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Ficha do Musaranho-de-dentes-brancos

Hugo Costa

O Musaranho-de-dentes-brancos é um pequeno insectívoro solitário, que ocorre em todo o território continental nacional, ocupando habitats naturais, mas também ambientes humanizados, como jardins, zonas cultivadas e mesmo edifícios rurais.

 

 

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

O Musaranho-de-dentes-brancos (Crocidura russula) é um pequeno insectívoro pertencente à Família Soricidae. É também uma das espécies da Sub-família Crocidurinae, que se distinguem das espécies da Sub-família Soricinae por, ao contrário destas últimas, não possuírem as pontas dos dentes avermelhadas.

Possui focinho pontiagudo, orelhas pequenas e olhos diminutos. Geralmente o seu dorso apresenta uma coloração pardo-acinzentada, por vezes bastante avermelhada. A transição para o ventre, que é cinzento, é bastante suave. No Inverno, esta espécie costuma ser mais escura do que no resto do ano e os juvenis têm o corpo todo cinzento.

O comprimento do corpo e cabeça pode variar entre 5,1 e 8,6 cm e a cauda entre 2,4 e 5,0 cm. O seu peso varia entre 4,7 e 14,0 g.


DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

Distribui-se por todo o Paleárctico, incluindo o Norte de África. É considerado o musaranho mais comum da Península Ibérica. Ocorre em todo o território continental nacional, onde é muito abundante e com uma tendência populacional estável.

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Em Portugal, esta espécie tem o estatuto de “não ameaçada” (NT) e está incluída no Anexo III da Convenção de Berna (espécie parcialmente protegida, sujeita a regulamentação especial).


FACTORES DE AMEAÇA

É uma espécie abundante e não apresenta, actualmente, problemas de conservação. No entanto, devido à sua relação comensal com o homem, pode ser afectado pelo uso de insecticidas e outros químicos tóxicos.


HABITAT

É uma espécie generalista, ocupando uma grande variedade de ambientes. Está associada a montados de sobro e azinho, matagal mediterrânico, zonas de pastagem, zonas cultivadas (normalmente nos muros de pedra que rodeiam as propriedades), ecótonos (zonas de transição entre habitats) e, por vezes, a pinhais.

Frequentemente ocupa ambientes humanizados (especialmente durante o Inverno), estando associado a jardins, quintas e edifícios rurais ligados à agricultura ou exploração de gado. Geralmente ocorre abaixo dos 1000 m, mas em certos locais chega aos 2000 m.

ALIMENTAÇÃO

A dieta deste mamífero baseia-se em pequenos invertebrados (insectos, aracnídeos e minhocas) e, ocasionalmente, captura pequenos vertebrados, principalmente lagartos e roedores juvenis. Consome cerca de 48% do seu peso em comida, por dia.


INIMIGOS NATURAIS

É presa habitual das rapinas nocturnas e de carnívoros como a raposa (Vulpes vulpes), a geneta (Genetta genetta) e a doninha (Mustela nivalis).

REPRODUÇÃO

A sua actividade reprodutora ocorre entre Fevereiro e Novembro, mas na metade Sul da Península pode manter-se ao longo de todo o ano. Os machos podem alcançar a maturidade sexual aos 3 meses de idade e as fêmeas podem reproduzir-se no mesmo ano do seu nascimento.

Depois da cópula, macho e fêmea permanecem juntos, participando ambos na construção do ninho e, posteriormente, na criação da sua prole. A gestação dura entre 28 e 33 dias, nascendo normalmente 3 a 4 crias, que são desmamadas aos 20 ou 22 dias. Podem viver até 18 meses no seu estado selvagem.


MOVIMENTOS

Esta é uma espécie preferencialmente noctívaga, mas também pode estar activa durante o dia. Alterna períodos de actividade curtos (até 1 hora), com períodos de descanso (2 horas).

O musaranho-de-dentes-brancos é solitário, ocupando pequenas áreas vitais (75 a 395 m2), que se podem sobrepor. No Inverno estes territórios são ainda mais pequenos e, durante a época de reprodução, são compartilhados por macho e fêmea, que normalmente são muito agressivos para quaisquer intrusos.


CURIOSIDADES

Os indivíduos desta espécie exalam um forte odor (proveniente de glândulas que possuem nos flancos) e é provável que, por este motivo, determinados predadores evitem comê-los devido ao seu sabor desagradável.

A partir do 7º dia as crias já são capazes de se deslocar umas atrás das outras.

LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO

Devido ao seu reduzido tamanho e aos seus hábitos nocturnos, é bastante difícil de observar. Os indícios de presença são uma forma de detecção da sua ocorrência. As suas pegadas, de reduzidas dimensões (cerca de 0,5 cm de comprimento), são constituídas por cinco dedos e unhas bem marcadas. Por vezes é também possível detectar o rasto deixado pela cauda. Os dejectos são muito pequenos e encontram-se dispersos pelo seu território.

BIBLIOGRAFIA

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