Silva Porto e a Natureza: um olhar entre o realismo e o naturalismo

José Marmeleira - Artlink
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Em Portugal, não existia uma tradição pictórica da paisagem pelo que a sua obra (associada a uma novidade estética) foi muito bem recebida. A inovação do ar-livrismo era um contraponto ao habitual transporte de elementos da natureza para o atelier (que caracterizava o romantismo) e a introdução de uma expressão contemplativa da natureza despojava esta de quaisquer adereços desnecessários.


No Areinho, Douro
c.1880, óleo sobre madeira
37,4 x 56 cm
Museu Nacional de Soares dos Reis
Porto, Portugal

Tal como Silva Porto, muitos dos autores que apoiariam o seu percurso haviam crescido no campo (Teixeira de Queirós, Abel Botelho Lourenço Pinto, Júlio Dinis e Ramalho Ortigão, por exemplo) e viam na sua pintura a resistência a um futuro ambíguo e ameaçador. O campo, as paisagens, a lavoura, os animais e a natureza pintados nas telas ofereciam uma segurança douradora e garantida. Influenciado pelas heranças do classicismo, e de um certo romantismo, a obra de Silva Porto acabou por corresponder, ainda que de forma involuntária, a estas expectativas.

De início marcado por uma certa rigidez, o traço do pintor rapidamente se deixou envolver pela presença da natureza onde árvores e florestas o libertavam para uma postura humilde e contemplativa. O reencontro com a paisagem portuguesa veio também possibilitar-lhe inovações de ordem cromática, sublinhando a presença da luz (Charneca de Belas ao pôr do Sol), de novos registos animalistas (Os Bois), ou de aproximações ao impressionismo que não se repetiriam (No Areinho, Douro).


Colheita - Ceifeiras
c. 1893, óleo sobre tela
90,5 x 120,3 cm
Museu Nacional de Soares dos Reis
Porto, Portugal

Interessado nas realidades locais e seus costumes, Silva Porto percorre aldeias, bosques, povoações, ribeiros e rios captando, momentos e gestos de uma relação simples, e não conflituosa, entre o Homem e Natureza. Em 1886 expõe um dos seus quadros mais famosos: A Volta do Mercado, obra que retrata a viagem de regresso de uma família saloia a casa. Plena de pormenores, sincera, colorida de uma forma que se queria fiel ao testemunho, esta pintura mostrava a figura humana destituída de qualquer inquietação ou atrevimento. Outros motivos se seguiram revelando progressos técnicos. As margens dos rios, como lugares de trabalho ou contemplação, os costumes das gentes (minhotas e campinos) e as suas tarefas tornam-se temas recorrentes.

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