Este vai e vem é repetido vezes sem conta ao longo de 7 a 8 horas, dependendo essencialmente da quantidade de algas existente e da força e vontade de cada homem, em média cada mergulhador apanha por dia 15 sacos, o que, consoante a capacidade dos sacos (entre os 50 e 100 quilos), dá em peso húmido cerca de 750 a 1600 quilos de algas/dia.
Neste vai e vem constante, não há tempo para descanso nem para se preocuparem com paragens de segurança e descompressões, o objectivo é encher o maior número possível de sacos, e a segurança no mergulho é relegada para 2º plano na consciência destes homens, apesar de saberem e conhecerem de perto os riscos que correm mesmo às baixas profundidades a que trabalham (entre os 3 e os 12 metros).

A única paragem que fazem é ao almoço. Nessa altura, calam-se os compressores e os homens relaxam a bordo por breves instantes, nunca mais do que 30 minutos, e porque há que aproveitar o mar e o tempo é dinheiro, a digestão faz-se debaixo de água.
Ao final do dia (16 – 17 horas) regressa-se ao porto e ao fim de 7 – 8 horas debaixo de água, os mergulhadores sujeitam-se ao esforço final do dia – descarregar o barco; as “apolos”, por serem mais pequenas entram directamente para o porto e iniciam logo a descarga dos sacos, os barcos grandes são fundeados ao largo do porto e a sua carga transferida para as pequenas embarcações de apoio e daqui para os tractores que transportam os sacos até aos campos de secagem. Nesta altura, os homens respiram finalmente e contabilizam os sacos desse dia, cada mergulhador conhece os seus sacos ou pela cor do saco propriamente dito ou pela cor da corda que fecha o saco, e as cores não se repetem.
Inicia-se então o trabalho das mulheres, geralmente as esposas ou outras familiares dos mergulhadores, um trabalho duro e sobretudo muito monótono, implicando uma prolongada exposição ao calor intenso do Verão.
A partir deste momento, a povoação da Azenha do Mar ganha um novo aspecto e odor; depois dos tractores atravessarem os campos, para onde são atirados os sacos do mergulhador “dono” do respectivo campo, as mulheres, muitas vezes “ajudadas” pelos filhos que ali brincam ao redor, iniciam a abertura dos sacos, deixando as algas em monte até finalizarem esse serviço.
As algas são então espalhadas o mais possível pelos campos de areia, para que sua secagem possa ser rápida mas uniforme, de maneira a que determinado grau de humidade seja atingido, sem que a alga seque demasiado e fique tipo “palha seca”, são segredos e truques que as mulheres foram aprendendo com as suas mães e com a experiência. Os campos ficam assim cobertos por um manto avermelhado mais ou menos uniforme, e no ar paira um cheiro forte mas agradável a algas.
No dia seguinte, em plena hora de almoço, quando o sol do meio-dia aperta, as mulheres dirigem-se novamente aos campos para voltarem as algas, com o auxílio de uma forca ou mesmo de uma cana.
Ao final do dia, um pouco antes do regresso dos homens, iniciam a recolha das algas já secas para um monte ou “pilha”, para que na volta dos barcos já o campo esteja pronto para receber novo carregamento de algas.
Quando o mar começa a “embravecer” e a dar mostras que já não acalma, lá para os finais de Agosto, meados de Setembro, é altura de recolher novamente os barcos a portos mais seguros, e de pensar em vender o “limo”.
Os homens encarregam-se da venda das algas secas, estas são carregadas para camiões e vendidas à única fábrica ainda a laborar no nosso país, onde sofrem os processamentos necessários para as diferentes aplicações a que o agar se presta.
O regresso a casa é feito com o dinheiro que lhes vai permitir fazer face aos rigores do Inverno e à impossibilidade de poderem mandar no mar, que não os deixa sair para a faina quando mais precisam.
A consultar para excelentes fotografias:
João Mariano (2001) “Trabalho de Fundo”. 1000 Olhos – Imagem e Comunicação, Lda. (www.1000olhos.com)
Bibliografia
D. Jesus. A Apanha de Algas na Azenha do Mar, Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina – Relatório Final, PNSACV, Odemira.
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