Um modo de discorrer sobre o Espírito de Sintra

Maria Júdice Borralho
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Incorpóreo mas real, simultaneamente inconfundível e vago, o espírito de cada lugar resultará de uma complexa teia que o Tempo, a Terra e o Homem engenhosamente vêm tecendo. Há lugares que têm espírito e Sintra é um deles.

Para sentir o espírito de um lugar ou reflectir sobre ele, não há como conhecer-lhe a história, isto é, saber como o local foi outrora. Incorpóreo mas real, simultaneamente inconfundível e vago, o espírito de cada lugar resultará de uma complexa teia que o Tempo, a Terra e o Homem, engenhosamente vêm tecendo.


O Tempo, labirinto de sentidos, é enigmático para o filósofo, aquilo que sabemos quando ninguém no-lo pergunta mas não sabemos quando o pretendemos explicar (1), simplificado por Fernando Pessoa, O presente é todo o passado e todo o futuro, simbiótico no 1º acto do Parsifal, Vê meu filho, aqui o espaço e o tempo se confundem, premonitório para Jesus de Nazaré, Não conheceis os sinais dos tempos?. 
 
A Terra é a morada comum.


O Homem, é o ser da constante dedicação à busca do alimento, da sexualidade e do trabalho mas, se movido por irresistível vontade de indagar, descobre um universo de raros fenómenos, para lá do metabolismo e da reprodução. Vive então a aventura de contemplar, de pensar, de criar.


O Tempo, a Terra e o Homem serão os criadores do espírito de um lugar.


Pascal considera o género humano um mesmo homem que subsiste e aprende continuamente, qual processo interminável e laborioso que aplicado a Sintra foi gerador das preciosidades que herdámos e conservamos. São, entre outras, relíquias arqueológicas, monumentos, pinturas e literatura que o local inspirou. Alimentam o espírito do lugar, único nas singularidades que acumula, igual a todos na fragilidade que o marca. Século após século, o Homem domina-o, e dominando, mantém-lhe a essência ou adultera-a.


Durante séculos, em Sintra, a Natureza desempenhou o papel de protagonista. De que modo? Que peso teve nos empreendimentos realizados? Como a apresentam os textos antigos?

Quem deambular pela Serra encontrará conventos nos lugares mais escondidos da floresta. Os muros de ameias do antiquíssimo Castelo dos Mouros, sobranceiro à Vila, ajustam-se aos cumes dos montes e estendem-se por eles. Palácios, quintas solarengas e vivendas apalaçadas, erguem-se entre luxuriante vegetação. Casas rústicas e aldeias saloias, espalharam-se pelas várzeas férteis e de abundantes águas. Tudo fazia parte integrante da paisagem, através de um apropriado enquadramento no ambiente natural. Em Sintra o património natural e o património cultural, formaram uma unidade.

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