Lagoa de Óbidos - um paraíso em vias de desaparecimento

Maria João Carvalho
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A Lagoa de Óbidos é uma zona húmida de particular valor económico e ambiental, já referida nos documentos das cortes de Évora de 1460, e que se encontra sujeita a uma grande diversidade de ameaças. Conheça a Lagoa e os seus problemas.

A Lagoa de Óbidos é uma Zona Húmida, o que se define com alguma dificuldade, visto que as zonas húmidas ocupam o espaço de transição entre meios permanentemente húmidos e geralmente secos, possuindo características de ambos, sem no entanto poderem ser rotuladas sem ambiguidade, de terrestres ou aquáticas, visto que a presença prolongada de água modifica os solos, organismos microscópicos neles contidos e comunidades de plantas e animais.

Iremos seguidamente fazer uma pequena viagem por esta Lagoa, que é a maior de Portugal Continental e apresenta inúmeras características de interesse, tanto científico como lúdico, cultural, económico e social.

A Lagoa de Óbidos tem desempenhado ao longo dos séculos um importante papel económico e social. São dois os Concelhos de que esta área depende, Caldas da Rainha e Óbidos, mas a bacia em si, enquadra-se num contexto mais vasto, constituído pelos 16 concelhos do Oeste, de Torres Vedras a Alcobaça e Nazaré. Já em 1460, um documento das cortes de Évora, descreve a obrigação dos habitantes das povoações próximas, em participar nos trabalhos de abertura da Lagoa de Óbidos para assegurar a sua drenagem. Em 1642, D. João IV, decreta por alvará, que ninguém abra a Lagoa sem autorização prévia da Câmara, alegando que aberturas fora do tempo provocam danos para a saúde pública. Em 1946, foram descritas, pela primeira vez em Portugal, intoxicações alimentares graves, ocasionadas pela ingestão de bivalves provenientes da Lagoa de Óbidos e depois disso, têm surgido ciclicamente notícias sobre a proibição da apanha de bivalves, devido à existência de marés vermelhas - a produção de biotoxinas por algumas espécies fito-planctónicas, que se acumulam ao longo da cadeia alimentar com especial incidência nos bivalves, leva à interdição da sua captura e comercialização todos os anos.

Durante as duas últimas décadas, a Lagoa de Óbidos tem vindo a sofrer pressões que há 50 anos eram difíceis de prever. O crescimento populacional na área da bacia e o aumento significativo do número de visitantes, levam a que esta região seja encarada por muitos como apenas mais uma zona de praia. No entanto, para centenas de mariscadores e pescadores, a Lagoa de Óbidos representa o meio de sobrevivência e a faina, sobretudo conquícola, tem vindo a degradar-se todos os anos. Com a construção de barragens ao longo dos afluentes e o excesso de poluição transportada para a Lagoa, tem-se vindo a verificar nos últimos anos uma diminuição dos caudais de água doce, face aos de água salgada, com a consequente diminuição ou desaparecimento de certas espécies. O rendimento bruto global, proveniente da pesca e da apanha de bivalves está estimado como sendo superior a meio milhão de contos por ano, sendo evidente a dependência económica das populações dos recursos directamente provenientes da Lagoa, especialmente no Concelho de Óbidos, sendo a zona de Caldas da Rainha mais industrializada e portanto menos dependente da agricultura e pescas.


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