Os animais e a pintura romântica de Tomás da Anunciação

José Marmeleira - ArtLink
Imprimir
Texto A A A
 

Flores, frutos, peças de caça e finalmente animais. Estes começarão por ser os objectos do seu olhar romântico; olhar romântico, diga-se, bem mais sereno que aquele que os seus colegas alemãs, franceses ou ingleses, na mesma altura, exibiam perante o mundo. O pintor português optaria por um traço que, sendo vigoroso, estava longe de ser consumido por uma paixão perigosa ou um ideal absoluto. O romantismo, mais do que no espírito dos homens, devia ser procurado na natureza. Assim, e na companhia de vários colegas, acabaria por protestar contra os métodos vigentes no ensino, recusando a “prisão” das salas de aula e ateliers, e defendendo a prática da pintura ao livre.

Economicamente impossibilitando de viajar para o estrangeiro, Tomás da Anunciação vai localizando as suas referências à volta de pintores franceses dos finais do século XVIIII como Guillard ou Pillement (do período Rococo), cujos quadros, de paisagens animadas por animais, tinha a oportunidade de apreciar de perto nas casas dos coleccionadores. O seu conhecimento era, pois, diferido e atrasado, e só estimulado quando colegas regressados de Paris lhe comunicavam as novidades.


O Sendeiro
1856, © MNAC

Apesar de distante da pintura internacional, a sua obra foi suscitando em Portugal o interesse de cada vez mais compradores. Em 1852, passa a leccionar na Academia a nova cadeira de Pintura de Paisagem, Animais e Produtos Naturais. A sua candidatura é aceite depois de mostrar as obras Vista Tirada do Sítio da Amora, uma composição de nome Flores e um estudo de Uma Árvore , trabalhos onde o registo copista tendia a desaparecer e a presença humana na tela apenas se intuía pelo ao vislumbrar, ao longe, de habitações.

Em 1856, organiza uma exposição colectiva ao lado de Metrass, Cristino, Anastácio Rosa, entre outros nomes, na qual exibe oito pinturas e duas água-fortes. O famoso quadro O Sendeiro é um deles: uma criança descansa (ou dorme) junto a diferentes animais que o parecem velar. Há uma eventual conotação religiosa nesta cena, mas o que parece de facto sobressair é a possível humanidade dos animais. Na sua simplicidade, esta pintura permite que nos aproximemos do mundo das fábulas de La Fontaine ou Perraux, como para aliás também o quadro Vista de Penha de França, com o qual em 1857 assumiria as funções de professor catedrático, parece apontar: uma paisagem serve de fundo a uma cena bucólica representada por animais resguardados por árvores. Esta serenidade só é contrariada pela introdução de uma tímida figura humana e ao longe da entrada de uma vila.

Comentários

Newsletter