Naturlink

Picadas e mordeduras de animais - como prevenir e tratar

Jorge Nunes (texto e fotografia)

No Verão todos os caminhos vão dar à praia ou ao campo possibilitando um contacto mais próximo com a natureza. Embora a maioria dos inusitados encontros com a nossa fauna constitua agradáveis memórias, não estamos livres de ser picados ou mordidos quando nos chegamos demasiado perto. Informe-se sobre os perigos e saiba como preveni-los.

O calor do Verão impele milhares de portugueses em direcção ao campo e atrai multidões para a orla marítima. As férias incitam aos corpos mais despidos, às t-shirts, aos tecidos finos e às sandálias, o que obviamente predispõe a uma maior probabilidade de se ser picado ou mordido por um dos muitos animais da nossa fauna. No entanto, não se pense que os bichos gostam de se cruzar connosco, pois, na verdade, tentam evitar-nos a todo o custo. Somos nós que habitualmente nos chegamos perto demais e os incomodamos com as nossas actividades de veraneio.

Ao contrário do que se poderia pensar, o perigo não vem dos grandes animais da nossa fauna, mas das pequenas criaturas que vivem ao nosso redor. A sua perigosidade advém principalmente dos seus arsenais químicos constituídos por substâncias venenosas, designadas toxinas. Embora, geralmente, as mordeduras e picadas de animais não passem de pequenos sustos e breves momentos de dor, podem trazer consequências mais graves, tais como a reacção anafilática (reacção alérgica do organismo ao veneno que pode pôr em risco as funções vitais, como a respiração e a circulação sanguínea). Estas situações são muito raras, ocorrendo, principalmente, em pessoas com saúde debilitada ou alérgicas e ainda em crianças e idosos. Nestes casos, após uma picada ou mordedura provocada por animais mais invulgares, é conveniente o aconselhamento médico, pois cada pessoa apresenta reacções distintas às diferentes toxinas. Para quaisquer esclarecimentos sobre picadas e mordeduras de animais o Sistema Nacional de Emergência Médica (INEM) disponibiliza o Centro de Informação Antivenenos, disponível 24 horas por dia, através do telefone 808 250 143 ou do número nacional de socorro 112.


Abelhas, vespas e outros insectos
 A ordem dos Himenópteros (insectos que possuem dois pares de asas membranosas) é uma das maiores da classe dos insectos. Na nossa fauna, os representantes deste grupo mais responsáveis por picadas a humanos são as abelhas e as vespas.

 A abelha possui um ferrão farpado ligado a três glândulas de veneno. Devido  ao facto de ser farpado, o ferrão fica preso à ferida após a picada e caso não seja retirado continuará a injectar veneno. Embora não sirva de grande consolo, fique a saber que devido ao facto da abelha ficar extirpada aquando da picada, geralmente, acaba por morrer, ou seja, só consegue utilizar o ferrão uma única vez para uma única picada.

 O veneno das abelhas é constituído por várias substâncias (apitoxina, histamina, serotonina, cininas, etc.). A quantidade de veneno injectado por uma única abelha é demasiado pequena para colocar em risco a vida de um ser humano, a não ser que provoque uma reacção anafilática, no entanto, picadas múltiplas, resultantes de um enxame, poderão inocular uma quantidade de veneno preocupante que pode causar reacções potencialmente mortais.

 A picada da abelha provoca uma dor intensa e leva à formação de um pequeno inchaço branco rodeado por uma zona avermelhada, que poderá evoluir para um edema local. Estes sinais vão-se desvanecendo um ou dois dias após a picada. No caso da vítima ser alérgica, a picada pode desencadear a acentuação da reacção local e reacções sistémicas graves, tais como: urticária generalizada, reacção asmática ou choque anafilático. As picadas de abelha na boca ou vias respiratórias superiores constituem sempre motivo de preocupação e de emergência médico-cirúrgica, devido ao facto do edema local poder obstruir as vias respiratórias e provocar asfixia.

