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Ficha do Boto

Ana Martins

Pequenos, geralmente tímidos e esquivos, sozinhos ou em pequenos grupos, parecendo quase sempre ocupados e sem tempo para brincadeiras... assim são os nossos botos, animais enigmáticos, sobre os quais ainda pouco se sabe.

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

O Boto (Phocoena phocoena) é o cetáceo mais pequeno que ocorre no oceano Atlântico. Ao contrário de outras espécies, o tamanho médio das fêmeas é, em média, maior do que o dos machos. As dimensões de um boto adulto variam entre 140 e 150 cm de comprimento, no caso dos machos, e entre 150 e 170 cm, no caso das fêmeas. Na costa portuguesa alguns indivíduos chegam a ultrapassar os 2 metros. O seu peso pode variar entre 30 a 90 kg, dependendo da área geográfica. À nascença, as crias medem cerca de 75 cm e pesam entre 3 a 8 kg. Podem viver mais de 20 anos.

O corpo dos botos é robusto e arredondado. Tem uma coloração cinzenta escura no dorso, que se esbate até ao ventre, que é branco. As crias são normalmente mais claras que os adultos. A cabeça pequena, sem melão ou bico distinto, e a barbatana dorsal baixa e triangular são características que permitem distinguir os botos de outros pequenos cetáceos que ocorrem na costa portuguesa.

DISTRIBUIÇÃO E HABITAT

Os botos são cetáceos costeiros com uma distribuição em águas temperadas e subárticas do Atlântico Norte, Pacífico Norte e mares adjacentes. Ocorrem essencialmente na plataforma continental, em baías e em estuários, embora também possam ser avistados em águas profundas. Em Portugal, os botos distribuem-se ao longo de toda a costa continental, especialmente nas zonas Norte e Centro.

 

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

O estatuto de conservação do Boto a nível mundial, atribuído pela IUCN, é Vulnerável. Na Costa Portuguesa, o seu estatuto é Indeterminado.

Esta espécie encontra-se protegida pela Convenção de Berna (Anexo II) e figura no Anexo B-II da Directiva Habitats, tornando o boto numa Espécie de Interesse Comunitário, cuja conservação exige a designação de Zonas Especiais de Conservação.


FACTORES DE AMEAÇA

A captura acidental em redes e aparelhos de pesca, a depleção de populações de presas, a poluição e a perturbação humana são ameaças possíveis para os botos a nível mundial.

Embora esta espécie esteja ainda pouco estudada na Costa Portuguesa, pensa-se que a captura acidental em várias artes de pesca pode constituir uma ameaça a algumas das populações de botos aí existentes.

ALIMENTAÇÃO

Os botos têm uma taxa metabólica elevada e consomem diariamente cerca de 10% do seu peso, o que faz com que grande parte do seu tempo seja passado em actividades relacionadas com a alimentação. O regime alimentar destes predadores é essencialmente constituído por peixes, como o arenque, a sardinha, a faneca e a cavala, entre outros, podendo também consumir alguns cefalópodes, como a lula, e crustáceos.

 

REPRODUÇÃO

Os botos atingem a maturidade sexual por volta dos 3 a 4 anos de idade. Os acasalamentos decorrem de Junho a Outubro, com um máximo de frequência em Agosto. Após um período de gestação de cerca de 11 meses, os nascimentos ocorrem entre Abril e Agosto. Tal como acontece com outras espécies de cetáceos, os nascimentos ocorrem em águas mais profundas, em zonas afastadas da orla costeira. Após um período de aleitamento de cerca de 4 meses, as crias começam a ingerir alimentos sólidos.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Por serem animais difíceis de observar, não se conhece muito acerca da organização social dos botos. Ocorrem geralmente sozinhos ou em pequenos grupos. Muitos grupos são constituídos por mãe e cria. Ocasionalmente formam-se grupos de maiores dimensões, que podem mesmo atingir mais de 100 indivíduos. Pensa-se que estas grandes agregações estejam relacionadas com uma elevada densidade de presas ou com alguma actividade social.


LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO

Os botos são cetáceos difíceis de observar. Quando emergem, mostram apenas a barbatana dorsal e uma pequena parte do dorso. Saltos e outros tipos de acrobacias aéreas, comuns noutras espécies de cetáceos, são comportamentos raros nos botos. Como são uma espécie costeira, podem ser observados a partir de terra, com o auxílio de uns bons binóculos, ou a partir de embarcações. Na Costa Portuguesa, são avistados regularmente na desembocadura do Estuário do Sado e na região do Cabo Mondego (Figueira da Foz).

BIBLIOGRAFIA

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