Alterações antropogénicas do ciclo do azoto

Maria Carlos Reis
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Redução da biodiversidade

Acompanhando os outros efeitos, os aportes de azoto para os ecossistemas causam, normalmente, um desequilíbrio na composição de espécies, ocorrendo uma alteração das espécies dominantes, conducente a uma redução da biodiversidade. Na Holanda, que ocupa um dos lugares cimeiros quanto à utilização de fertilizantes, todos os ecossistemas sofreram alterações, verificando-se que zonas de enorme riqueza biológica foram substituídas por florestas e pastagens de reduzida biodiversidade.

Apesar dos ecossistemas terrestres serem vulneráveis ao excesso de azoto, os sistemas aquáticos são os que sofreram mais até hoje, pois são os receptáculos finais do excedente deste elemento, que chega por escorrência ou através de descargas directas de efluentes não tratados.

Perspectivas futuras

Existem algumas linhas de investigação, no sentido de serem produzidas estirpes de bactérias simbióticas fixadoras de azoto para inocular os solos, ao mesmo tempo que se tenta modificar as plantas para que elas próprias adquiram essa capacidade, de modo a reduzir as quantidades de fertilizantes aplicados. Apesar destas soluções parecerem ideais, elas não serão imediatas e o fornecimento de azoto na forma de fertilizantes deverá continuar de forma a suprir necessidades alimentares de uma população que se pensa duplicar até ao final deste século. No entanto, existem formas de tentar travar este aumento ou mesmo diminuir a utilização de fertilizantes. Uma delas será tornar a utilização mais eficiente, através de um conjunto de práticas que permitem diminuir as perdas, sem sacrificar as produções e lucros (e por vezes até aumentá-los), ao mesmo tempo que se travam as alterações globais. Por exemplo, a dissolução do fertilizante na água de irrigação, a monitorização das quantidades de azoto no solo, de forma a optimizar a altura das aplicações, com doses melhores calculadas, são apontadas como soluções minimizadoras dos impactos. A rotação das culturas, a plantação de legumes, a conservação dos solos e a reciclagem de detritos orgânicos são técnicas igualmente desejáveis, mas é claro que não são suficientes. Se todos os agricultores desejassem praticar agricultura biológica, retornando às práticas tradicionais, não seria possível alimentar a população mundial.

Existem também mecanismos que impedem que o azoto dos fertilizantes chegue aos sistemas aquáticos. Muitas áreas agrícolas foram construídas à custa da regularização das margens dos rios, da destruição de zonas ripícolas e da drenagem de zonas húmidas. No entanto estas zonas actuam como tampão, retendo grandes quantidades de azoto. Restaurar zonas ripícolas e mesmo construir zonas húmidas artificias são soluções apontadas para prevenir que o azoto chegue aos sistemas aquáticos.

Relativamente aos óxidos de azoto, seria fundamental melhorar a eficiência das combustões e desenvolver mecanismos para interceptar estas emissões antes da sua chegada à atmosfera. A utilização de energias alternativas é também apontada como medida minimizadora. No entanto, nenhum destes passos é simples e óbvio, pois estão envolvidos muitos interesses políticos e económicos. Inquestionável é a importância de transportar todas estas tecnologias mais eficientes para os países em vias de desenvolvimento, para que o seu crescimento possa já ter por base a aplicação de metodologias mais limpas.

 
Bibliografia

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