Carlos Manuel Baeta Neves (1916-1992), Engº Silvicultor e Professor Catedrático do Instituto Superior de Agronomia, foi um vulto académico e um pioneiro nas questões de Conservação da Natureza em Portugal.
Carlos Baeta Neves nasceu em 31 de Julho de 1916, em Lisboa. Casou-se com Ana Maria, filha de. Mário de Azevedo Gomes, com quem teve 4 filhas, Anas todas elas. O Professor Azevedo Gomes teve certamente grande influência na perspectiva que Baeta Neves tinha da Silvicultura.
Terminada a sua preparação escolar e liceal, matriculou-se em 1933 no Instituto Superior de Agronomia em Lisboa, no Curso de Engenheiro Silvicultor, que terminou em 1938, apresentando uma tese sobre Entomologia Florestal. Em 1933, ainda como aluno, foi nomeado sub-inspector fitopatológico, passando mais tarde a inspector.
Em 1939 foi contratado pela Direcção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, tendo iniciado a sua actividade pela elaboração de planos de repovoamento florestal no norte do país.Em 1940 passou a chefiar a Secção Entomológica do Laboratório de Biologia Florestal da mesma Direcção Geral, onde se manteve até 1945. Simultaneamente frequentou na Universidade de Coimbra o Museu de Zoologia para obter uma especialização em Entomologia Florestal em sequência da qual se dedicou ao inventário e estudo das principais pragas florestais do Pinheiro Bravo, do Sobreiro e da Azinheira.
Em Janeiro de 1945 foi admitido como 2º Assistente do Instituto Superior de Agronomia, sendo-lhe entregue as regência das cadeiras de Entomologia Agrícola e de Entomologia Florestal, inaugurando a desta última, então criada por sua proposta.
Doutorou-se em 1951, apresentando uma tese sobre Entomologia Florestal, obtendo assim o título de Professor agregado. Em 1960, fez concurso para Professor Catedrático de Entomologia Agrícola, lugar que manteve até ser jubilado, em Julho de 1986, por ter atingido o limite de idade.
A sua preocupação ao longo de 45 anos de actividade profissional, 38 dos quais dedicados ao ensino, foi a de fazer escola dando início ao estudo, sob o ponto de vista ecológico, de assuntos a que não tinha ainda sido dada atenção em Portugal e cujo interesse profissional, científico e cultural há muito o justificava, como o caso das biocenoses das árvores de maior interesse económico em Portugal; da bioecologia e profilaxia de algumas das principais pragas; da utilização das aves na luta biológica; da fauna do solo; dos insectos prejudiciais às bibliotecas e arquivos; dos xilófagos marinhos; da utilização dos raios X para detecção e observação de ataques ocultos de insectos na madeira; dos insectos que atacam as árvores queimadas; dos aspectos ecológicos da protecção da Natureza e da evolução histórica e ecológica da fauna e flora florestais, particularmente no caso de Portugal continental. Procurou ainda contribuir para o desenvolvimento de estudos ligados aos diversos campos da Silvicultura. Paralelamente, dedicou-se ao desenvolvimento de estudos de algumas das principais pragas agrícolas, em especial dos produtos agrícolas secos e armazenados.
Carlos Baeta Neves publicou cerca de 200 trabalhos de carácter científico e cerca de 850 de divulgação, sempre sobre os temas de Silvicultura, Entomologia Florestal, Cinegética e História Florestal, Aquícola e Cinegética. Iniciou tantas linhas de investigação científica e apoiou tantos jovens investigadores, que até houve quem lhe desse o cognome de "o abre-portas".
Ao longo da sua actividade profissional, realizou oficialmente diversas viagens de estudo na Europa, nos Estados Unidos e em África.
Integrou o grupo, reunido por sua iniciativa, que fundou a Liga para a Protecção da Natureza. Fez ainda parte de inúmeras academias científicas e culturais nacionais e estrangeiras.
Recebeu em 1989 o prémio "Johann Wolfgang von Goethe", atribuído a quem mais se distinguisse na defesa da Natureza e da paisagem na Europa. Foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública em 1990 e com a Grã-Cruz de Mérito Agrícola e Industrial (Classe de Mérito Agrícola) em 1991.
Faleceu na Parede em 2 de Julho de 1992.