Ficha da Rela-meridional

Mário Ferreira
Imprimir
Texto A A A

As relas-meridionais são pequenos e atraentes anfíbios sem cauda, que em Portugal ocorrem sobretudo na metade sul do território continental e também na Ilha da Madeira, onde foi introduzida pelo Homem.

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS
A rela-meridional (Hyla meridionalis) é um pequeno anuro (anfíbio sem cauda) com cerca de 4 cm de comprimento e aspecto ágil de cor verde-viva, com uma lista escura que sai do focinho e termina por cima do ombro. Possui olhos laterais proeminentes com a íris dourada e uma pupila elíptica e horizontal. Os dedos são terminados por pequenos discos adesivos, característica da família Hylidae. As patas da frente têm 4 dedos e as de trás 5.
Ligeiramente maior do que a sua congénere rela-comum (Hyla arborea), distingue-se desta pela lista lateral mais curta (Focinho-ombro contra focinho-sacro). A articulação da pata traseira, quando estendida por cima do corpo fica situada entre os olhos e as narinas ao invés de entre os olhos e os tímpanos como sucede com a Hyla arborea.


Os girinos desta espécie são do tipo IV (espiráculo do lado esquerdo) e podem alcançar os 5,5 cm de comprimento, ainda que raramente atinjam os 4 cm. Superiormente são esverdeados com manchas e reflexos prateados. A região muscular da cauda apresenta duas bandas escuras, uma dorsal outra central que se juntam perto do final, podendo ainda apresentar uma terceira mais ventral. As cristas caudais, translúcidas e com pequenas manchas escuras, são altas e começam entre olhos e o espiráculo. Possui um grande hiato na segunda fileira de dentículos superiores.

 

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA
A rela-meridional ocorre em vários países da região Palearctíca: Marrocos, Argélia, Tunísia no noroeste de África; Portugal, Espanha, sul e sudeste de França e noroeste da Itália na Europa continental; Madeira, Canárias e Baleares.
Na Península Ibérica esta espécie ocorre em 3 núcleos: No Sudoeste da Península, no Nordeste de Espanha (Catalunha) e um pequeno núcleo populacional no Pais Basco. Foi também introduzida na Madeira, nas Canárias e nas Baleares. Análises genéticas sugerem que as populações da Península são provenientes do Norte de Marrocos. A população do Sudoeste deverá ter origem na expansão natural da espécie, enquanto que a população catalã e do Sul de França deverão ter sido introduzidas pelo Homem.


Em Portugal ocorre sobretudo a Sul do rio Tejo, em núcleos populacionais mais ou menos isolados. É das espécies mais comuns da batrocofauna portuguesa, pelo menos abaixo do Tejo. Formam coros numerosos na Primavera, chegando frequentemente a mais de 100 indivíduos por local. Os girinos são também a espécie dominante nas comunidades de larvas das lagoas temporárias a partir dos finais de Março.

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO
Esta espécie faz parte do anexo II da Convenção de Berna e do anexo B-IV da Directiva Aves/Habitats (DL 140/99 de 24 de Abril). Em Portugal é considerada não ameaçada (NT). No país Basco é considerado o anfíbio mais ameaçado, estando classificado como em perigo (EN).

FACTORES DE AMEAÇA
A principal ameaça a esta espécie resulta da deterioração continuada, fragmentação e perda de habitats de reprodução e a alteração da água por poluentes químicos. No Sudoeste de Portugal a pressão resultante da intensificação agrícola é responsável pela perda de cerca de 40% das lagoas temporárias desde o inicio da década de 90.
A introdução de espécies exóticas, como o lagostim-vermelho-do-Louisiana, aparenta ter um impacto negativo nas populações anfíbios em geral, quer por competição pelo espaço, quer devido à predação dos ovos e larvas.
O atropelamento dos indivíduos em dispersão na altura da reprodução pode também afectar seriamente populações em determinados locais.

HABITAT
As relas-meridionais preferem habitats húmidos e com vegetação abundante: prados, juncais, matos e florestas, próximo de lagoas ou de linhas de água. O principal habitat de reprodução da espécie são as lagoas temporárias, mas é uma das espécies mais generalistas podendo utilizar lagoas permanentes, charcas de rega, prados inundados, caminhos, riachos e ribeiras, e as zonas húmidas costeiras e interiores com vegetação abundante do tipo pântano. Ocorrem principalmente a baixas altitudes, do nivel do mar aos 450m de altitude.

ALIMENTAÇÃO
Os adultos caçam esporadicamente de dia e activamente durante a noite. Alimentam-se principalmente de pequenos artrópodes terrestres ou voadores. A dieta das relas não inclui presas aquáticas. As larvas alimentam-se principalmente de algas que estão na coluna de água ou depositadas em cima das macrofítas. A dieta das larvas pode também incluir detritos e plantas aquáticas.

INIMIGOS NATURAIS
Os adultos são caçados por lontras, genetas, cegonhas, garças-reais, cobras-de-água e mesmo por outros anfíbios. As larvas são predadas por cágados, peixes, aves e larvas de insectos de coleópteros. Os ovos também podem sofrer predação por tritões, crustáceos e peixes.

 

REPRODUÇÃO
O período de reprodução em Portugal estende-se de Fevereiro a Abril. Os machos chegam primeiro aos locais de reprodução e formam numerosos coros para atrair as fêmeas. O amplexo é axilar e pode durar várias horas. A fêmea deposita, entre a vegetação aquática, pequenos grupos de ovos, que no total podem chegar aos 1000 ovos. Os ovos eclodem passados 8 a 15 dias. Os girinos de H. meridionalis são muito bons nadadores, com uma membrana dorsal alta e muito desenvolvida e uma cauda comprida. A metamorfose completa-se em aproximadamente 3 meses. Os indivíduos recém-metamorfoseados medem cerca de 1,5 cm. A maturidade sexual é atingida aos 3 anos e raramente ultrapassam os 10 anos de idade.

 

ACTIVIDADE
A sua actividade é principalmente crepuscular, mas não é raro serem observados durante o dia a apanhar sol na vegetação ou em dispersão. Por regra não hibernam, mas podem apresentar estivação nas regiões mais quentes. Realizam migrações dos refúgios diurnos para os charcos, na época da reprodução. Podem dispersar-se muito.

CURIOSIDADES
No Sudoeste Alentejano esta espécie é conhecida por lucra. Os coros formados pelas relas são conhecidos pelos cantos da Primavera por se realizarem principalmente em Março. Existe a crença, ainda que infundamentada, de que estes animais são venenosos.

LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO
Facilmente escutáveis graças aos seus ruidosos coros, que podem ser ouvidos a cerca de 2 km de distância. Em noites chuvosas aparecem facilmente nos caminhos e estradas, próximo dos habitats indicados em cima.

 


Comentários

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Newsletter