 O tratamento de uma picada de abelha deve começar sempre por retirar o ferrão para evitar que ele continue a injectar o veneno. Deve seguir-se a desinfecção com um anti séptico, o controlo da dor com aplicação local de gelo e de compressas humedecidas de bicarbonato ou amónia para neutralizar o veneno de características ácidas. Por último, como terapêutica utilizam-se analgésicos e anti-histamínicos. As situações alérgicas e as picadas múltiplas devem ser sempre sujeitas a assistência médica.

 As vespas distinguem-se com facilidade da abelha devido à cor amarelada e às suas manchas negras nos segmentos abdominais da maioria das espécies. A vespa possui um ferrão sem farpelas pelo que não fica preso à vítima, o que lhe permite infligir picadas múltiplas. O veneno da vespa é diferente do de abelha e devido ao facto do ferrão não ficar na ferida é inoculado em pequena quantidade. No entanto, a picada de vespa pode originar infecções com mais facilidade, uma vez que o ferrão pode transportar agentes infecciosos em virtude das vespas se alimentarem de cadáveres em decomposição.

 A picada da vespa provoca dor intensa e origina edema e inflamação local que, se não forem tratados, podem persistir até 15 dias. O tratamento é similar ao da picada de abelha com duas pequenas diferenças: não é necessário retirar o ferrão e devido ao seu veneno ter características alcalinas, as compressas de bicarbonato são contra-indicadas, devendo ser substituídas por compressas embebidas em vinagre ou sumo de limão.

 

Uma simples picada de vespa ou abelha, para além da dor que provoca, pode acarretar também choque anafilático. Por este facto, as pessoas que possuem antecedentes alérgicos devem munir-se de “primeiros socorros” prescritos pelo médico e devem trazê-los sempre consigo, uma vez que a picada de um singela abelha ou de uma vespa pode acontecer nos locais mais inusitados.

 A ordem dos Dípteros (insectos que possuem um par de asas membranosas) inclui as moscas, os mosquitos e as melgas. As picadas de dípteros têm grande importância médica, não tanto pelas suas consequências directas, mas sobretudo pela possibilidade de transmissão de agentes infecciosos de que estes insectos possam ser vectores. Tendo em conta que os seus hábitos hematófagos tornam as suas picadas bastante frequentes é reconfortante saber que na nossa latitude a transmissão de doenças não é um problema. Geralmente as picadas das moscas e afins provocam apenas dor, podendo em alguns casos provocar inflamação local com formação de inchaço avermelhado e prurido intenso.

O tratamento das picadas de dípteros é relativamente simples uma vez que as suas consequências são limitadas e evoluem geralmente de forma rápida e favorável. A aplicação local de gelo, a lavagem com água corrente e a aplicação de uma loção calmante permitem diminuir a dor. Contudo, o melhor método para evitar as picadas consiste em utilizar cremes repelentes ou nebulizações das casas com insecticidas.

Aranhas, escorpiões e outros aracnídeos
Apesar de quase todas as aranhas produzirem venenos neurotóxicos, que afectam o sistema nervoso, ou necrosantes, que matam as células, a esmagadora maioria das espécies europeias não possui quelíceras (agulhas de veneno) suficientemente robustas para perfurar a pele humana. Por esta razão, as picadas de aranha são extremamente raras no nosso país.

Na opinião do Dr. Rogério Gonzaga, as aranhas capazes de picar o Homem, existentes em Portugal, são: a viúva negra europeia e a tarântula europeia. A viúva negra europeia deve o seu nome ao facto de matar o macho após a cópula. Tem o corpo com cerca de 1 cm de comprimento. É escura, com algumas linhas brancas e possui 13 manchas vermelhas vivas no abdómen. Só a fêmea parece ser perigosa para o Homem e a gravidade da sua picada varia com a estação do ano e com a sensibilidade da vítima. O veneno desta aranha é considerado mais tóxico do que o da maioria das serpentes venenosas. No entanto, devido às suas reduzidas dimensões e à ínfima quantidade de veneno que produz, só poderá existir perigo de morte em crianças com menos de 15 kg de peso.

