J.M.W. Turner, o grande pintor do Mar

José Marmeleira - ARTLINK
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Turner foi um dos pintores mais importantes da sua geração, tendo o seu trabalho precedido as aventuras dos impressionistas. Foi também um homem do Mar, na condição de marinheiro, homem contemplativo e criador.

O mar sempre provocou nos artistas um encantamento especial. A sua dimensão mítica e fantástica, a sua natureza monocromática mas também a sua imagem realista marcaram gerações de pintores e correntes estéticas ao longo dos séculos, desde o neo-classicismo até ao minimalismo passando pela pintura naturalista e o impressionismo.

O Mar como um dos elementos da natureza encontra-se assim associado ao gesto expressivo do Homem, cujo imaginário alimentou ao longo dos tempos. Foram vários os criadores que se deixaram arrebatar pela sua força primitiva mas poucos conseguiram capturar a sua essência para depois a representar no centro de uma moldura.


1. The Decline of the Carthaginian Empire
Óleo sobre tela, 170,2 x 238,8 mm

De entre esse pequeno grupo de usurpadores da natureza, um se destacou pelas suas aguarelas, óleos e desenhos: J.M.W. Turner.

Pintor londrino, que assistiu ao apogeu do domínio britânico nos oceanos do século XIX, Turner terá sido especialmente influenciado durante a sua infância pela paleta cromática das margens do Tamisa antes de, já na adolescência, ter experimentando a aventura da profissão de marinheiro e com outros artistas ter viajado pela costa inglesa em busca de paisagens que pudesse desenhar.

Foram estas últimas incursões que determinaram o seu interesse pelos temas marítimos com os quais iniciou a sua carreira como pintor. A obra que desde logo o destacou chamava-se Pescadores no Mar e nela já o tratamento da luz evidenciava alguma audácia e virtuosismo.


2. Fishermen at sea
Óleo sobre tela, 91,4 x 122,2 mm

Seriam necessários, contudo, vários anos para que o artista superasse as influências exteriores e deixasse para trás alguns dos estereótipos da pintura marítima mais convencional. Tal aconteceu abordando temas como os naufrágios e as tempestades através de um uso mais arriscado da tinta, ora com a espátula, ora com o pincel. Apesar da incompreensão de alguns críticos, pouco habituados a uma dimensão que começava a apelar a leituras metafóricas, Turner prosseguiu o seu trabalho de forma solitária tendo diante de si apenas o mar. E este tomava duas identidades: era um lugar de lutas, ascensões e quedas dos e entre os homens, como assim o atesta a série O Declínio do Império Cartaginês, e um mundo ameaçador e primitivo (sublinhado pelo ênfase dado às cores escuras e violentas das águas e do céu).

 

Não era, porém, só a superfície do mar que interessava ao pintor. Aquilo que nele vivia, também foi objecto dos seus quadros. Peixes e crustáceos surgiam individualizados em várias obras como símbolos de uma beleza estética, mas também de vivências das populações costeiras.


3. The Grand Canal, Venice
Óleo sobre tela 91,4 x 122,2 cm

Outras das características de Turner tinha a ver com o facto de não raras vezes dispensar um cartografar rígido da paisagem. Muitas das suas pinturas marítimas foram feitas em pleno campo, impulsionadas por um misto de imaginação e técnica. Como se as imagens caíssem naturalmente dos movimentos da mão em direcção à tela. Este talento serviria de inspiração a muitos pintores românticos alemães e franceses, ensinando-lhes o valor da contemplação e o modo como esta pode ser transposta para o espírito criador. Em causa estava pois a necessidade de uma investigação empírica. Se necessário, o artista devia entregar-se ao seu objecto, seduzi-lo antes de o enredar num gesto. Turner fê-lo como marinheiro e artista.

Muitas das imagens que a sua visão apreendeu, a sua pintura não conseguiu mostrar. A intangibilidade do mar nem tudo deixava aprisionar pelo que não nos surpreende o espanto que sentiu quando viu a primeira imagem fotográfica do mar. O tempo não permitiu contudo a Turner mais experiências. Ficaram as cores da infinitude do mar e da sua arte. E uma influência decisiva nos impressionistas e nos olhares destes sobre a natureza.


4. The Lake of Zug, 1843
Aguarela e guache sobre grafite em papel; 29,8 x 46,6 cm

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