Os fungos são um grupo de organismos particularmente diverso e de características únicas. À medida que a sistemática dos seres vivos foi evoluindo, os fungos ocuparam diferentes posições nas classificações que se foram estabelecendo.
Os fungos são um grupo de organismos com características únicas, diferentes de todos os outros pelo seu comportamento e organização celular. No entanto, ao longo da história da classificação dos seres vivos isso nem sempre foi claro!
Inicialmente, quando todos os organismos eram classificados como Animais ou Plantas, os fungos foram incluídos no Reino da plantas por serem imóveis e possuírem parede celular. Em 1866, Haeckel propôs um terceiro reino, os Protistas, que incluía os organismos microscópicos como algas, bactérias, protozoários e os fungos. Foi com o desenvolvimento da microscopia electrónica durante a década de 50 que foi possível observar as diferenças ao nível da estrutura celular entre os diversos organismos. Verificou-se, então, a simplicidade das bactérias, cujas células são procarióticas (a sua principal característica é a ausência de um núcleo bem definido, envolto por uma membrana nuclear), em oposição a todos os outros organismos que são eucariotas (as suas células possuem um núcleo individualizado por uma membrana nuclear). Surgiu assim o sistema de classificação de Whittaker, em 1969, que dividia todos os seres vivos em cinco reinos: animais, plantas, protistas, monera e fungos. Whittaker argumentava que os fungos apresentavam diferenças fundamentais relativamente aos outros organismos eucariotas ao nível da organização celular e no seu modo de nutrição. O sistema de classificação dos organismos em cinco reinos ainda hoje é muito utilizado. No entanto, estudos mais recentes de comparação molecular e bioquímica de organismos demonstram diferenças, principalmente entre bactérias. Foi, então, proposta a divisão dos organismos em três domínios, com relações evolutivas entre si: Bacteria, Archaea e Eucarya. Os fungos e todos o organismos eucariotas pertencem ao grupo Eucarya. Na árvore filogenética universal proposta por Woess em 1994 (representada na figura 1) que mostra as divisões e relações dos organismos ao longo da evolução da vida terrestre, os fungos estão representados nos braços terminais e ao nível das plantas e animais, o que significa que os fungos terão surgido na mesma época dos animais e plantas mas evoluíram distintamente.
Figura 1 - Árvore filogenética universal simplificada baseada no diagrama de Woess (1994). Os fungos pertencem ao grande domínio dos organismos eucariotas e em termos evolutivos estão muito próximos dos animais e plantas.
O ramo que representa os fungos refere-se a um grupo geral de organismos que possuem as características típicas que os englobam num grupo bem definido. Os fungos mucilaginosos, considerados protistas, não são tidos como verdadeiros fungos uma vez que as suas células não possuem parede celular e se alimentam por fagocitose (a célula rodeia e digere partículas sólidas), no entanto, eles reproduzem-se por esporos com parede celular e dispersos pelo vento tal como acontece nos fungos. Os verdadeiros fungos são, tipicamente, organismos eucariotas cujas paredes celulares são constituídas por quitina, desenvolvem-se em filamentos de crescimento apical chamados hifas, alimentam-se por absorção de nutrientes solúveis previamente digeridos por enzimas que secretam para o exterior e reproduzem-se, sexuada ou assexuadamente, por esporos.
Os fungos podem apresentar diversas formas, representadas na figura 2. A maioria desenvolve-se por hifas que formam redes (micélios) mais ou menos organizados, estes são os fungos mais vulgares, os bolores e os cogumelos. Alguns fungos mais primitivos são unicelulares, formando apenas células grandes e redondas, que se prendem aos substratos por rizóides, são chamados fungos quitridianos. Outros, também unicelulares, são as leveduras. Estas diferentes formas de crescimento podem estar relacionadas com o seu habitat e alguns fungos podem mesmo apresentar diferentes formas consoante as condições ambientais, são fungos dimórficos. Alguns destes fungos causam graves doenças em animais e plantas. Um exemplo clássico desta situação é a Candida albicans que é uma levedura muito comum nas mucosas humanas sem causar qualquer problema, no entanto, em resposta a determinadas situações podem formar-se hifas que invadem as mucosas provocando problemas significativos.
Figura 2 - Diferentes formas de crescimento dos fungos: a) miceliano; b-c) leveduras; d) quitridiano.
A taxonomia dos fungos tem-se baseado tradicionalmente na morfologia comparativa e no desenvolvimento de estruturas de reprodução sexuada. Mas, actualmente, estão em estudo novas relações entre fungos com base na análise molecular do seu material genético. No entanto, esta informação ainda é muito retalhada pois alguns grupos têm sido mais analisados que outros. Entretanto, vai-se utilizando uma classificação de carácter prático que distingue os principais grupos de fungos sem os ordenar hierarquicamente. Os nomes destes grupos têm sofrido algumas modificações ao longo do tempo, principalmente na sua terminação. O sistema mais utilizado é o adoptado por Alexopoulos et al. (1996) que divide os fungos nos grupos resumidos na tabela 1. Neste artigo vamos apenas descrever as características e modo de vida dos verdadeiros fungos.