Fauna selvagem atropelada – Um problema ignorado

Manuel Nunes (texto) e Jorge Nunes (fotografia)
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Perigo: mamíferos na estrada

No que diz respeito aos mamíferos, são sobretudo as espécies ameaçadas que preocupam quem investiga esta problemática, uma vez que algumas espécies podem ver as suas populações fortemente diminuídas pelos atropelamentos. De acordo com o seu estudo, J. Marques registou 15 espécies de mamíferos atropelados (28% do total de registos), entre os quais toirões, lontras, genetas e gatos-bravos; por seu lado, o trabalho de Carlos Santos dá conta que são os micromamíferos e os morcegos os mais atingidos pelos atropelamentos, representando 78% de todos os animais deste grupo. Mais dramáticos são os dados apresentados por Inês Franco e Fernando Ascensão. No primeiro caso, verificou-se a ocorrência de 68 registos pertencentes a 10 espécies, algumas das quais ameaçadas como os morcegos-de-ferradura e o toirão; no segundo caso, foi de 446 o número total de mamíferos atropelados, com destaque para o ouriço-cacheiro com 112 registos, correspondendo os valores a cerca de 3,3 indivíduos/km/ano, o que, tendo em conta estudos semelhantes realizados noutros países europeus, constitui uma das maiores taxas de mortalidade registadas na Europa. Preocupantes são ainda os dados respeitantes aos mamíferos carnívoros com 55 registos, entre os quais 17 raposas, 12 toirões, 9 genetas, 5 texugos e 4 fuinhas. À semelhança do que acontece com as rapinas nocturnas, os carnívoros apresentam densidades populacionais relativamente baixas, pelo que a sua supressão não selectiva pode ter graves consequências nas respectivas populações. Particularmente séria, segundo Joaquim Pedro Ferreira, biólogo e membro da Felis silvestris – Associação para a Conservação do gato-bravo, parece ser a situação do toirão, nomeadamente na região a sul do Tejo: “O toirão é uma espécie bastante afectada pelos atropelamentos, uma vez que a sua população se encontra dispersa por núcleos populacionais fragmentados. O facto do toirão possuir em Portugal uma população que se julga em regressão, faz com que as causas de morte não natural, como os atropelamentos, tenham repercussões graves sobre a sua população”.

Com uma população que ronda os 300 animais, o lobo é outra das espécies animais que preocupa quem se debruça sobre esta temática. Para Francisco Fonseca, professor na Faculdade de Ciências de Lisboa e presidente do Grupo Lobo, a situação mais difícil verifica-se na zona centro do País, onde o lobo se encontra reduzido a números críticos, com cerca de 20 a 30 indivíduos dispersos por uma vasta região montanhosa: «As ligações entre as últimas alcateias desta região são fracas, com obstáculos que dificultam essas ligações, nomeadamente as estradas. Há mesmo o caso de uma alcateia, cujo território era já atravessado por uma estrada nacional, ao lado da qual foi agora construído um troço do IP3, o que coloca em perigo a sua sobrevivência», adianta. E com a proliferação de estradas os atropelamentos sucedem-se: “Por ano morrem 2 a 3 lobos nesta região, o que representa cerca de 10% da população de lobos existente a sul do Douro” revela Francisco Fonseca, cujos dados são corroborados pelo Instituto de Conservação da Natureza (Sistema de Monitorização de Lobos Mortos:1998-2004), que aponta o atropelamento como a principal causa de morte não natural da espécie no nosso País em 24% dos casos.


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