A percepção da Natureza pelo Homem: a influência da Tradição Judaica

Nuno Cruz António
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No Antigo Testamento, todas as referências ao paraíso descrevem-no como um local com características totalmente opostas às atribuídas ao selvagem. O Jardim do Éden possuía abundância de água e plantas. Adão e Eva, após terem aceite o convite da serpente para provar a maçã, foram expulsos do paraíso para a terra amaldiçoada, bravia, selvagem. Aqui encontramos uma das mais decisivas influências na oposição entre o paradisíaco e o selvagem, que vingou no pensamento do mundo ocidental.


 
 

Um outro momento da história do povo israelita, também muito importante no modo como o selvagem foi mais tarde encarado, foi o êxodo do Egipto. Sob a liderança de Moisés, os hebreus, com a ajuda de Deus, vaguearam pelo deserto do Sinai durante 40 anos. Esta tão marcante experiência conferiu também ao selvagem uma conotação de santuário, local afastado da sociedade pecadora, privilegiado para o encontro com Deus e, principalmente, como local de teste, cuja recompensa em caso de sucesso seria a entrada na Terra Prometida. O bravio nunca perdeu a conotação de dureza, mas também de refúgio e de força disciplinadora. O Êxodo acabou por dar origem a uma tradição de se ir para o selvagem como forma de procura e purificação da fé. Este era invariavelmente o destino apontado pelos líderes religiosos, quando sentiam que a sociedade se degradava. Dois exemplos são os profetas Jeremias e Elias.

A imagem do bravio como santuário, local de purificação, teve continuidade na tradição cristã. Mas desta falaremos num próximo artigo.

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