Mitos

Nuno C. António (texto) e João Bugalho (aguarelas)
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Lendas, sagas ou contos. Deixe-se levar por momentos pelas personagens e seres fantásticos que povoam o nosso imaginário colectivo.

O QUE É UM MITO?

Um mito pode amplamente ser definido como uma narrativa, uma história com muitas versões, que acaba por transformar-se numa tradição aceite numa sociedade. Os mitos são universais, ocorrendo em quase todas as culturas e os seus conteúdos e heróis são quase tão diversos quanto elas. Quando estas narrativas são fictícias e estão associadas a uma pessoa ou a um local são denominadas lendas. Aquelas que têm como base grandes acontecimentos históricos (reais ou especulados), denominam-se sagas. Os contos populares são narrativas de aventuras construídas à volta de uma pessoa ou um local com o fim de entreter as pessoas; tendo quase sempre juízos morais sobre o comportamento humano. Os mitos podem ser lendas, sagas ou contos populares.
 
 
MITOLOGIAS GRECO-ROMANA E ANTERIORES

As florestas, na mitologia, são povoadas por muitas criaturas benéficas e malignas que vivem nos imaginários humanos desde tempos remotos e que vão passando por tradição oral e escrita. Muitas destas criaturas são universais, tendo por vezes apenas um nome diferente entre povos. Nas mitologias greco-romana e anteriores podemos encontrar um conjunto de criaturas ligadas à floresta, sendo muitas delas ainda comuns nos nossos dias, seja na banda desenhada, nos filmes ou nas histórias que nos são contadas.


O CENTAURO é um ser metade-homem, metade cavalo cujas origens remontam provavelmente ao segundo milénio A.C.. Não se conhece com precisão se foram os Hititas, os Gregos de Tessalónica ou os Trácios, os criadores da figura mitológica. São vistos como guardiães das fronteiras e como caçadores da floresta. A sua arma principal é o arco e flecha. Desempenham um papel importantíssimo principalmente nas narrativas mitológicas gregas onde são conhecidos pelos seus comportamentos violentos e selváticos. Acompanham frequentemente o deus Dionísio, deus do vinho e do prazer. Existe a excepção de Chiron, um centauro benéfico e extremamente sábio e bondoso que educou os heróis gregos Aquiles e Jasão.

OS SÁTIROS ou FAUNOS são, na mitologia grega, divindades dos bosques, das florestas e das montanhas. Possuem cornos e cauda e pernas de cabra. Pã, o deus da floresta é um sátiro. Eram acompanhantes do deus grego Dionísio e passavam o tempo a perseguir as ninfas, a beber vinho, a dançar e a tocar flauta de cana ou gaita de foles. O deus Pã, como sátiro que era, é frequentemente representado a tocar uma flauta de canas o que deu origem ao nome "flauta de pã". Os faunos são referidos pelo grande escritor português Aquilino Ribeiro na sua obra "Andam faunos pelos bosques".

 

PÃ era o filho de Hermes e de Penelope (mais tarde casada com Odysseus) em alguns mitos e filho de Zeus e da ninfa Callisto em outros. Era o deus dos rebanhos, dos pastores e da floresta. Tem a cabeça e o torso de um homem, mas os quartos traseiros e os chifres de uma cabra. Era um músico muito dotado com as flautas e igualmente considerado um símbolo de fertilidade pela sua natureza libidinosa.

As NINFAS, eram, nas mitologias grega e romana, divindades menores ou espíritos da natureza que habitavam os bosques, florestas, pradarias, ribeiros e o mar. São representadas por mulheres muito belas, apreciadoras de música e dança. Eram distinguidas conforme a parte da natureza que representavam. As ninfas dos rios eram as Potameides, as das nascentes e ribeiros de água potável eras as Náiades. As Oréades estavam associadas às montanhas e grutas. As ninfas da floresta eram chamadas as Dríades. Estas últimas são representadas por árvores que tomam a forma humana em algumas ocasiões especiais.

 

DIONÍSIO, também chamado BACO, era o deus grego do vinho e da vegetação, especialmente dos frutos das árvores. Com o tempo. acabou por se tornar o deus do vinho e da boa disposição para o povo grego. Era benevolente e generoso para quem o adorava e honrava e implacável, trazendo destruição e loucura a quem dele, e os dos rituais orgíacos do seu culto, desdenhava. Segundo a tradição, morria no Inverno e renascia na Primavera, acompanhando o ciclo dos frutos. Muitas das peças dramáticas gregas estão a este ciclo associadas O festival mais importante onde decorriam competições de drama era denominado o "Grande Dionísia" que decorria em Atenas durante 5 dias todas as primaveras. Foi para esta celebração que grandes dramaturgos gregos com Sofócles e Eurípedes escreveram as suas mais importantes tragédias. No século V a.c., o deus Dionísio está associado a celebrações primaveris com um carácter frenético e libertino onde decorriam momentos orgíacos de intoxicação. Eram denominados os mistérios de Dionísio. Estes tornam-se comuns também para os romanos que os denominavam Bacchanalia. As celebrações atingiram níveis extremos de indulgência tendo sido proibidos pelo Senado em 186 a.c.