A picada da viúva negra pode quase não ser sentida, embora na maioria dos casos exista alguma dor localizada. No local da picada notam-se geralmente dois pontos vermelhos e surge um edema. Dez a quinze minutos após a picada, aparecem os primeiros sintomas essencialmente neurotóxicos: agitação, abrandamento das frequências cardíaca e respiratória, cãibras musculares generalizadas, suores profusos, hipersalivação, etc. O tratamento consiste no repouso absoluto, na colocação de um garrote acima do local da picada e na administração de analgésicos (a colocação de um cubo de gelo sobre o local da picada permite aliviar a dor). Todas as vítimas deverão ser conduzidas à presença de um médico o mais rapidamente possível. Geralmente os vitimados começam a recuperar ao fim de 12 a 24 horas após a picada, acabando por curar-se em um ou dois dias.

A tarântula que se encontra em Portugal é uma aranha que não produz teia e que por isso mesmo se esconde nas cavidades naturais do terreno. As patas são robustas e peludas, apresentando o cefalotórax vermelho escuro, com bandas castanhas, e também peludo. O abdómen é acastanhado e apresenta manchas negras. Apesar do seu aspecto feroz não é agressiva. Com efeito, só pica quando é atacada e o seu veneno não é dos mais perigosos. Após a picada pode existir localmente dor não muito intensa, mas a ela se seguirá a formação de uma pequena acumulação de pus circunscrita que acabará em bolhas de água. Nessa altura, o membro já estará com edema. Esta lesão pode deixar uma ulceração profunda, com necrose e eventualmente gangrena ao fim de uma semana. A cura tardará, cerca de 6 a 8 semanas. Também neste caso, é aconselhável prestar à vítima, com a maior brevidade possível, assistência médica.

 

Diz quem já viveu a experiência que as picadas de escorpião são especialmente dolorosas. Poucos são os idosos das zonas rurais que nunca foram picados por um lacrau, designação popular por que é conhecido o escorpião em muitas regiões do nosso país, ou que não conhecem alguém que o tenha sido. Os mais velhos recordam-se bem dos tempos em que se acalmavam as dores com panaceias e mezinhas de confecção caseira e em que uma picada de escorpião significava para o seu portador vários dias de sofrimento, a não ser que, diz a crença popular, o lacrau fosse capturado e morto. É claro que não passa de mais uma convicção infundada que em nada contribui para o alívio das dores, embora a vingança tenha, ao que parece, um sabor agradável.

A gravidade da picada de escorpião depende de vários factores, tais como: a quantidade de veneno inoculado, a idade e peso da vítima, o local da picada, etc. No que respeita à quantidade de veneno, obviamente que quanto maior for a quantidade de veneno inoculado, mais graves serão as consequências. No que concerne à idade e ao peso da vítima, quanto menor a idade e o peso, maiores as preocupações, pois o veneno tenderá a ficar em concentrações muito maiores atendendo à menor massa corporal. Quanto ao local da picada, ele é geralmente circunscrito aos pés ou às mãos, pois as picadas costumam ocorrer quando se pisam os lacraus com os pés descalços ou se apertam inadvertidamente com as mãos. Nas plantas dos pés e nas palmas das mãos, devido à espessa camada epidérmica, a difusão do veneno é geralmente limitada, já o mesmo não acontece com outras zonas do corpo onde, apesar das picadas serem mais raras, inspiram cuidados muito maiores devido ao perigo de inoculação profunda do veneno.

