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Renoir, Pintor da Luz, da Felicidade e da Harmonia

João Bugalho

Pierre-Auguste Renoir foi um dos mais famosos pintores do movimento impressionista. Mestre na interpretação da luz e da cor na natureza, dizia que até os seres humanos pintava como frutos.

 “Uma manhã, um de nós esgotou a tinta preta; e foi o nascimento do impressionismo.”


P-A. Renoir

Pierre-Auguste Renoir nasceu em Limoges (França), em 1841. Viria a tornar-se um dos mais famosos pintores do movimento impressionista. A sua forma de ver, muito em particular a natureza, tornam-no inconfundível e a luz que se espalha pelos seus quadros constitui algo do mais bonito que desde sempre se pintou. Além do mais, produziu uma enorme quantidade de trabalhos, cerca de 6000, talvez a obra de maior vulto, a seguir à de Picasso. 
 
Renoir começou, com treze anos, como um pintor de porcelana numa fábrica de Paris, o que lhe deu grande experiência no trabalho com as cores e uma técnica muito aperfeiçoada. Desde cedo que o entusiasmaram os tons delicados e a força luminosa das cores. A mecanização do fabrico das porcelanas levou-o a ser dispensado deste trabalho, tendo-se dedicado então à pintura de leques e reposteiros. Aos 21 anos já possuía meios que lhe permitiram dedicar-se ao estudo da pintura. Em 1862 entrou na École des Beaux Arts. Ao mesmo tempo começou a frequentar as aulas de Gleyre, onde conheceu e se tornou grande amigo de Bazille, Sisley e Monet, todos participantes no importante movimento de renovação da pintura que então nascia. A sua relação com Monet foi particularmente importante e decisiva para o aparecimento do movimento “Impressionista”. Ambos defendiam que era muito importante pintar no exterior e interpretar as cores tal como estas podiam ser vistas na natureza. A interpretação das cores da sombra, do rico colorido desta e dos seus cambiantes com a hora do dia e com o reflexo das cores adjacentes, torna-se uma preocupação constante na sua pintura.

Mas para Renoir, apesar das dificuldades porque passava, pintar era sempre exprimir a beleza e a alegria proporcionada pelas cores. Quer para ele, quer para Monet, preocupava-lhes mais a falta de dinheiro para comprar as tintas do que o que lhes faltava para a comida. Escreveu um dia, cerca do ano de 1870 a Bazille: “Apesar de não comermos todos os dias, estamos de boa disposição” e nunca ninguém os viu pintar quadros que expressassem pessimismo ou depressão. 
 
A partir dos anos 80, sobretudo por mérito do galerista Paul Durand-Ruel, que o havia descoberto dez anos antes e farejara o seu talento, Renoir passa a vender regularmente os seus trabalhos e deixa de se debater com os problemas económicos. Em 1883, Ruel organiza uma exposição especial sobre Renoir. Mas é precisamente nessa época que se dá uma profunda modificação no trabalho do pintor, que considera que o impressionismo se está a esgotar, chegando a afirmar que tem de reaprender a pintar e a desenhar. Os impressionistas começam a ser acusados de apenas representar as aparências exteriores.

Entre 84 e 87 Renoir entrou num novo período que designou por “manière aigre”. “Os Guarda-Chuvas” marcam muito bem este período de mudança. Houve quem temesse que esta crise afectasse definitivamente o trabalho de Renoir. Os seus companheiros Monet, Degas e Pissarro sofriam crises semelhantes. Era a rotura com o impressionismo. O oitavo e último salão dos impressionistas deu-se em 1886, já sem a participação de Renoir.

Ao mesmo tempo, porém, Durand Ruel apresentou 32 quadros de Renoir em Nova York abrindo caminho para os impressionistas no mercado americano.

