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Montesinho: Barragens e estradas destroem valores naturais e afetam a integridade do parque

Quercus - Assoc. Nac. de Conservação da Natureza (01-09-2014)

A construção de barragens e de estradas está a destruir os valores naturais e a afetar a integridade do Parque Natural de Montesinho, alerta a Quercus ao assinalar-se o 35º aniversário desta Área Protegida.

No dia 30 de Agosto, comemorou-se o 35º aniversário da criação do Parque Natural de Montesinho. A Quercus, à semelhança do que tem feito para outras Áreas Protegidas faz uma retrospetiva do que foi feito de positivo e negativo neste Parque Natural e cria cenários com base na identificação de ameaças e de oportunidades.

O Parque Natural de Montesinho (PNM) foi criado em 1979, tendo em vista a preservação e conservação da riqueza natural e paisagística do maciço montanhoso de Montesinho - Coroa e dos terrenos adjacentes, abrangendo parte dos concelhos de Bragança e Vinhais.

A posição geográfica do sistema montanhoso, a amplitude das altitudes atingidas, a variedade geológica e geomorfológica e a atividade humana desenvolvida ao longo de séculos, são fatores que promoveram uma extraordinária diversidade de comunidades vegetais e espécies da flora e da fauna.

O bom estado de conservação dos ecossistemas e a extensão do Parque dão garantias de manutenção de populações viáveis de algumas espécies ameaçadas da flora e da fauna. O Lobo-ibérico possui aqui algumas alcateias, albergando cerca de 15% do efectivo populacional.

Devido às suas características, o Parque Natural de Montesinho foi inserido na Rede Natura 2000 através da criação do Sítio de Importância Comunitária e da Zona de Proteção Especial para Aves Selvagens “Montesinho - Nogueira”.

Contudo, nesta área protegida são diversos os factores que colocam em causa os objectivos propostos aquando da sua criação, sendo exemplo disso os impactes provocados pelas actividades humanas, nomeadamente, a implementação injustificada de infraestruturas como barragens - sendo o exemplo de Veiguinhas algo que não poderá repetir-se - e vias de comunicação, a exploração descontrolada e ilegal das massas minerais (rochas ornamentais e rocha rústicas) e a exploração inadequada dos recursos florestais com o corte e destruição dos bosques autóctones e da vegetação ribeirinha.

Verifica-se ainda o abandono de práticas agro-pecuárias tradicionais que beneficiam a manutenção de espécies/habitats relevantes, a recorrência de incêndios, a instalação de monoculturas de espécies de crescimento rápido, lixeiras clandestinas e construções de edifícios visualmente dissonantes das habitações tradicionais e a ausência de gestão e monitorização dos cursos de água e das comunidades naturais associadas.

O PNM é ainda afectado por vários factores de ameaça como a florestação de áreas naturais com resinosas e espécies exóticas em detrimento da promoção da regeneração natural, a introdução de espécies aquícolas exóticas, a elevada pressão cinegética e turística e também a crescente procura por este local para a prática de desportos motorizados.

Neste contexto, a Quercus volta a reiterar a necessidade de se aplicar medidas de gestão direccionadas para a preservação e recuperação dos valores naturais, tendo em conta a conservação dos habitats e espécies que ocorrem neste espaço natural.

Posto isto, é urgente condicionar a construção de infraestruturas como barragens, parques eólicos e a expansão dos aglomerados urbanos, a introdução de espécies exóticas e a exploração de recursos mineiros.

É importante criar um programa de conservação de recursos hídricos que inclua a recuperação da vegetação ripícola e o ordenamento e gestão dos recursos aquícolas, bem como um programa dirigido de incentivos às práticas agrícolas e silvícolas tradicionais que promovam a recuperação dos bosques autóctones e a pecuária extensiva.

Por fim, a Quercus considera indispensável que, para além da monitorização e vigilância das serras de Montesinho e Coroa em períodos de elevado risco de incêndio, deverão ser estruturadas e bem definidas acções de controle selectivo mecânico da vegetação arbustiva complementado por pastoreio.

Para avaliar a Área Protegida foi elaborado um quadro, que é colocado em baixo, com base numa análise que apresenta o diagnóstico (Forças e Fraquezas) e o prognóstico (Oportunidades e Ameaças).

 

*Escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico

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