Biodiversidade Europeia vale 30 cêntimos ao ano?

WWF Mediterrâneo (Portugal) (14-07-09)
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A WWF revela a sua preocupação pelo fraco estado de conservação da Biodiversidade na Europa e apela ao investimento por parte da UE e de Portugal em particular na luta contra a perda de biodiversidade, na gestão dos espaços classificados e na procura sustentabilidade.

A União Europeia (UE) não vai conseguir travar a perda de biodiversidade até 2010, como era o seu objectivo. Este é o resultado da primeira avaliação ao estado de conservação das espécies e habitats europeus ameaçados, publicada hoje pela Comissão Europeia. Um fracasso que claramente reflecte a falta de vontade política por parte dos Estados-membros da UE, e de reconhecimento do que a biodiversidade representa para a nossa vida e ambiente, bem como para a saúde do nosso sistema social e económico, defende a WWF – World Wide Fund For Nature.

Após 17 anos desde a adopção da Directiva Europeia de Habitats, direccionada para a protecção de habitats naturais e vida selvagem na Europa, a primeira análise da Comissão Europeia mostra que 65 % dos habitats e 52 % das espécies estão em estado de conservação mau ou desfavorável, denunciando um risco crescente de perda de biodiversidade.

“É sem surpresas que acolhemos esta conclusão referente ao estado débil do património natural da Europa. A UE e os seus Estados-membros falharam no entendimento do verdadeiro valor da biodiversidade e ignoraram o seu desaparecimento gradual. Na última década, a União Europeia optou por cortes constantes nos investimentos directos à protecção da natureza, reduzindo-o a um escasso 0,1 por cento do orçamento da UE. Cada cidadão europeu paga aproximadamente 300 euros por ano à União Europeia, sendo que somente 30 cêntimos deste valor são direccionados para salvaguardar o nosso património natural. É tempo de se encetarem sérias modificações no modo como lidamos com a natureza, porque todos iremos sofrer os efeitos negativos na economia e na saúde, devido a um ambiente menos diverso e consequentemente menos resiliente às alterações climáticas,” afirmou Andreas Baumüller, responsável do Gabinete de Políticas Europeias de Biodiversidade da WWF.

As décadas de prática de uma agricultura intensiva e de uma indústria de pesca não regulada colocaram os recursos naturais europeus numa posição crítica: em áreas dependentes da agricultura, quase 80 por cento dos habitats estão num estado de conservação desfavorável; e resultados negativos semelhantes emergem quando se fala dos nossos mares, onde quase 90 por cento dos stocks comerciais de peixe são sobre explorados e aproximadamente 30 por cento deles correm o risco de ter ultrapassado o limite da não renovação.

Adicionalmente aos dados negativos reunidos, a WWF mostra-se igualmente preocupada com o enorme número de espécie e habitats ainda não reportados pelos Estados-membros e que podem ocultar um quadro ainda mais débil do estado da natureza na Europa.

“É de lamentar que apesar da obrigação legal em reunir informação e tomar medidas apropriadas da protecção do ambiente, Portugal não tenha reportado à UE o estado de conservação de 50 por cento das espécies ameaçada. Não se pode proteger o que se desconhece. Se por um lado Portugal fez alguns progressos na monitorização do estado de conservação dos seus habitats, a falta de informação sobre o estado de conservação das espécies, a nível nacional, não é aceitável. A WWF apela a uma maior atenção e investimento na conservação da natureza, por parte das autoridades nacionais, no sentido de garantir um ambiente são e economicamente viável para as futuras gerações”, acrescenta Luís Silva, responsável do Programa de Conservação da WWF em Portugal.

Desde 2001, quando os Chefes de Estado fizeram um compromisso “de parar o declínio da biodiversidade antes de 2010”, a Comissão Europeia e os Estados-membros fizeram progressos significativos com a criação da rede Europeia de áreas protegidas, a Natura 2000, que cobre 17 por cento do território europeu e que será alargada à área marítima. Todavia, a WWF está preocupada com a falta de investimento na sua implementação, que arrisca minar a eficácia desta medida.

A WWF apela à União Europeia e ao Estado Português que mantenham os seus objectivos ambiciosos respeitantes a travar a perda da biodiversidade antes de 2020. A WWF incita os governos europeus a criar um “Plano Europeu de Recuperação da Biodiversidade” de forma a aumentar investimentos “amigos do ambiente”, proteger e gerir a Rede Natura 2000 em territórios terrestre e marítimo, desenvolver infra-estruturas renováveis e verdes e ainda introduzir na agricultura e nas pescas práticas sustentáveis que não prejudiquem os nossos ecossistemas.

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