Após a picada, os sinais no local podem ser quase imperceptíveis, mas a dor é muito intensa e o membro afectado tenderá a formar edema podendo até ficar temporariamente paralisado. Os sintomas são variados: ansiedade, arrepios, cãibras musculares e hipotensão. A dor manter-se-á várias horas, especialmente se o paciente não for medicado, e os sintomas podem manter-se durante vários dias, podendo os neurológicos persistir durante mais do que uma semana. O efeito do veneno geralmente não é fatal, excepto quando as vítimas são crianças em idade pré-escolar ou sofrem de hipersensibilidade.

O membro afectado deve ser imediatamente imobilizado e deve colocar-se um garrote na proximidade da picada. Para controlar a dor, sugere-se a aplicação de gelo ou de cloreto de etilo no local da picada, ou ainda, de compressas quentes embebidas numa solução de bicarbonato de sódio, para neutralizar o veneno. O acompanhamento médico deve fazer-se com a maior brevidade possível, principalmente quando se trata de crianças, que podem facilmente entrar em estado de choque.

 Das cerca de 800 espécies de carraças existentes em todo o mundo, cerca de uma dezena estão presentes em Portugal. As carraças adultas encontram-se mais activas na Primavera e no Outono. Para além de injectarem neurotóxinas aquando da sua picada, as carraças podem ser vectores de diferentes bactérias, tais como a Rickettsia, que causa a “febre da carraça” e a Borrelia, responsável pela “doença de Lyme”. A “febre da carraça” ou “febre dos fenos” resulta das infecções provocadas pelos microrganismos inoculados pela carraça e, se não for tratada, pode levar a afecções graves: articulares, neurológicas e cardíacas. Os primeiros sinais consistem no surgimento de uma grande mancha cutânea nas duas a três semanas posteriores à picada, acompanhada de febre, rigidez nas articulações e fadiga intensa. Caso ocorra picada de carraça, mantendo-se presa ao corpo durante um período superior a 24 horas, convém recorrer a acompanhamento médico para evitar a evolução da doença. As carraças podem também inocular uma forma benigna de tifo, designada por tularémia. Neste caso, a picada da carraça origina febre e manchas vermelhas, semelhantes às do sarampo, que surgem geralmente cerca de quinze dias após a picada. O acompanhamento médico e a utilização de antibióticos adequados costumam resolver o problema com alguma facilidade. Para nossa felicidade, nem todas as carraças são portadoras de bactérias e como tal nem sempre provocam doenças.

 A picada da carraça é indolor pelo que, após realizar um passeio no meio da vegetação, deve verificar-se a roupa e o corpo para despistar a eventual companhia de um destes parasitas. A carraça fixa-se no hospedeiro através da sua zona bucal (rostro), por onde suga o sangue. Tendo em conta que as carraças se fixam firmemente na pele, é conveniente evitar puxá-las, pois poderão partir-se e deixar o rostro preso à pele podendo originar infecções. Para desprender o parasita na sua totalidade, é preferível utilizar algodão embebido em éter, o que provoca a retracção do rostro e facilita sua remoção. O tratamento da picada faz-se essencialmente a nível local, através da utilização de pomadas.


Cobras e víboras
Das dez espécies de ofídios (cobras e víboras) existentes no nosso País apenas quatro merecem a nossa atenção. A principal razão para esta diminuta perigosidade dos ofídios portugueses explica-se pela ausência de dentes inoculadores de veneno, o que acontece com seis das espécies. Realmente, apenas quatro ofídios da fauna portuguesa têm capacidade de inocular veneno, dos quais dois (a cobra-rateira e a cobra-de-capuz), embora venenosos, não representam grande perigo devido aos seus dentes inoculadores de veneno se localizarem na região posterior dos maxilares superiores (só inoculando veneno ao engolir a presa). Assim, na realidade, restam apenas as duas espécies de víboras (a víbora-cornuda e a víbora-de-Seoane), uma vez que os seus dentes inoculadores de veneno são bastante eficazes na sua função tendo em conta que se localizam na região anterior dos maxilares superiores.

