Naturlink

Medronheiros e medronhos

Nuno Cruz António

O medronheiro é um arbusto ou pequena árvore de folha perene, que empresta cores e sabores aos matagais mediterrânicos. É particularmente conhecido pela aguardente de medronho preparada a partir dos seus frutos.

 

 

TAXONOMIA

O medronheiro (Arbutus unedo L.) pertence à família das Ericaceas, partilhando-a com as urzes (Erica sp.).


CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS

É um arbusto ou uma árvore de pequena dimensão. Pode atingir os 8 a 10 m de altura ainda que usualmente não ultrapasse os 5 m.

O tronco possui um ritidoma (casca) pardo-avermelhada ou pardo-acinzentada, delgada, gretada, muito escamosa, caduca em pequenas placas nos exemplares mais velhos.

A sua copa tem uma forma oval com ramos grossos.

As folhas são persistentes (existem folhas na copa durante todo o ano), grandes (medem 4 a 11 cm), com pecíolo curto, alternadas, coriáceas, glabras, lustrosas e verde-escuras na página superior e mais claras na página inferior, serrilhadas ou subinteiras. São muito parecidas com as do loureiro.

As flores são pequenas, com um cálice curto e corola gamopetala, urceolada, esverdeadas, reunidas em cachos (ramalhetes) compostos, terminais e pendentes. Debaixo do ovário, encontramos 10 estames inseridos num disco.

Os frutos são baciformes, globosos, granulosos ou eriçados na superfície, medem entre 20 a 25 mm, de cor avermelhada quando maduros, com sementes pequenas, angulares e de cor castanha.

Floresce no Outono ou no princípio do Inverno. A maturação dos frutos ocorre no Outono do ano procedente. É nesta época, devido ao facto de a floração e a maturação dos frutos do ano anterior ser simultânea, que o medronheiro se cobre de uma "veste" colorida de grande beleza. Nas suas cores podemos encontrar o verde brilhante das folhas, o branco das flores e os frutos que são inicialmente amarelos, tornando-se vermelhos com a sua maturação.

 

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

Distribui-se por uma vasta área na bacia mediterrânica, excepto na orla costeira do Sudoeste de Espanha e na área que vai desde Tunis até ao Sul da Turquia. A sua área de distribuição inclui também todo o território de Portugal continental, o Norte de Espanha, as regiões das Landes e da Bretanha em França e a zona ocidental da Irlanda.

No nosso país, as maiores manchas situam-se nas Serras de Monchique e do Caldeirão.


CONDIÇÕES AMBIENTAIS

É uma espécie que aparece consociada às Quercíneas, particularmente ao sobreiro e à azinheira, ocorrendo nos montados e em zonas de matos resultantes da sua degradação. Crescem tanto em solos ácidos como alcalinos mas preferem que sejam profundos e frescos. Aparecem até aos 1200 m de altitude. O seu clima favorito é suave e sem geadas fortes.


UTILIZAÇÕES

O medronheiro é explorado, sobretudo nas Serras de Monchique e do Caldeirão, para a produção de aguardente. Esta é chamada de "aguardente de medronho", um produto regional sempre apresentado com brio no cabaz dos produtos regionais do Algarve. A sua cultura esteve parada durante várias décadas, tendo ressurgido com o aumento da rendibilidade da actividade de produção desta aguardente. Para tal facto contribuiu a utilização de máquinas como as escavadoras (buldozers) que permitiram cortar os medronheiros pela sua base o que estimula a rebentação pela cepa (zona do caule junto ao solo que "sobrevive" ao corte). O pico de produção verifica-se no 3º ano da planta, mantendo-se a níveis economicamente viáveis durante mais 5 a 8 anos. Ao fim de 15-20 anos, torna-se necessário removê-los para que sejam substituídos. Esta remoção, realizada nos moldes acima explicados, ainda que seja rápida e pouco onerosa provoca o arrastamento das camadas superficiais do solo com a sua consequente maior susceptibilidade aos agentes erosivos.

A produção do medronheiro é, apesar de tudo, bastante irregular dado que está dependente de dois factores aleatórios, alheios a qualquer medida de gestão: as geadas e a existência de anos de safra e contra-safra (grande produção de fruto e baixa produção de fruto em anos sucessivos). Os medronhos (frutos) são destilados em alambique, sendo necessários 15 kg para produzir 15 l de aguardente.

 

As folhas e casca do medronheiro contêm taninos que são utilizados para curtir as peles e, na medicina popular, para curar as diarreias, as desinterias e as infecções urinárias.

A sua madeira constitui um excelente combustível sendo também boa para tornear.

CURIOSIDADES

Qual a origem das designações do género Arbutus? E do epíteto específico unedo ?
São ambas antigas denominações romanas nas quais Lineu se baseou para atribuir este nome à planta. O primeiro é o diminuitivo de arbor e significa arbusto. Alguns autores discordam e afirmam que a origem etimológica encontra-se no termo celta, arbois que significa áspero, rude, aludindo aos seus frutos.

A resposta à segunda pergunta pode ser encontrada no facto de os seus frutos, ainda que comestíveis, possuírem um sabor desagradável (quando verdes). Unedo significa "um e mais nenhum" e foi adoptado para esta espécie de modo a avisar os mais temerários que o desejem provar, de que não gostarão de repetir a experiência uma segunda vez.

Os medronhos são também famosos pela capacidade de provocar embriaguez e dor de cabeça a quem consome muitos, uma vez que quando maduros, possuem uma certa quantidade de álcool.

BIBLIOGRAFIA

Fabião, A. M. D. (1987). Árvores e florestas. Publicações Europa-América - Colecção Euroagro. Lisboa.

Polunin, O., Smythies, B. E. (1987). Flowers of South-West Europe - a field guide. Oxford University Press. Oxford.

Comentários