Os animais e a pintura romântica de Tomás da Anunciação

José Marmeleira - ArtLink
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Cada vez mais reconhecido no meio artístico nacional, Tomás da Anunciação funda em 1862 a Sociedade Promotora de Belas-artes fomentando exposições e três anos depois vence a medalha de honra na exposição individual do Porto. É neste período que apresenta uma das suas obras menos devedoras dos temas animalistas: Caminho da Mata/Sintra (1865), uma pintura de contornos quase fantásticos que descreve um pequeno recanto da Serra de Sintra, no qual a força da paisagem enquadra duas pequenas figuras humanas que surgem como pontos cromáticos no seio da estrutura da tela. Aqui, Tomás da Anunciação dá primazia à plasticidade da paisagem e através de uma especial atenção dada à luz cria uma cenografia para as figuras. O romantismo do artista não se ficava só pela representação dos costumes e na apreensão individual da natureza, mas numa dramatização de um momento que os nossos sentidos não poderiam apreender.


Vista da Penha de França,
1857, © MNAC

Anos depois realiza a sua primeira visita a Paris por ocasião de uma exposição internacional e vê de perto obras de mestres paisagistas e animalistas como Palizzi, Claude Lorrain, Constable, Rousseau e os pintores de Barbizon. Alguns críticos não hesitam em afirmar que a sua pintura conheceria a partir deste momento um novo fôlego. De regresso a Portugal percorre os campos e arrabaldes de Lisboa, Bucelas e Sintra onde toma notas, completa esboços e traça cenários que depois finaliza em pinturas no sossego do atelier onde cria as atmosferas melancólicas das suas paisagens ou representa o seu tema maior: os animais.

Uma das suas últimas obras maiores mostra exactamente um vitelo (O Vitelo, 1873) e evidencia já uma outra forma de abordar as cores sugerindo uma proximidade com o realismo (abrindo terreno para pintores como Miguel Ângelo Lupi), mesmo quando nos deixa imaginar o animal – só, a olhar para algo que está para além da tela – como a personagem de um qualquer conto. Em 1874, a sua saúde deteriora-se mas nem por isso deixa de incentivar os seus alunos a passear pelo campo ou a estudar ao vivo os animais. Nos últimos anos da sua vida, torna-se professor de pintura da Rainha Dona Maria Pia e director da Academia.

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