Na despedida da Primavera

Maria Júdice Borralho
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Um romancista, um historiador das religiões e um pintor, de certo modo, ilustram esta visão do cientista.

Ferreira de Castro no livro A Selva tentou compreender o que se passa nos bastidores da Natureza e sentiu uma terra quente em perpétuo trabalho possuída pela febre da gestação.

Mircea Eliade, autor do livro O Sagrado e o Profano encontrou relações profundas entre Primavera e religião. Ele afirma que o mistério da regeneração periódica do cosmos fundou a importância religiosa da Primavera ... a contemplação estética da Natureza conserva ainda mesmo para os letrados mais sofisticados um prestígio religioso. 

Cézanne fez uma afirmação que só interpretações desassisadas podem desvalorizar: Um quadro contém em si até o odor da paisagem

Nos enredos do comportamento humano, alegrias e tristezas tecem a teia do quotidiano. Procuramos a felicidade e sabemos que a Natureza é hábil em suavizar pequenos sofrimentos da vida e gerar sentimentos que restauram equilíbrios. Céu azul, brilho primaveril, beleza serena não alimentam angústias nem depressões. Mas a Primavera não fala aos distraídos, nem aos indiferentes, muito menos aos profanadores, os que sofrem de pobreza espiritual, mal que ricos e pobres padecem em comum. No poema que se segue de Fernando Pessoa as mágoas do poeta afloram

Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo

Por que motivo se julgava ele o único amigo da Primavera? É um exagero poético ou uma profecia? O tempo vai revelar.


 
 
 
Entretanto talvez fique na memória de muitos a beleza, os odores, os movimentos e a força serena. Sobre as crianças nascidas nesta estação, deseja-se muito que zelem e amem as futuras Primaveras


1 Na paisagem Sintrense

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