MITOLOGIA CELTA

A literatura europeia e a mitologia celta estão repletas de seres que nos são extremamente familiares. A floresta é um dos locais a maior parte delas vive, aparece ou tem grande aventuras.


As FADAS são figuras míticas que existem desde tempos remotos no folclore. São, genericamente, criaturas sobrenaturais, geralmente com forma humana que habitam um mundo imaginário chamado "Terra das fadas". Intervêm na vida dos humanos recorrendo à magia. Apesar de possuírem uma terra natal, as fadas existem no imaginário humano como vivendo na florestas, montes, ribeiros. Nas florestas, são normalmente encontradas de noite, dançando à volta dos "aneis de fadas", que podem círculos de cogumelos, árvores, arbustos ou outras plantas. As fadas têm tomado muitas formas com os povos e culturas, mas a sua presença é praticamente universal. O termo fadas é também utilizado para referir outras criaturas como gnomos, elfos, trasgos (goblins), trolls, anões, duendes, duendes das minas (kobolds), espíritos lamentativos (banshees), espíritos (sprites) e ondinas (undines). Apesar disso, a imagem que temos mais presente é a de seres de corpo semi-transparente, delicados que formam círculos enquanto dançam, que vem da literatura europeia. São normalmente considerados, no folclore humano, seres benéficos mas muito sensíveis, caprichosos e que gostam de pregar partidas. Existem igualmente fadas más que provocam azarares como o enfeitiçamento de crianças e o desaparecimento de gado.


Os UNICÓRNIOS são bestas imaginárias, com corpo de cavalo, que têm, na sua testa, um chifre longo torcido. São de um branco muito puro, pelo que foram sempre símbolos de virgindade, pureza, sacralização e castidade. Uma outra descrição semelhante relata-os como cavalos brancos com pés de antílope e um chifre em espiral existente num sulco na suas testas, branco na base, preto no centro e vermelho na ponta. A eles estão associados poderes curativos bem como a característica de serem impossíveis de caçar. As únicas pessoas que deles se poderiam aproximar seriam virgens de comportamento dócil, que os impressionariam e a quem eles se dirigiriam e baixariam a cabeça submissamente, atraídos não pela beleza ou castidade das damas, mas sim pelo perfume dos seus vestidos.

Os ESPÍRITOS (SPRITES, DUENDES, ELFOS, FADAS) são um tipo de fadas ou elfos. O nome sprite vem do latim spiritus. Existem em locais de grande serenidade e frescura. Gostam muito de brincar com as ninfas. A sua principal função é a alteração da cor das folhas das árvores no Outono, sendo possuidores tintas de muitas cores entre o amarelo e o vermelho. São muito criativos, poéticos e artísticos. Alguns optam por juntar-se ou mesmo casar com um humano ou um elfo e viver com eles as suas vidas.


Os ELFOS foram inicialmente, no foclore teutónico e norueguês, os espíritos dos mortos que traziam fertilidade. Só mais tarde tiveram a imagem actual de seres sobrenaturais, com forma humana, muito bonitos (elfos da luz, elfos da floresta) ou extremamente feios (elfos negros). Possuem orelhas pontiagudas, são mais magros e mais altos que os humanos. Vivem nas florestas, quedas de água e nas montanhas. São muito hábeis no uso do arco e flecha. A crença nos elfos é praticamente universal mas teve um papel particularmente importante na mitologia dos povos das ilhas britânicas. As histórias dos séculos VIII e XIX estão povoadas de elfos ou fadas como por vezes são chamados. O rei dos elfos (Oberon) e a sua mulher (Titania) aparecem em muita obras desde literatura medieval e posterior como, por exemplo, "Sonho de uma noite de Verão" de Shakespear.


Existem outros elfos melhor conhecidos em partes do mundo. Ghillie Dhu, é um elfo solitário que vive na Escócia nos vidoeiros (bétulas), estando as suas roupas entrelaçadas de folhas e musgo. O Hedley Kow, é um elfo mal comportado, capaz de alterar a sua forma e brincalhão que vivia perto da aldeia de Hedley. Não era mal intencionado, sendo as suas partidas usualmente inofensivas. A mais comum era a sua transformação num fardo de palha que, quando recolhido, além de ser muito pesado, em determinado momento "ganhava vida" pois ele revertia a transformação, causando um susto enorme à pessoa que nele pegava. Não poderiam deixar de ser referidos os elfos que habitam o mundo de J. R. Tolkien que se imortalizou com a sua obra em livros com "O SENHOR DOS ANEIS", "O HOBBIT", "OS CONTOS INACABADOS", "O SILMARILION" ou "AS AVENTURAS DE TOM BOMBADIL".

 

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