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Poesia da Árvore

João Bugalho

As árvores e as florestas são frequentemente inspiração de poetas. Em 1979 foi publicada uma antologia poética sobre este tema, com belíssimos poemas alguns dos quais viemos aqui lembrar.

Nas Comemorações do Dia da Árvore de 1979, publicou-se uma antologia poética intitulada "Poesia da Árvore", que se deveu ao trabalho de compilação e recolha de textos do Eng. Silvicultor Resina Rodrigues e foi patrocinada pela Secretaria de Estado da Cultura, pelo Instituto dos Produtos Florestais e pelo Fundo de Fomento de Exportação. O prefácio esteve a cargo do Dr. Rafael Gomes Filipe. A tiragem foi de 10000 exemplares, muitos dos quais distribuídos na ocasião no enquadramento das comemorações. Daí que seja hoje pouco conhecida e julgo que se ainda houver alguns exemplares, serão poucos e estarão talvez à guarda da Direcção-Geral das Florestas. 
 
Pensámos pois que seria interessante nas comemorações deste ano, relembrar essa colectânea e e divulgar a sua existência àqueles que não a conhecem. Quem sabe se daqui surgirá um estímulo para que seja editada!

Trata-se de um livro de 97 páginas e inclui poemas de uma vasta lista de autores, tais como: D. Dinis, Camões, Frei Agostinho da Cruz, Marquesa de Alorna, Guerra Junqueiro, Conde de Monsaraz, Eugénio de Castro, António Ramos Rosa, Teixeira de Pascoaes, João de Barros, Fernado Pessoa, Florbela Espanca, Vitorino Nemésio, Francisco Bugalho, António Gedeâo, Miguel Torga, Sebastião da Gama, entre outros.

Caso se pense em fazer uma nova edição, talvez valesse a pena actualizá-la, incluindo poetas mais recentes.

É difícil destacar algum texto de entre tão notáveis autores. Porém para que o leitor possa ter algum prazer mais do que o do simples conhecimento da publicação, deixamos em seguida dois ou três excertos que estimulem a procura do livro ou impulsionem pressões para que se proceda a nova edição.


 
 
O livro termina com o poema "O Zambujeiro" de Sebastião da Gama:

Deus disse: "O Zambujeiro nasça".
Viril, rompeu da terra o Zambujeiro.
O tronco é o dum homem das montanhas.
São mãos de cavador seus ramos. Só as folhas,
Delicadas, suaves... Pela noita,
Quando tudo se cala, mesmo os pássaros,
O Zambujeiro canta...

(in Pelo Sonho é que vamos)

 

ou ainda de António Ramos Rosa:

ÁRVORE

Forço e quero ao fundo delicadamente
como subindo no sentido da seiva
espraiar-me nas folhas verdejantes,
espaçado vento repousando em taças,
mão que se alarga e espalma em verde lava,
tronco em movimento enraizado,
surto da terra, habitante do ar,
flexíveis palmas, movimentos, haustos,
verde unidade quase silenciosa.

(in Ocupação do Espaço)

 

ou do Diário de Miguel Torga:

A UM CARVALHO

Forte como um destino,
Calmo como um pastor,
A sarça ardente é quando o sol, a pino,
O inunda de seiva e de calor.

Barbas, rugas e veias
De gigante.
Mas, sobretudo, braços!
Longos e negros desmedidos traços,
Gestos solenes duma fé constante...

 

ou de Forbela Espanca:

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vêde:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!

(in Charneca em Flor)

 

É verdade. Já me esquecia de dizer que o livro abre com D.Dinis:

Ai, flores, ai, flores do verde pino...

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