A Vida Secreta e Surpreendentemente Fascinante dos Anfíbios

Joana Teixeira Ribeiro
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Os géneros Pleurodeles e Echinotriton apresentam capacidades únicas para reduzir a sua palatibilidade e aumentar a sua probabilidade de sobrevivência. A salamandra-de-costelas-salientes (Pleurodeles waltl), endemismo ibérico que se pode encontrar no Sul e Centro de Portugal, tem a capacidade de, perante um ataque, projectar as pontas das suas costelas para fora do seu corpo. Apesar da projecção não se fazer através de poros especializados, as pontas expostas das costelas ficam posicionadas imediatamente abaixo das manchas alaranjadas dos flancos, aumentando o impacto visual deste comportamento. Como se não bastasse, estas espécies são também tóxicas, pelo que as pontas das costelas podem injectar toxinas na corrente sanguínea do predador.

Se a estratégia defensiva da salamandra-de-costelas-salientes pode parecer bizarra, a utilizada por alguns sapos africanos (Géneros Astylosternus e Trichobatrachus) prova que a realidade é muitas vezes bem mais impressionante do que a ficção. Estes anuros têm a capacidade de projectar a parte terminal das falanges de alguns dedos através da pele. Estas estruturas ósseas de forma semelhante à das garras de alguns mamíferos, causam feridas profundas em quem tentar pegar ou abocanhar estes sapos. Não se conhece mais nenhum vertebrado com uma estrutura semelhante a uma garra sem queratina, composta apenas por massa óssea, que tem de se libertar da estrutura esquelética e perfurar a pele para se tornar funcional.

No século XVIII, o famoso cientista sueco Carl von Linné, responsável pela criação do actual sistema de nomeação científica das espécies referiu-se aos anfíbios como criaturas “feias e asquerosas”, reforçando que Deus não se havia esmerado na sua criação. Agora, depois de conhecer uma parte da vida secreta destes vertebrados, cabe ao leitor decidir se estas criaturas tão menosprezadas não podem de facto integrar orgulhosamente o grupo dos animais mais interessantes e inspiradores deste planeta.

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