O estudo dos fósseis e a evolução da vida

Sara Otero
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Frequentemente o registo fóssil mostra-nos um modelo semelhante à forqueta: a uma evolução rápida que leva ao estabelecimento de grupos individualizados por comportamentos ecológicos e consequentes morfologias, segue-se uma estabilização e continuação por largos períodos de tempo desses mesmos grupos.

Um dos resultados da acção por longos períodos de tempo das pressões ambientais selectivas, é o de diferentes grupos, em diferentes alturas e lugares, originarem formas muito semelhantes. Exemplos disso são-nos fornecidos pelas semelhanças verificadas em diversos grupos adaptados à natação, como sucede entre peixes, répteis, tais como os ictiossáurios do Mesozóico, e mamíferos, como as baleias e vacas do mar do Terciário e actuais. Os tigres dente-de-sabre, do Terciário da América do Sul, eram mamíferos marsupiais, enquanto os tigres actuais são placentários. No Terciário, especialmente no da América do Norte, há ratazanas marsupiais, enquanto os roedores actuais são placentários. Estes exemplos de convergência são particularmente interessantes em locais onde as formas marsupiais se encontram geograficamente isoladas das formas placentárias evoluídas. Nestes casos, houve convergência de grupos distintos no sentido de atingirem a forma óptima para o seu tipo particular de vida, quer predação marinha, quer hábito carnívoro quadrúpede, ou ainda o modo típico de se alimentar dos roedores.

Dentro da evolução, a importância dos vários mecanismos de isolamento tem sido largamente demonstrada por trabalhos de ecologia e genética modernas. Durante o período de maior evolução orgânica, o isolamento em larga escala dos organismos terrestres, efectuou-se por ruptura e separação das massas continentais.

Há um grande número de factos que indicam que no final do Paleozóico existiu uma massa continental única denominada Pangea, a qual englobava todos os continentes hoje existentes. A ruptura subsequente desta massa efectuou-se em duas etapas, a primeira das quais levou à separação duma massa de continentes setentrionais, a Laurasia (compreendendo a Europa, Ásia e América do Norte), e de outra massa de continentes meridionais (incluindo a Antártida), conhecida por Gonduana. A separação da Laurasia da Gonduana deu-se no Mesozóico, e é evidente a partir de trabalhos oceanográficos modernos, que conduziram à formulação das hipóteses de expansão dos fundos oceânicos. 

A linha que separa faunas e floras distintas do sudeste da Ásia das da Austrália e Nova Guiné parece marcar a união de duas áreas que estiveram ligadas em tempos pré-terciários. Após a separação, os primitivos mamíferos monotrematas e marsupiais desenvolveram-se na Austrália, não sendo afectados pela evolução posterior dos mamíferos placentários nos outros continentes. Apenas o homem modificou o equilíbrio, introduzindo mamíferos mais evoluídos.

A migração através do Estreito do Panamá, parece ter sido interrompida após os últimos tempos do Cretácico, gerando-se até ao final do Terciário, altura em que a migração se tornou de novo possível. A partir do final do Terciário, houve vitória quase que completa dos mamíferos competidores mais evoluídos do norte, a ponto de se poder olhar o facto como uma das mais espectaculares batalhas evolutivas. A migração através do Estreito de Baring, parece ter sido mais comum no Terciário, e foi ela a via que tornou possível aos cavalos do Velho e Novo Mundo terem uma história comum; mas estes extinguiram-se na América do Norte após a abertura do Estreito. 
 
É importante ter em conta que o registo fóssil ainda é extremamente incompleto. Por outro lado, existe o problema respeitante à conciliação entre os conhecimentos que possuímos do registo fóssil e os organismos actuais. Apesar de haver uma forte concordância entre as classificações apoiadas nas estruturas rígidas dos organismos actuais e fósseis, os investigadores destes dois campos utilizam para identificação critérios diferentes. Portanto, há muitas lacunas. Além disso, a avaliação da abundância de organismos no passado, apenas pode ser feita de um modo subjectivo.

Assim, no registo fóssil o que é mais fácil de avaliar é a diversidade, mesmo que se considere para esta avaliação os grupos taxonómicos estabelecidos, ou a opinião dos especialistas. A diversidade não é a mesma coisa que o êxito ou abundância, mas informa-nos da adaptação ao meio ambiente, tal como se exprime em termos morfológicos.

 

 

 

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