 Apesar da perigosidade da mordedura das víboras, convém lembrar que são répteis habitualmente pacíficos e que facilmente se distinguem das outras serpentes: possuem a cabeça triangular bem diferenciada do pescoço, a pupila vertical, a ausência de placas cefálicas (escamas de grandes dimensões presentes na parte superior da cabeça), uma linha dorsal escura em ziguezague, comprimento inferior a 70 cm, corpo robusto e cauda curta. Caso se cruze com algum réptil com estas característica, deve afastar-se para uma distância segura, por nenhum motivo deve tentar capturar o animal, ou pior ainda, matá-lo. Lembre-se que essa visão fugaz é um prémio da natureza, pois as víboras são animais raros e devem merecer o nosso respeito e protecção, pois só atacam e mordem se forem incomodadas.

 As víboras têm uma esparsa distribuição geográfica e surgem geralmente em terrenos rochosos e montanhosos, sendo a víbora-de-Seoane exclusiva de algumas regiões do Parque Nacional da Peneda-Gerês. As mordeduras dos ofídios ocorrem geralmente nos membros inferiores, pelo que é aconselhável, em zonas rochosas e montanhosas, utilizar calçado protector e calças grossas de modo evitar mordeduras acidentais.

Após a mordedura, o primeiro sintoma é a dor local, de início súbito e intensidade variável. O edema inicia-se rápida e progressivamente durante as 24 horas seguintes. Os sintomas gerais são habitualmente moderados: ansiedade, hipotensão, hipertermia, dores abdominais, náuseas, vómitos, diarreia nos casos mais graves e ocasionais alterações cardíacas. A evolução é habitualmente benigna, embora possa haver necrose da zona mordida e o edema possa demorar várias semanas a ser reabsorvido. A mordedura torna-se muito perigosa e preocupante se a vítima for uma criança ou se ocorrer em zonas do corpo mais sensíveis como o rosto e o pescoço. Nestes casos, o quadro clínico pode incluir diversas complicações.
 
Como tratamento inicial sugere-se o posicionamento da vítima em repouso, a lavagem imediata da ferida com água e a aplicação de gelo no local da mordedura para acalmar a dor. Uma das medidas clássicas é a colocação de um garrote próximo da mordedura, embora exista ainda alguma controvérsia sobre a eficácia desta prática. Após estes cuidados iniciais, deve providenciar-se o tratamento hospitalar, com a maior brevidade possível.

 Embora as pessoas em geral nutram pouca simpatia por estes magníficos animais rastejantes, convém dizer que os ofídios tudo farão para evitarem cruzar-se connosco. No entanto, dada a coabitação de algumas espécies com as construções humanas, é natural que ocorram alguns encontros inusitados, que se forem aproveitados para admirar a beleza destes animais, a distância segura, só deixarão boas recordações.


Peixes-aranha, rascassos e outros animais marinhos
 Os perigos de mordeduras e picadas provocadas por animais não acontecem apenas em terra firme. Dentro de água, nomeadamente no mar, corre-se sempre o risco de pisar onde não se devia. No litoral português não se encontram animais verdadeiramente perigosos, no entanto, as picadas dolorosas dos peixes-aranha, dos rascassos, dos ouriços-do-mar, das alforrecas, das moreias e das raias (estes últimos só constituem uma preocupação para os mergulhadores) podem exigir acompanhamento médico.

 Apesar da orla marítima não apresentar grande perigo, convém verificar onde põe os pés, designadamente em poças de água das zonas rochosas (onde se podem abrigar os ouriços-do-mar e os rascassos), evitar tocar em massas gelatinosas que podem conter alforrecas ou partes dos seus tentáculos e, em zonas onde sejam comuns as picadas de peixes-aranha, utilizar sandálias de plástico para evitar ser picado, uma vez que, neste caso, é impossível ver ou prever onde se esconde um eventual peixe.