Entretanto a pintura de Pierre-Auguste vai-se modificando lentamente. Os seus temas favoritos deixam de ser as festas e as cenas da vida quotidiana e passam a ser mais universais. As figuras femininas ganham dimensões mais universais, por vezes mitológicas. As crianças são temas favoritos e pinta várias vezes a sua futura mulher e o filho mais velho, cujo nascimento foi já um pouco tardio. As naturezas mortas dão ao pintor um especial prazer e chega a afirmar que a pintar flores se atreve a experiências, inovações e aplicações de cores que nunca se atreveria na representação da figura humana, pelo medo de estragar a correcção desta. No entanto, a experiência apreendida na pintura das flores torna-se-lhe muito útil, posteriormente, na figura humana.

Nos últimos trinta anos da sua vida Renoir era plenamente reconhecido e a venda dos trabalhos garantia-lhe uma vida desafogada. Durante este período viajou mais, tomou contacto com a pintura italiana e espanhola e pintou com outros pintores seus contemporâneos, nomeadamente Cézanne que muito o admirava.

Em 1892 Durand-Ruel organizou nova exposição de Renoir, na qual expôs 110 quadros. Apesar da ainda grande relutância na aceitação dos impressionistas – que eram por vezes associados aos anarquistas – o Estado francês comprou nesta exposição, pela primeira vez, um quadro do pintor.


 
No final da década de 80 começa a ser atacado pelo reumatismo, que se vai acentuando até que, em 1910, cada vez mais magro, fica definitivamente preso a uma cadeira de rodas. A doença leva-o a escolher o Sul de França para viver e, em 1905, muda-se definitivamente para a Côte d’Azur. Nascera entretanto, em 1901, o seu terceiro filho, que lhe serviu frequentemente de modelo.

Em 1907 o Metropolitan Museum de Nova York compra num leilão o famoso retrato de “Madame Charpentier e as suas filhas”, pintado em 1878, quadro que na época em que Renoir era tão criticado teve a sua importância, já que Charpentier era um conhecido editor que acreditou no valor do pintor ao ponto de lhe encomendar o retrato da sua família. É também em 1907 que o pintor compra a quinta “Les Collettes”.

A partir de 1904 a doença começou a tornar-se insuportável, mas nem por isso Renoir deixa de pintar, chegando a um ponto em que lhe entalavam os pincéis entre os dedos, nas mãos ligadas. Apesar disso o pintor só interrompia o trabalho quando as dores lhe eram completamente intoleráveis. Chegou mesmo a tornar-se escultor sem poder utilizar as próprias mãos, dando indicações aos assistentes que iam moldando no barro, conforme as suas instruções. O espanhol Guino foi o seu mais dedicado assistente e interpretou de tal modo as instruções recebidas que é o traço de Renoir que ressalta das esculturas. 
 
Apesar da doença e do sofrimento nunca se deixou dominar pelo pessimismo ou pela tristeza. Renoir mostrou um grande desprezo pela estupidez da guerra, na qual ficaram feridos dois dos seus filhos. Um deles, Jean Renoir, veio a tornar-se famoso realizador de cinema e escreveu, em 1962, uma preciosa biografia sobre seu pai: “Renoir, mon pére”.

Renoir manteve sempre um intenso contacto com a natureza e mandou construir na sua casa de Cagnes um estúdio ao ar livre, onde pudesse observar a cor em todo o seu esplendor. No final da sua obra é especialmente impressionante a “festa” da luz, muito em particular a que envolve ricamente as figuras femininas, tema ainda predilecto, mas agora mais amadurecido e por isso mais universal. Gabrielle, que tomava conta do seu filho mais novo, tornou-se um modelo favorito e ficou por ele eternizada como um símbolo visual do feminino.

Em 1919 foi levado de cadeira de rodas a visitar o Louvre, onde viu um dos seus quadros ao lado de Veronese. Nesse ano, Pierre-Auguste Renoir comentava que ainda fazia progressos e chegou a afirmar então: “Creio que, aos poucos, começo a perceber disto”. Acometido em Novembro por uma pneumonia, veio a falecer em 3 de Dezembro e está sepultado em Essoyes, ao lado de Aline, sua mulher.

É considerado por muitos o pintor da luz, da felicidade e da harmonia.

 

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