Naturlink

Ficha da Rã-verde

Rui Braz

Seguramente já a viu nalgum charco, rio ou ribeiro. Distribuida por toda a Península Ibérica, com excepção de algumas áreas de montanha, a Rã-verde ou Rã-comum é a mais abundante das nossas espécies de anfíbios.

 

 

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

A Rã-verde ou Rã-comum, Rana perezi, é o anfíbio mais abundante e fácil de observar em Portugal. Geralmente não ultrapassa os 7 cm de comprimento. Possui olhos proeminentes, próximos entre si, com pupila horizontal. Os tímpanos, situados atrás dos olhos, são bem visíveis, o que a distingue da Rã-ibérica (R. ibérica). Os membros posteriores são compridos e com membrana interdigital bem desenvolvida. Distingue-se facilmente da Rã-de-focinho-ponteagudo (Discoglossos galganoi) porque os membros posteriores, quando esticados na direcção do focinho o ultrapassam. A coloração dorsal é esverdeada ou acastanhada (por vezes surgem exemplares muito escuros) com manchas escuras de disposição irregular. Tem duas pregas glandulares muito marcadas dorso-lateralmente e com frequência possui uma linha vertebral verde clara. Ventralmente é esbranquiçada com manchas cinzentas de tamanho variável.

Os machos apresentam um saco vocal externo de cor cinzenta. Quando o saco vocal não está insuflado, é fácil observar as pregas cutâneas de cada lado da boca. Os machos têm os membros anteriores proporcionalmente maiores, com ante-braços mais robustos. Na época de reprodução têm calosidades nupciais escuras na parte interna do 1º dedo. As fêmeas são em geral maiores que os machos. Os girinos desta espécie podem atingir 7 cm de comprimento mas ao eclodirem medem entre 4 a 6 mm. Têm espiráculo lateral. Superiormente são esverdeados com manchas ou pontos escuros. A cauda apresenta manchas ou linhas escuras bem visíveis e é afilada na extremidade.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

É a rã mais abundante e distribui-se por toda a Península Ibérica, excepto em altitudes superiores a 2000m, e no Sul de França.


ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Esta espécie faz parte do anexo III da Convenção de Berna. Em Portugal é considerada não ameaçada (NT).


FACTORES DE AMEAÇA

Actualmente não é considerada uma espécie ameaçada, porém a introdução de espécies exóticas predadoras ou competidoras poderá vir a afectar as suas populações.

HABITAT

As rãs estão sempre ligadas à presença de água que constitui o seu principal refúgio, podendo aparecer em qualquer tipo de corpo de água, desde áreas naturais a zonas fortemente humanizadas. Suportam bem a contaminação orgânica e baixa salinidade. Vivem tanto ao nível do mar como em zonas de montanha (até 2000 m).


ALIMENTAÇÃO

A sua dieta inclui diversos tipos de invertebrados tais como insectos, aracnídeos, moluscos e miriápodes. Também podem comer vertebrados como pequenos peixes e outros anfíbios. Conhecem-se alguns casos de canibalismo. Os girinos alimentam-se de algas e detritos.

INIMIGOS NATURAIS

Os adultos são predados por cobras (ex: cobras-de-escada, cobras-de-colar), mamíferos carnívoros (ex: lontra, toirão) e por várias aves como as garças, as cegonhas e as corujas. Para fugirem é usual saltarem para a água e esconderem-se no fundo. As larvas são predadas sobretudo por insectos aquáticos carnívoros, cobras-de-água e aves aquáticas.


REPRODUÇÃO

Em Portugal a época de reprodução ocorre, em geral, entre Março e Julho. Os machos atraem as fêmeas através do coachar (que se ouve a grandes distâncias) e abraçam-nas pelas costas (amplexo axilar). A fêmea deposita entre 800 e 10000 ovos em cachos soltos ou prende-os à vegetação. As larvas eclodem poucos dias após a postura e o seu desenvolvimento é lento. A maior parte das metamorfoses dão-se em Julho ou Agosto, mas são conhecidos casos em que os indivíduos passam o Inverno no estado larvar. A maturidade sexual é atingida aos 4 anos e podem atingir os 10 anos de vida.

 

ACTIVIDADE

No Inverno hibernam por um período de tempo variável, dependendo da região (nas zonas mais quentes da Península Ibérica, não chegam a hibernar). Estão activas tanto de dia como de noite. Em épocas de temperatura elevada podem enterrar-se na lama.


LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO

São facilmente observáveis em margens de rios, ribeiras, albufeiras e charcos, sobretudo em locais com grande exposição solar.

BIBLIOGRAFIA

Álvarez, J., A. Salvador, J. Martín e A. Gutiérrez (1991). Desarrollo larvario de la rana comúm (Rana perezi) en charcas temporales del NW de la península, Doñana. Acta Vertebrata, 18:123-132.

Arnold, E. N. e Burton (1987). Guia de campo de los reptiles y anfibios de Espanha y de Europa. OMEGA, Barcelona.

Barbadillo, L.J. (1987). La guia de INCAFO de los anfibios y reptiles de la Peninsula Iberica, Islas Baleares y Canarias. Madrid:INCAFO.

Rosa, H.D. e Crespo, E.G. (1998). La conservación de los anfibios y reptiles en Portugal. In: Distribución y biogeografia de los anfibios y reptiles en España y Portugal, edited by Pleguezuelos, J.M.Granada:Monográfica Tierras del Sur, Univ. de Granada, Asociación Herpetológica Española,p. 517-529.

Stebbins, R.C. e Cohen, N.W. (1995). A Natural History of Amphibians. Princeton, New Jersey:Princeton University Press.


Comentários