As Artes num Jardim

Cecília Martins, ARTLINK
Imprimir
Texto A A A

 

Cristina Coelho, a jovem bióloga desta equipa, que foi responsável pela pesquisa necessária à escolha das espécies, salienta o apoio de entidades externas: o Jardim Botânico da Universidade de Lisboa; no campo histórico, o Instituto Português de Conservação e Restauro, e o departamento de conservação e restauro, que funciona na Universidade do Monte da Caparica. Mas a ajuda veio ainda da própria Casa da Cerca, através dos seus historiadores de arte e de Rogério Ribeiro. O então director do Centro foi um dos artistas plásticos que colaborou nos estudos de cor do Jardim dos Pintores.

A estreita articulação com a Casa da Cerca deverá, de resto, continuar. O horário de funcionamento é o mesmo e as iniciativas que irão animar O Chão das Artes serão planeadas em ligação com os eventos do Centro. É que a actividade não terminou com a abertura ao público. Muito pelo contrário. Como nos explica Cristina Coelho, «um dos grandes objectivos é o trabalho pedagógico com a população de Almada e com as escolas, do ponto de vista quer da conservação, quer da questão ambiental e da sensibilização para as artes plásticas». Para aproveitar todo este potencial, estão a ser programadas visitas guiadas, jogos de exploração e ateliers que possibilitem aos destinatários relacionar-se realmente com o local e conhecer os seus materiais e espécies. «A ideia é que as pessoas façam esse jogo e, em seguida, realizem, no pequeno laboratório que temos, algumas daquelas “velhas alquimias” da extracção dos pigmentos, dos óleos, por aí fora…», adianta a bióloga. 
 
Outros planos para o futuro, já a nível científico, são a criação do herbário, cujas instalações estão ainda em construção e que deverá servir como pólo de investigação do jardim, e de um banco de sementes, para trocas com outros jardins botânicos. Mas há ainda a tentativa de trazer para o jardim novas espécies, como o indigo, proveniente da Índia, e utilizado para fazer diversas tonalidades de azul, e a acácia da goma arábica, proveniente do Norte de África, e usada desde a Antiguidade como diluente, inclusivamente na escrita egípcia. «Penso que esta é a espécie que vai ser mais trabalhosa, porque é exótica, difícil de encontrar, e de trazer em viagem, mas é uma espécie que não podemos deixar de incluir aqui pela importância que teve na história da escrita e da pintura.», comenta Cristina Coelho.

Pioneiro no nosso país e possivelmente no estrangeiro, como levam a crer, para já, os contactos estabelecidos pela sua equipa, O Chão das Artes vai precisar de cerca de 15 anos para atingir todo o seu esplendor. Até lá, e enquanto as árvores não crescem, a paisagem continuará dominada pelo imponente dragoeiro, a árvore que Hieronymus Bosch, o pintor flamengo dos séculos XV e XVI, escolheu para embelezar o seu “Jardim das Delícias”.

 

Comentários

Newsletter