A propósito de Almada Negreiros, jardins e crianças

João Bugalho
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Por isso o transcrevemos, deixando que o leitor o saboreie:

A flôr 
 
Pede-se a uma criança. Desenhe uma flôr! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há ninguém.

Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu.

Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.

Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flôr!

As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flôr!

Contudo, a palavra flôr andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flôr, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flôr!
 
Almada Negreiros
A Invenção do Dia Claro

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