Com uma população de mais de 7.000 indivíduos espalhados pelas montanhas dos Cárpatos e áreas vizinhas, a Roménia tem a maior densidade de ursos pardos da Europa. No entanto, como muitas vezes habitam áreas habitadas por humanos, os conflitos com as pessoas não são incomuns. Recentemente, uma equipa de investigadores liderada pela Universidade de Bucareste e Chelonia Roménia explorou como os meios de comunicação romenos retratam as interações entre humanos e ursos e descobriram que as representações dos meios de comunicação social são em grande parte negativas, dificultando assim os esforços de conservação.
“A mídia desempenha um papel influente na forma como o público percebe os ursos pardos, portanto, pode promover a coexistência entre humanos e animais selvagens ou exacerbar conflitos futuros”, explicaram os cientistas. As suas investigações revelaram que as notícias relacionadas com ursos pardos só se tornaram comuns depois de 2016, após uma proibição de abate de um ano, e aumentaram dramaticamente em 2021, após a denúncia de um alegado evento de caça a troféus.
A maioria das reportagens da mídia tratava de interações entre humanos e ursos, caça e caça furtiva, oferecendo ao público muito pouco contexto e informações sobre como evitar conflitos. Além disso, os artigos centrados na biologia e ecologia do urso pardo eram escassos, indicando menos consideração da importância ecológica e do impacto das atividades humanas no estado de conservação dos ursos.
A atitude destes artigos em relação aos ursos pardos foi predominantemente negativa (em 53 por cento dos casos), utilizando frases como: “A qualquer momento as pessoas podem encontrar-se diante de um urso faminto”; “Além do horror com que vivem todos os dias, perderam a paciência e a confiança nas autoridades;” e “As pessoas têm medo do pior”.
Mesmo quando relatavam encontros com ursos sem vítimas, os meios de comunicação romenos continuaram a promover uma imagem negativa dos ursos junto do seu público. “Concentrar-se em mensagens alarmantes sem oferecer provas ou conselhos pode aumentar o medo e minar os esforços para proteger as espécies e o bem-estar da sociedade”, escreveram os investigadores.
Mais importante ainda, os especialistas descobriram que os meios de comunicação não consultaram biólogos da vida selvagem e da conservação ao reportarem sobre as interações entre humanos e ursos. Segundo os cientistas, isto pode dever-se ao facto de os especialistas estarem relutantes em participar nestes debates, ou porque os meios de comunicação social não estão interessados em trazer mais contexto científico aos seus relatórios.
“Em conclusão, aumentar a frequência de notificação de eventos de interação com mensagens alarmantes só pode diminuir o nível de tolerância à vida selvagem e influenciar negativamente as decisões políticas relativas à gestão da população de ursos pardos. Notícias baseadas em evidências podem ajudar as autoridades a compreender melhor os conflitos e a criar caminhos ascendentes em direção a um futuro otimista para os ursos pardos e para a sociedade romena”, concluíram os autores.
O estudo está publicado na revista Conservação da Natureza.
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Por Andrei Ionescu, Naturlink Funcionário escritor