Kandinsky, o primeiro pintor abstracto, começou a estudar pintura com trinta anos, mas cedo se afastou da representação. Porém, as suas formas evocam a microscopia e sugerem viagens através de fantásticos microcosmos biológicos.
Kandinsky nasceu em Moscovo, em 1866. Em criança aprendeu a tocar violoncelo e piano com os pais e, talvez por isso, a música veio e ter influência nos seus quadros, estando, nomeadamente, na origem dos títulos de algumas das suas obras (p. ex. Improvisos e Composições). Os seus pais separaram-se cedo mas, de maneira diferente, ambos parecem ter contribuído bastante para o desenvolvimento da sua sensibilidade. Wassily considerava a mãe de “uma beleza austera e grave, simplicidade e energia inesgotável”, uma fonte de perfeição e de tensões que procurou imitar nos seus quadros.
Entrou com vinte anos na Universidade de Moscovo para estudar Direito e Economia, chegando a leccionar Direito na Faculdade de Moscovo, a partir de 1892, depois de formado. O mundo jurídico despertou-lhe o sentido por relações abstractas e desenvolveu-lhe o interesse pela Economia, pela História do Direito Russo e pelo Direito dos Camponeses. Os seus trabalhos na área da investigação sociológica, etnográfica e antropológica levaram-no a colher informações duradouras sobre a cultura dos agricultores russos e fê-lo contactar com as cores garridas das suas casas e mobiliários e com as fortes policromias dos trajes, com fortes influências em algumas das suas primeiras pinturas.
Em 1895 deu-se um episódio curioso. Wassily viu o quadro de Claude Monet, a “Meda de feno”, e descreveu assim a sensação que este lhe transmitiu: “E de repente, vejo pela primeira vez um quadro. Segundo o catálogo tratava-se de uma meda de feno. Contudo, vergonhosamente, não consegui identificá-la. Não me pareceu que o pintor tivesse o direito de pintar de uma forma tão indecifrável. Tinha o vago sentimento de que o quadro não continha qualquer objecto. E comecei a notar com um certo espanto que o quadro não apenas me fascinava, como se gravava de forma indelével na minha memória. (...)”
Kandinsky era muito atento ao mundo exterior e atingiam-no profundamente todas as tensões e inseguranças da época. Por causa da descoberta da energia atómica em 1896 afirmou: “A desintegração do átomo constitui no meu espírito a desintegração do mundo inteiro. As paredes mais grossas desabaram de repente. Tudo se tornou inseguro, trémulo e fraco. Não me admiraria se uma pedra se derretesse e tornasse invisível à minha frente.”
Então, com trinta anos decidiu dedicar-se definitivamente à arte e, já casado com sua prima Anya, partiu para Munique para estudar desenho e anatomia, áreas que na época eram consideradas como a formação básica essencial para qualquer artista.