida selvagem

O impacto dos PFAS na vida selvagem varia dependendo da espécie e do nível de exposição, mas geralmente inclui uma série de efeitos adversos à saúde:

Problemas reprodutivos

O PFAS pode causar problemas reprodutivos na vida selvagem, levando à redução da fertilidade, atrasos no desenvolvimento e mudanças nos comportamentos reprodutivos.

Efeitos no desenvolvimento

Animais jovens expostos ao PFAS podem apresentar atrasos ou defeitos de desenvolvimento, afetando sua sobrevivência e crescimento.

Perturbação do sistema imunológico

Esses produtos químicos podem perturbar o sistema imunológico dos animais, tornando-os mais suscetíveis a doenças. Por exemplo, estudos demonstraram que a exposição ao PFAS pode reduzir a eficácia das vacinas em animais.

Mudanças comportamentais

A exposição ao PFAS pode levar a mudanças no comportamento animal, o que pode afetar sua capacidade de forragear, acasalar e evitar predadores.

vida marinha

As criaturas aquáticas, como peixes e anfíbios, são particularmente vulneráveis ​​à contaminação por PFAS devido ao escoamento destes produtos químicos para os corpos d’água.

As aves, especialmente aquelas que consomem peixes ou vivem em ambientes aquáticos, também correm um risco significativo. Os animais terrestres podem ser expostos através de fontes de água contaminadas, solo ou através da cadeia alimentar.

Os esforços para proteger a vida selvagem dos PFAS envolvem a redução e, eventualmente, a eliminação da utilização destes produtos químicos em produtos e processos industriais, bem como a limpeza de ambientes contaminados. No entanto, dada a persistência e omnipresença dos PFAS, proteger a vida selvagem destas substâncias é um desafio complexo e contínuo.

Crédito da imagem: Fundação Mamífero Marinho

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Santiago Ferreira é o diretor do portal Naturlink e um ardente defensor do ambiente e da conservação da natureza. Com formação académica na área das Ciências Ambientais, Santiago tem dedicado a maior parte da sua carreira profissional à pesquisa e educação ambiental. O seu profundo conhecimento e paixão pelo ambiente levaram-no a assumir a liderança do Naturlink, onde tem sido fundamental na direção da equipa de especialistas, na seleção do conteúdo apresentado e na construção de pontes entre a comunidade online e o mundo natural.

Santiago