Peniche, Mar e História

Leonor de Almeida (texto) e José Romão (fotos)
Imprimir
Texto A A A

 

Mas, para além da gastronomia, dos monumentos e das belezas naturais, tem mais hipóteses para preencher o seu dia. Se aguenta um percurso de barco em águas revoltas, às vezes envoltas em intensas brumas, apanhe a “carreira” para as Berlengas. Este micro arquipélago, constituído pela Berlenga e pelas ilhotas Estelas e Farilhões, é uma Reserva Natural. Ali depara-se-lhe uma beleza bem diferente de tudo a que está habituado na costa portuguesa. A paisagem é agreste, com muito pouca vegetação. Em contrapartida vivem ali milhares de gaivotas. Apesar das expurgações, reproduzem-se rapidamente e os seus “gritos” constantes não fazem de todo as delícias dos amantes do campismo tranquilo. Em contrapartida, aos mais viajados, todo este ambiente fará inevitavelmente recordar as belas costas da Irlanda.


Fotografias de José Romão

Mas para além das vocalizações das gaivotas, não se admire de ouvir também uma espécie de gargalhadas. São as “primas “das gaivotas, as pardelas, que voam rindo ao sabor dos ventos. Nidificam em grutas pouco acessíveis ao homem, o que constitui uma garantia para a continuidade da espécie. Mas esta reserva faunística não se fica por aqui: há corvos marinhos, airos, com os seus ovos verde-turquesa, lagartixas e sardões. E, claro, coelhos, que já lá vivem desde o tempo do Cruzado Osberno. Boa parte deles morre de velhice, ao contrário dos seus parentes do continente, sempre ameaçados pelas espingardas dos caçadores. Disparar um tiro nas Berlengas seria um verdadeiro sacrilégio. Até porque estamos num santuário da Natureza! E a vegetação? Bom, tanto leigos como especialistas, têm ali um forte motivo de interesse: trata-se da Armeria berlengensis, que como o próprio nome indica, é endémica destas paragens.

Pernoitar na Berlenga não é fácil. Existe uma Casa Abrigo, instalada no forte de S. João Baptista que, em tempos idos, fez parte da defesa da costa. Mas a lotação é limitada. No entanto, se conseguir passar ali algum tempo não se vai arrepender. A água, de tão transparente, chega a ser luminosa. Pode mesmo observar-se, sem dificuldade, peixes no seu habitat natural. E pensarmos nós que, no princípio dos anos 80, esteve para ser construída a central nuclear de Ferrel, perto de Peniche!

Comentários

Newsletter