 Quer os rascassos quer os peixes-aranha possuem espinhos venenosos nas suas barbatanas dorsais. Curiosamente as suas picadas não resultam do seu ataque, mas de serem pisados inadvertidamente. Os peixes-aranha surgem principalmente em praias arenosas, em águas pouco profundas, enterrados na areia. Picam, geralmente, nos pés quando são pisados e em casos muito excepcionais no abdómen das crianças, quando estas se deitam na água para chapinhar em pequenas poças de água. Os rascassos, por seu lado, são habitantes característicos das zonas rochosas, surgindo dissimulados entre a vegetação que atapeta as rochas imersas e as poças de água na maré baixa.

Para aliviar a dor provocada pela picada dos peixes-aranha pode recorrer-se ao calor, por imersão do membro afectado em água quente. É recomendável o uso de analgésicos e de anti sépticos.

Os crustáceos (caranguejos e afins) e polvos, podem também infligir mordeduras. Os ouriços-do-mar, completamente revestidos de espinhos, criam algumas situações muito desagradáveis a quem os pisa inadvertidamente. São necessárias longas horas de pinça na mão para se retirarem todos os espinhos. A aplicação local de vinagre dissolve os espinhos, o que poderá tornar este tratamento menos moroso.

As alforrecas e as caravelas-portuguesas constituem autênticas fortalezas revestidas pelos nematocistos (aparelhos de injecção de veneno). Tratam-se de colónias de animais, de aspecto gelatinoso, com forma semelhante a guarda-chuva, ou seja, com uma umbrela que serve de flutuador e a partir da qual pendem tentáculos em número e comprimento variável, consoante a espécie. Convém lembrar que mesmo depois de estarem nos areais inteiras ou fragmentadas, os fragmentos de tentáculos mantêm as suas capacidades urticantes e são tão perigosos quanto o indivíduo inteiro, pois os nematocistos permanecem activos durante muito tempo após a morte. Daí que, geralmente, os encontros inadvertidos com estes animais aconteçam nas praias quando tocamos ou pisamos as massas gelatinosas constituídas pelas alforrecas ou partes delas. O contacto com as alforrecas provoca geralmente dor, edema local, cãibras musculares e queimaduras dolorosas, de segundo grau, deixando flictenas (vesículas com líquido que caracterizam as queimaduras de 2º grau) na pele humana. O contacto com as alforrecas pode ser especialmente perigoso quando a vítima está a nadar num local sem pé, uma vez que a picada provoca uma sensação muito dolorosa de descarga eléctrica o que pode levar o nadador a entrar em pânico provocando afogamento. As lesões provocadas pelas vesículas saram em dois ou três dias, porém, nos casos mais graves, é possível que permaneçam cicatrizes por mais de um ano. Os sintomas são dor aguda, imediata e prurido persistente, apresentando como lesões os eritemas e as queimaduras, devendo proceder-se à remoção imediata dos fragmentos de tentáculos que fiquem presos à pele e ao tratamento, tão breve quanto possível, que consiste na aplicação de analgésico e anti-inflamatório sistémicos e na utilização local de creme gordo.

Informação útil:
Relembramos que para quaisquer esclarecimentos sobre picadas e mordeduras de animais poderá contactar o Centro de Informação Antivenenos disponível 24 horas por dia, através do telefone 808 250 143 ou do número nacional de socorro 112.

 

Leituras Adicionais

Escorpiões – animais enigmáticos

A verdadeira tarântula

Ficha da Víbora-cornuda

O outro lado da Praia

Documentos Recomendados

Animais peçonhentos (?!): pré-conceitos e relações com as pessoas – estudo realizado no Centro de Informações Toxicológicas de Santa Catarina

A Vacina do Sapo, toxinologia e o uso etnomédico de venenos animais

Comentários