Ficha da Salamandra-comum

Rui Braz e Maria João Cruz
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As salamandras-comuns são atraentes anfíbios, comuns nas zonas mais húmidas e frescas do nosso País. Muitas vezes associadas a velhas crenças populares, são animais muito interessantes com algumas características peculiares e podem viver até aos 30 anos.

 

 

 

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

A salamandra-comum Salamandra salamandra é um urodelo (anfíbio com cauda) que pode chegar aos 30 cm de comprimento. O adulto tem tipicamente cor de fundo negra e manchas ou bandas amarelas com disposição e abundância muito variáveis. Os padrões apresentados por cada salamandra são únicos, tal como as impressões digitais nos humanos. Os machos apresentam os lábios cloacais mais proeminentes e em geral corpo mais delgado e membros mais compridos. Tal como todos os anfíbios, as salamandras passam por um estado larvar, adaptado à vida aquática. A transição para o ambiente terrestre dá-se através de uma metamorfose. As larvas têm aproximadamente 1/6 do comprimento das salamandras adultas. Têm brânquias plumosas que são tanto mais desenvolvidas quanto menor for a concentração de oxigénio dissolvido na água. A característica distintiva destas larvas é a existência de uma mancha clara na zona da inserção de cada membro com o tronco. Pouco antes de se metamorfosearem algumas larvas já apresentam manchas amareladas que contrastam com o fundo mais escuro, nesta fase assiste-se também a uma redução acentuada do tamanho das brânquias.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

A distribuição deste anfíbio é muito ampla, abrangendo toda a área entre o norte de África (Marrocos e Argélia) e o norte da Alemanha e entre a Península Ibérica e o Irão.

 

Em Portugal encontra-se de norte a sul, sendo geralmente bastante abundante na região norte. Na metade sul do país torna-se mais rara ou apenas localmente abundante, já que as suas populações se encontram isoladas e restringidas a zonas montanhosas e húmidas.


ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Anexo III da Convenção de Berna. Em Portugal é considerada não ameaçada (NT).


FACTORES DE AMEAÇA

Os anfíbios necessitam de habitats específicos para se reproduzirem. Como tal, o desaparecimento de zonas húmidas e/ou com corpos de água mais ou menos duradouros terá um grande impacto nas suas populações. Os incêndios florestais, a utilização de solos para a agricultura e a poluição aquática são os principais factores de ameaça. A superstição em relação às salamandras é outra das ameaças a esta espécie. As populações da serras algarvias parecem particularmente ameaçadas devido à fragmentação do habitat.

HABITAT

Preferencialmente em florestas de árvores de folha caduca, embora na Península Ibérica as suas populações possam estender-se até habitats de matagal mediterrânico.


ALIMENTAÇÃO

Os adultos alimentam-se fundamentalmente de insectos como escaravelhos, formigas, moscas e mosquitos e de outros invertebrados como caracóis, lesmas, aranhas, lombrigas e centopeias. As larvas são predadores vorazes, que se alimentam principalmente de pequenos crustáceos e insectos aquáticos. Também predam larvas de outras espécies de anfíbios. O canibalismo é um fenómeno frequente entre as larvas.


REPRODUÇÃO

Em Portugal, é a única espécie de anfíbios com reprodução ovovivípara. Já se observaram casos em que as larvas nascem metamorfoseadas. Durante a época de reprodução o macho desliza sob a fêmea e agarra-a com os membros anteriores. Posteriormente, o macho liberta um espermatóforo, estrutura semelhante a uma pirâmide e que contém os espermatozóides. A fêmea recolhe-o com os lábios cloacais. O período reprodutor é alargado e situa-se geralmente entre Setembro e Maio. Podem registar-se dois picos reprodutores, um em Outubro-Novembro e outro no fim do Inverno ou princípio da Primavera. Normalmente uma fêmea pode pôr entre 20 e 40 larvas, embora hajam registos de posturas com 80 larvas. As larvas são independentes e podem permanecer nesta fase desde 1 mês até 1 ano. Após a metamorfose podem viver 30 anos.

 

MOVIMENTOS

Os machos são territoriais e geralmente não abandonam a sua área, adoptando uma posição de alerta na qual inclinam a cabeça para trás. É frequente observarem-se lutas entre eles. O território de um macho de salamandra mede cerca de 100 m2. As fêmeas percorrem distâncias maiores pois têm de se deslocar até às zonas com água para pôr as larvas. Numa noite, os machos e fêmeas juvenis - mais activos - chegam a percorrer distâncias de 1 Km. As salamandras não ocupam o mesmo território de ano para ano. Durante o Verão entram em letargia enterrando-se no solo.

ACTIVIDADE

Com hábitos essencialmente nocturnos, as salamandras encontram-se activas em condições de humidade elevada e temperaturas não superiores a 15º. Em zonas montanhosas, com clima rigoroso, apresentam um período de hibernação mais ou menos prolongado. Em zonas com clima mais ameno, encontram-se activas sobretudo de Setembro a Maio, podendo estivar durante os meses mais quentes e secos.


CURIOSIDADES

As salamandras tiveram, na antiga medicina, uma grande reputação, pois as suas cinzas eram utilizadas na cicatrização de úlceras. Nos nossos dias ainda são consideradas nalguns sítios excelentes vermífugos e, noutros locais, como antídotos para curar feridas produzidas pelo veneno das serpentes.

Acredita-se que a sua mordedura é venenosa, o que não tem qualquer fundamento. As salamandras mesmo quando manipuladas não mordem. A única defesa de que dispõem é uma secreção cutânea esbranquiçada e viscosa que é irritante para os olhos e que quando ingerida pode provocar má disposição e alucinações. Em todo o caso, é possível tocar nelas e mesmo agarrá-las desde que não sejam apertadas.

Crê-se que as salamandras podem viver no meio do fogo pois é usual ver estes animais a abandonar os troncos quando estão a arder. Além disso, o facto de terem uma coloração invulgar (manchas amarelas e por vezes vermelhas) foi decisivo para a sua conotação como animais demoníacos. Esta crença remonta à Idade Média e ainda hoje persiste o medo e a repugnância por estes animais embora não existam razões para tal.

LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO

Podem observar-se, nos habitats já descritos, durante a noite principalmente em caminhos ou estradas. As observações são mais frequentes após ter chovido ou em dias em que o ar se encontre muito húmido. Quando não estão activas podem encontra-se debaixo de pedras, troncos ou noutros esconderijos que conservem alguma humidade. As larvas podem observar-se em troços de ribeiros ou charcos isolados.


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