Animais na decoração do Palácio Nacional de Sintra

Maria Júdice Borralho
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Significado muito diferente terão as pêgas do tecto da sala, que destas aves tomou o nome. Pintada com cento e trinta e seis pêgas, cada uma segurando no bico uma banda serpenteada com a inscrição "por bem", materializará o castigo infligido às damas, cuja tagarelice pôs a corte em alvoroço? Porém, o que mais terá lastimado o rei e decerto também, a beldade que o acompanhava, foi a interrupção forçada do inocente beijo, que a súbita entrada da rainha, provocou.


Damião de Góis, cronista do rei D. Manuel I, informa que este monarca "deleitava-se muito no monte e era bom besteiro e caçador de vontade, para o que tinha muitos lebreus e sabujos.". Compreende-se por isto, que a sala dos Brasões, construída no seu reinado, seja decorada com veados, animais que ao tempo existiam na Serra de Sintra, e que certamente ele caçara. Oitenta veados, setenta e dois dos quais exibem brasão pendente do colo e timbre entre as hastes, dão originalidade à sala e realizam o propósito do rei: imortalizar " por este modo os venerandos feitos de varões tão dignos de eterna fama" (Visconde de Juromenha). O exterior desta enorme sala ostenta como remate decorativo um singular e rendilhado pombal. E são ainda inúmeras, as pombas brancas, cada uma com seu ramo de oliveira no bico, que preenchem as paredes da vetusta capela gótica, dedicada ao Espírito Santo.


É pois, por um conjunto de factos, que os cisnes, pêgas, veados e pombas conferem mais beleza e significado às salas onde se encontram.
As características biológicas das espécies em causa, e outras que o HOMEM lhes vai colando, comandaram a escolha.


É possível imaginar a Sala dos Brasões decorada com pombas, a capela com pêgas ou os veados substituindo os cisnes?


NATUREZA e HOMEM convivem e às vezes entendem-se. Ou será só uma questão de cultura?

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