A bolota produzida pelas espécies de carvalhos constitui um alimento muito nutritivo e procurado por muitos animais. Num estudo a decorrer na Serra de Grândola, procura-se avaliar a importância de diferentes espécies de vertebrados na sua remoção.
A bolota produzida pelas árvores do género Quercus (carvalhos) constitui um importante recurso alimentar para as espécies que habitam os montados de sobro e azinho – quer espécies nativas (como o javali, alguns mamíferos carnívoros, roedores, aves), quer para o gado suíno, ovino ou outros. O consumo das bolotas recém-caídas pode até ser um dos factores limitantes para a regeneração de alguns montados (Herrera, 1995). Estes impactos da remoção de bolota na viabilidade da regeneração natural dos montados têm sido estudados principalmente em áreas sujeitas a uma grande pressão de pastoreio, quer por gado, quer por caça grossa (Herrera, 1995; Gómez, 2004). Nestas áreas o impacto da predação de bolota por outras espécies nativas não é facilmente avaliado, impossibilitando o conhecimento da influência destes agentes de remoção de bolota na regeneração do montado.
Na Herdade da Ribeira Abaixo, estação de campo do Centro de Biologia Ambiental localizada na Serra de Grândola, foi implementado um sistema de avaliação da remoção de bolota numa área com baixa densidade de ungulados (tanto domésticos como silvestres) no âmbito do projecto “Impactos da herbivoria e da remoção de bolota na regeneração do montado de sobro”, financiado pelo Programa Agro (Projecto Agro 669/ 2003.09.0024525.2). A Herdade está quase completamente coberta por montado de sobro, e nela é pastoreado um rebanho de cerca de 300 ovelhas, que percorre uma área de cerca de 600 ha (englobando assim a estação de campo e algumas propriedades vizinhas).
Área desmatada e vedada, localizada numa soalheira
De forma a avaliar o impacto dos diferentes agentes de remoção no stock de bolota, bem como alguns dos factores que o podem influenciar, delimitaram-se 24 áreas de 20 x 20m (Fig.1). Estas áreas incluem 3 replicados de cada uma das combinações de 3 factores: orientação da encosta (virada a Norte – úmbria - ou virada a Sul - soalheira), presença/ ausência de subcoberto arbustivo (mato, principalmente constituído por sargaço, Cistus salvifolius) e existência/inexistência de cerca que veda o acesso a ungulados. Durante o mês de Dezembro de 2005, foram marcados 187 pontos dentro de cada área, tendo sido em cada um disposta uma bolota à superfície, num total de 4476 frutos. Foram utilizadas bolotas de sobreiro, Q. suber, azinheira, Q. rotundifolia e carvalho-cerquinho, Q. faginea, produzidas na Herdade na época de 2005/2006. Após um mês, foi registada a remoção (ou não) de cada bolota, identificando-se o agente de remoção sempre que existissem indícios inequívocos (cascas roídas, marcas de cascos, fossadas, etc).
Fig. 1 - Localização da Herdade da Ribeira Abaixo e localização das áreas monitorizadas (cada quadrado corresponde ao conjunto de uma parcela vedada e do seu controlo, não vedado; a rosa – soalheiras; a verde – úmbrias).
Ao fim de 1 mês, a taxa de remoção de bolota foi muito elevada em quase todas as áreas e para todas as espécies de Quercus. De facto, a remoção de bolotas de azinheira e de carvalho-cerquinho foi de 100%, enquanto que a remoção de bolotas de sobreiro foi de 98%. Estas taxas muito elevadas foram também registadas dentro das áreas vedadas a ungulados, pelo que supomos que os outros agentes de remoção (mamíferos mais pequenos e/ou aves) deverão ter uma grande importância na Herdade.
No caso das bolotas de sobreiro, as poucas que não foram removidas encontraram-se nas áreas sem mato. A remoção quase total nas áreas com matos (sargaço com cerca de 50 cm de altura) é uma indicação do papel importante que deverão ter os roedores, mais abundantes nestas áreas, na sua remoção.