Cézanne e a Natureza

João Bugalho
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Nos dez anos que se seguem intensifica os contactos com Pissarro, Monet e Renoir, enquanto que as relações com Zola são mais raras e difíceis, vindo a romper-se definitivamente em 1886. É também então que lhe morre o pai, com o qual teve sempre relações muito tensas. Recebe por isso uma herança que lhe permite viver com menos cuidados que quase todos os outros pintores da sua época. A paisagem, bem como as naturezas mortas, constituem cada vez mais o tema principal dos seus quadros.


O pintor de Aix parece ter-se encontrado consigo próprio. A marca definitiva, tão pessoal, da sua pintura é cada vez mais clara. São desta época várias paisagens da sua propriedade de Jas de Bouffan e "Le grand Pin" de cujo fundo ressalta a montanha de Sainte-Victoire. Esta constituirá aliás, a partir de então, um tema previlegiado, quase obsessivo, das suas telas e será repetido até ao final da vida. Pintou trinta óleos e quarenta e cinco aguarelas desta montanha, parecendo que ele próprio se identifica com ela, descobrindo-se a si próprio através da interpretação desta beleza da natureza provençal.


"A arte é uma harmonia paralela à natureza" , disse o pintor.


No final da década de 80, Cézanne expõe com mais regularidade. Os seus quadros começam a ter compradores e a crítica é-lhe mais favorável. Alguns dos mais famosos pintores seus contemporâneos (Renoir, Pissarro, Monet, Degas) tecem-lhe grandes elogios. Em meados da década de 90 os seus quadros já atingem bons preços. No final do século, os coleccionadores começam a procurar-lhe as obras. Em 1900 é apresentada a sua primeira exposição na Alemanha.

Em 1904 começa a pintar "Les grandes baigneuses", óleo sobre tela com 126x196, que virá a imortalizá-lo. Neste, a composição das figuras femininas integra-as, harmoniza-as com a paisagem circundante. O ser humano e a natureza surgem profundamente interligados num grande equilíbrio, numa perfeita harmonia que parecia procurada desde sempre. Produto da visão estética, da análise e interpretação das cores e do sábio uso destas em gradações subtis, mais do que do raciocínio. Como se diria hoje, talvez o domínio da emoção sobre a inteligência.Já plenamente reconhecido como um grande mestre, vem a morrer em 22 de Outubro de 1906.

Em 1907 é apresentada no Salão de Outono uma grande retrospectiva da sua obra com cinquenta e seis telas. Daí em diante, passa a ser considerado como um dos mais importantes expoentes da pintura.

"Quis copiar a Natureza e não consegui. Mas fiquei contente comigo próprio, quando descobri que, por exemplo, não é fácil reproduzir o sol, que é necessário dar-lhe expressão de qualquer outra forma...pela cor."


PAUL CÉZANNE

(Texto baseado em "Cézanne" 1999, de Hajo Düchting, Ed. Taschen)

 

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