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Cerca de 380 plantas ameaçadas e 24 extintas em Portugal Continental

Sociedade Portuguesa de Botânica (28-11-2018)

Perto de 380 plantas ameaçadas e 24 extintas em Portugal continental: resultados preliminares do projeto ‘Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental’, que está a ser desenvolvido pela Sociedade Portuguesa de Botânica e Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação - PHYTOS, em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

Os resultados da avaliação preliminar do risco de extinção de cerca de 630 plantas nativas da nossa flora, realizada no âmbito do projeto ‘Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental’, revelam que perto de 380 plantas se encontram atualmente ameaçadas e 24 plantas estarão já extintas em Portugal continental.

O processo de avaliação do risco de extinção das plantas foi efetuado de acordo com os critérios e as categorias da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da UICN, União Internacional para a Conservação da Natureza, que contempla 11 categorias de risco, entre as quais três categorias de ameaça – Vulnerável (VU), Em Perigo (EN) e Criticamente Em Perigo (CR) – num grau crescente de risco de extinção das espécies. Das 381 plantas que foram classificadas numa categoria de ameaça, 87 estão Criticamente Em Perigo (estando 14 delas sinalizadas como potencialmente extintas em Portugal continental), 142 encontram-se Em Perigo e 157 estão na categoria Vulnerável. Assinalam-se ainda 81 plantas Quase Ameaçadas (NT), estando próximas de poder enquadrar-se numa categoria de ameaça a curto ou médio prazo.

De entre as 87 plantas em risco de extinção extremamente elevado (CR) destaca-se, por exemplo, Onosma tricerosperma subsp. tricerosperma, uma planta que existe exclusivamente na região sul da Península Ibérica e que só recentemente foi descoberta em Portugal, na região de Beja, onde ocorre num habitat muito específico, associado a solos de gabro, uma rocha bastante rara no país. Existe apenas um único núcleo populacional desta planta em Portugal que contém somente 20 indivíduos e que se encontra sujeito a ameaças relacionadas com a atividade agrícola. O segundo núcleo conhecido foi destruído recentemente devido à instalação de um pomar, que provocou a destruição de uma grande área de habitat favorável à planta.

A expansão e intensificação agrícola é efetivamente uma das ameaças mais graves que recaem sobre a flora do nosso país, afetando quase um terço das plantas avaliadas no projeto. Esta ameaça assola sobretudo a flora arvense de sequeiro do Baixo Alentejo, onde os olivais tradicionais e outras culturas extensivas de sequeiro – habitat exclusivo de muitas plantas – estão a ser substituídos por culturas intensivas de regadio, a flora do litoral sudoeste onde prolifera a instalação de estufas, e a flora do oeste estremenho e do Algarve, onde tem aumentado o número de pomares em larga escala.

As profundas alterações no uso do solo que se verificaram ao longo do século XX associadas à expansão urbanística das principais cidades e à intensificação agrícola poderão ter estado aliás na origem da extinção de grande parte das 24 espécies avaliadas como extintas no projeto. É o caso das duas plantas endémicas de Portugal com distribuição restrita ao Baixo Alentejo – Armeria neglecta e Armeria arcuata – que foram classificadas como Extintas a nível global (EX), e de algumas das restantes 22 plantas avaliadas como Regionalmente Extintas (RE), que se encontram extintas em Portugal continental apesar de ainda sobreviverem noutras partes do mundo, como por exemplo Ononis hirta, que existiu nos arredores de Lisboa até 1946. Muitas delas eram plantas aquáticas ou ocorriam exclusivamente associadas a zonas húmidas, tendo desaparecido do nosso território provavelmente devido a pressões como a poluição da água, a drenagem, e a invasão por espécies exóticas, como é o caso de Epipactis palustris, uma orquídea que outrora habitava prados húmidos nas regiões do Douro e Beira Litoral.

Além destas, plantas como Avellara fistulosa e Reseda alba subsp. alba foram sinalizadas como potencialmente extintas em Portugal continental, uma vez que, apesar da prospeção dirigida de que foram alvo no âmbito do projeto, não foram encontradas nos seus locais de ocorrência histórica.

Mas nem tudo são más novidades. No âmbito dos trabalhos de campo realizados no segundo ano do projeto foram também descobertas três espécies novas para a flora de Portugal e algumas populações numerosas de plantas que se julgavam muito raras ou mesmo extintas no nosso país.

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O projeto ‘Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental’ começou em outubro de 2016 sob a coordenação da Sociedade Portuguesa de Botânica (SPBotânica) e da Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação (PHYTOS) em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), e decorrerá até junho de 2019, em resultado do prolongamento da sua data de conclusão, inicialmente prevista para setembro de 2018.

Salienta-se que a avaliação de cerca de 630 plantas no período de tempo tão limitado deste projeto só foi possível devido ao empenho da comunidade botânica portuguesa, com contribuições de mais de 90 colaboradores envolvidos em diversas tarefas, desde a recolha de informação sobre as plantas no campo e em Herbários até à revisão das avaliações produzidas. As fichas de avaliação das plantas encontram-se neste momento em fase de revisão, prevendo-se que estejam concluídas durante o primeiro trimestre de 2019.

O projeto culminará na publicação, em livro e suporte digital, da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, o documento de referência aguardado há mais de 20 anos que ajudará a definir as prioridades de conservação e que servirá de suporte às decisões políticas no âmbito da gestão e conservação da biodiversidade da flora em Portugal. A conferência para a apresentação pública dos resultados finais do projeto irá decorrer no dia 21 de maio de 2019, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Este projeto é cofinanciado pelo Fundo de Coesão da União Europeia através do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR-03-2215-FC-000013), pelo Fundo Ambiental e por fundos angariados pela Sociedade Portuguesa de Botânica, entidade beneficiária e responsável pela execução do projeto.
O acompanhamento do projeto poderá ser feito através do portal http://listavermelha-flora.pt/ e da página de Facebook https://www.facebook.com/ListaVermelhaFloraPT/.


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