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Proteger a Terra conhecendo outros Planetas

Nuno Leitão

O conhecimento de outros planetas, principalmente quando nos referimos aos seus sistemas atmosféricos e geológicos, tem contribuído para a descoberta e compreensão de fenómenos prejudicais ao ambiente terrestre.

Desde a década de 60, que o Homem pôde aperceber-se de forma mais directa da fragilidade do nosso planeta azul com a sua fina atmosfera, devido às imagens e descrições trazidas pelos astronautas que começaram a orbitar a Terra. Essas primeiras missões espaciais foram essenciais para a sensibilização da Humanidade relativamente à protecção da Terra, mas também representaram o inicio de uma nova etapa para a investigação de sistemas extraterrestres, que continua a demonstrar o seu potencial para contribuir para a protecção da Terra.

O conhecimento dos outros planetas, trouxe grandes avanços no estudo de vulcões, no estudo dos sismos e para a meteorologia. Espera-se ainda uma revolução na biologia, enquanto aguardamos a descoberta de formas de vida extraterrestre que, caso ocorra, provavelmente trarão ao conhecimento diferentes sistemas bioquímicos, e como tal diferentes formas de possibilidades de vida.

Os planetas que conhecemos, para além da Terra, são adversos para a vida como a conhecemos. Os climas dos outros planetas representam situações que não são desejáveis para a Terra, mas que muitas vezes são possíveis de vir a ocorrer, principalmente com o impacto das actividades humanas, mas também como resultado possível de catástrofes naturais para as quais nos temos que precaver.

Os estudos de sistemas extra terrestres, têm possibilitado a descoberta de fenómenos críticos para a protecção do nosso planeta. Repare-se nos seguintes exemplos:

 

 

 

 

1º exemplo

Os clorofluorocarbonetos (CFC) são moléculas inertes (invulneráveis até atingirem a camada de Ozono) usadas como fluído de arrefecimento de frigoríficos e ar condicionado, como aerossol propulsor de desodorizantes, como embalagens leves para pronto-a-comer (fast food), entre outras. Quando estas moléculas chegam a camadas mais altas da atmosfera, são divididas pela radiação ultravioleta do sol, libertando-se átomos de Cloro que destroem as moléculas de Ozono. A camada de moléculas de ozono é protectora da superfície da Terra contra a radiação ultravioleta, sendo esta uma componente essencial que falta aos outros planetas do Sistema Solar, para que possam ser habitados, pelo menos no caso de Marte onde a ausência de moléculas orgânicas complexas é atribuída à falta de camada de Ozono. A radiação ultravioleta provoca cancro de pele e enfraquecimento do sistema imunitário ao homem, mas mais graves são os danos dos organismos fotossintéticos que são a base da cadeia alimentar na Terra.

Quem descobriu que os CFC eram responsáveis pela destruição da camada de Ozono, foram dois investigadores universitários (Sherwood Rowland e Mario Molina), que o fizeram por acaso, ao estudarem as constante de velocidade das reacções de átomos como o Cloro, com o apoio da NASA, enquanto procuravam entender a composição e funcionamento da atmosfera de Vénus que inclui Cloro e Flúor na sua constituição. Como havia disponibilidade de dados, dos estudos da química da atmosfera de Vénus, um grupo liderado por Michael McElroy pôde confirmar rapidamente a descoberta dos jovens universitários.

 

2º exemplo

O aquecimento global é consequência do aumento do efeito de estufa provocado principalmente pelo aumento de dióxido de carbono na atmosfera, devido à utilização de combustíveis fósseis. Outros gases como óxidos de azoto, metano e os CFC também contribuem para o efeito de estufa. Hoje tenta-se prever os efeitos do aumento de determinados constituintes, mas os modelos de previsão são complexos e estão muitas vezes sub-valorizados, devido a estarem ajustados às condições do clima actual. Estes modelos tornaram-se mais robustos com a sua aplicação aos sistemas atmosféricos de Vénus e de Marte. Apenas poderemos ter confiança nestes modelos se estes não falharem em atmosferas diferentes.

Os estudos do planeta Vénus têm servido de motor para o conhecimento do efeito de estufa. Vénus emite elevadas radiações devido às extremamente elevadas temperaturas da sua superfície, consequência de um poderoso efeito de estufa. Vénus é um planeta consideravelmente idêntico à Terra, mas com um efeito de estufa que leva a uma temperatura na sua superfície que derrete o Estanho e o Chumbo.

3º exemplo

Um fenómeno que já ocorreu na Terra em pequena extensão, devido a catástrofes naturais, é conhecido como "Inverno Nuclear" (escurecimento e arrefecimento, que ocorreria em termos globais após uma guerra nuclear desencadeada à escala planetária), e que se deve à libertação de grande quantidade de partículas para a atmosfera. A ocorrência de um "Inverno Nuclear" foi observado em Marte, com uma tempestade de poeira global. A superfície de Marte ficou com temperaturas mais frias do que na sua alta atmosfera.



A verificação deste fenómeno, levou à associação com os efeitos verificados pelos aerossóis vulcânicos na Terra, e ao estabelecimento de uma explicação possível para a extinção dos dinossauros associada à poeira de impacte de um grande meteorito. Um meteorito caído na Sibéria no início do século XX, levou a uma situação idêntica em menor escala daquela que terá provocado a extinção dos dinossauros, mas com fortes impactos, essencialmente na agricultura, em todo o planeta.

Este texto foi baseado em Carl Sagan (1994). O Ponto Azul Claro. Gradiva - Publicações, Lda.

 

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