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Ecologia do Texugo em Montados de Sobro na Serra de Grândola

Miguel Rosalino e Filipa Loureiro

O texugo é um carnívoro de médio porte, bem distribuído pelo território nacional. Conheça o 1º projecto nacional que estuda, detalhadamente, como é que este predador vive em montados de sobro do Sul.

O texugo euroasiático (Meles meles) é um carnívoro de médio porte que está distribuído, de uma forma generalizada, pelo território nacional. É uma espécie de hábitos discretos e nocturnos que vive em grupos sociais, constituídos por vários indivíduos (2 a 35) que ocupam um território comum.

No Norte da Europa alimenta-se quase exclusivamente de minhocas, mas em zonas mediterrânicas (Espanha e Itália) este predador mostra preferência por frutos e insectos. Num caso muito particular (Parque Nacional de Doñana - Espanha) o texugo alimenta-se preferencialmente de coelhos, mas este facto poderá estar relacionado com a elevada abundância local desta presa.



Pelo facto de, por um lado, a maioria dos estudos acerca desta espécie terem sido realizados com populações do Norte da Europa e, por outro, haver um total desconhecimento do modo como o texugo se adaptou a habitats tipicamente mediterrânicos (montados de sobro) existentes em Portugal, surgiu a necessidade de implementar um projecto que desse resposta a estas questões.

Serra de Grândola

Este projecto está a ser desenvolvido na Serra de Grândola, uma das zonas de sobreiral mais extensas da Europa, e pretende avaliar a dieta, a estrutura social (nº de indivíduos por grupo, relações entre eles, etc.), a dimensão dos territórios, o padrão de actividade (períodos de actividade e repouso) e o estado de saúde (parasitas externos e internos) da população aí residente.

Dieta

Para determinar qual a dieta deste predador têm-se recolhido quinzenalmente dejectos de texugo encontrados em latrinas (locais revisitados com frequência pelos animais para deposição das fezes e marcação odorífera). Estes são trazidos para o laboratório e, posteriormente, analisados. A partir desta análise, é possível separar os restos não digeridos e identificar os alimentos consumidos.

Estrutura social, território e actividade

Neste momento, está a efectuar-se uma campanha de armadilhagem que visa capturar e marcar o maior número possível de indivíduos, por forma a avaliar, entre outros parâmetros, o tamanho dos grupos sociais e da população existente na área de estudo e a razão entre sexos (sex-ratio).


Em 5 dos indivíduos capturados foram colocados colares radio-transmissores que emitem um sinal que permite localizar o animal. Esta localização obtém-se cruzando duas ou mais direcções (nas quais se consegue ouvir o sinal com maior intensidade), obtidas a partir de pontos de localização conhecida. Esta técnica denomina-se “triangulação”. Estes animais estão a ser monitorizados por forma a avaliar quais as áreas que frequentam para, por um lado, conseguirmos delimitar os territórios e, por outro, tentar relacionar o uso de determinada área com as preferências alimentares da espécie na Serra de Grândola. Estes radio-transmissores contêm um sensor de actividade que permite saber em que altura do dia os indivíduos se encontram activos e qual é o seu padrão de actividade ao longo do ano.

Estado de saúde

Dos indivíduos capturados são retiradas todas as pulgas e carraças, para identificação das espécies a que pertencem e avaliação do estado sanitário do animal hospedeiro.

Aquando da recolha dos dejectos, é colhida uma pequena amostra daqueles que aparentam ser frescos (não mais de 2 dias) para análise parasitológica, nomeadamente pesquisa de parasitas internos (por ex: lombrigas).

Contamos apresentar mais informação e resultados deste projecto brevemente.

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