O futuro dos recursos naturais renováveis

Bruno Pinto
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A sobre-exploração foi diversas vezes a causa da extinção ou exaustão económica de recursos naturais. O conhecimento da dinâmica populacional e monitorização das espécies exploradas é indispensável para a sua conservação pelo uso sensato.

Os recursos naturais renováveis devem ser geridos de um modo sustentável para que correspondam à sua designação e se renovem ao longo do tempo. No entanto, assiste-se actualmente ao risco de exaustão de alguns destes devido à sua sobre-exploração. Este texto aborda alguns dos factores que são determinantes para uma gestão adequada destes recursos. 
 
Os recursos naturais renováveis incluem organismos vivos como peixes ou árvores, mas também sistemas inanimados como a água e o ar. Uma vez que estes nos são comuns, têm-se encontrado modos de gestão sustentada com o objectivo de os manter a longo prazo. No entanto, a sua sobre- exploração nem sempre foi evitada, o que resultou no passado na extinção de diversas espécies. Este conceito de exaustão de recursos de livre acesso tem afectado, por exemplo, a indústria pesqueira em todo o Mundo. A curto prazo, é mais rentável sobre-explorar do que fazer uma gestão adequada de um recurso ao longo do tempo. Assim, a consequência desta sobre-exploração é, por vezes, a extinção de espécies.

Para explicar melhor este conceito, suponhamos que somos o capitão de um barco de pesca numa área sem restrições para pescar. Partilhamos esta área com mais barcos de pesca cujo objectivo é fazer o máximo de lucro possível. Enquanto houver peixe no mar suficiente para todos, a quantidade de peixe capturado irá aumentar, até atingir o ponto máximo de sustentabilidade. Neste ponto, seria benéfico para todos se a quantidade de capturas não aumentar, mas ninguém o faz porque não há garantias de recompensa por esta acção. Assim, é provável que haja uma sobre-exploração das populações de peixe e o seu consequente declíneo ou mesmo desaparecimento, a tragédia para todos os que dependem deste recurso de livre acesso.

Então quais são as soluções para garantir que a gestão de recursos se faça de forma adequada? Em primeiro lugar, é necessário conhecer a dinâmica das populações das espécies que são exploradas, de modo a determinar a quantidade que é possível retirar que permita a rápida recuperação dessas populações. Assim, é necessário calcular a taxa de natalidade e de mortalidade, o tempo de vida dos indivíduos e outros factores que condicionam a abundância destas populações. Obviamente, esta quantidade que permite a exploração sustentada deve ter em conta que os processos biológicos podem ser alterados ao longo do tempo e que o nosso conhecimento sobre estes é bastante limitado. Por outras palavras, devemos ser prudentes no estabelecimento dessa quantidade e monitorizar regularmente as populações exploradas. Por exemplo, a extinção da anchova do Perú nos anos 80 deveu-se principalmente a uma sobre-exploração da espécie, mas também aos efeitos não previstos do El Niño, que acelerou o processo de extinção. Do mesmo modo, é necessário conhecer a capacidade de assimilação da poluição, para que se estabeleçam limites adequados aos níveis de poluentes emitidos.

Em segundo lugar, é necessário regulamentar e fiscalizar o acesso a esses recursos renováveis. O método mais comum de evitar a sobre-exploração de espécies é reduzir a quantidade total de capturas para níveis que permitam a sua sustentabilidade. Para além disso, poder-se-ão implementar Reservas Naturais para conservar uma parte dessas espécies, promovendo também a reprodução desses recursos. Por exemplo, alguns estudos sugerem que 20% de todas as regiões marinhas deviam ser Reservas Naturais, de modo a que as populações de peixe exploradas comercialmente se pudessem manter sem risco de extinção.

 
 
A solução para o problema da sobre-exploração de recursos reside também numa consciência ambiental colectiva. A legislação e fiscalização do modo como é feita a exploração podem ser corrompidas por interesses económicos. Assim, é importante alertar para os efeitos desta exploração excessiva de modo a evitá-la. Por exemplo, de acordo com a “Food and Agriculture Organization”, cerca de 45% dos recursos pesqueiros do Mundo são actualmente explorados no seu nível máximo e 25% desses recursos foram ou ainda são sobre-explorados. Estes números alertam-nos para os riscos que corremos em extinguir estes recursos e da importância que uma consciência ambiental pode ter. Por exemplo, a opinião pública opôs-se fortemente à indústria de caça da baleia e esta deixou praticamente de existir. Do mesmo modo, a opinião pública poderá pressionar para que a gestão das espécies seja feita adequadamente, evitando assim futuras extinções.

Em resumo, as condições para uma exploração sustentada de recursos renováveis comuns implica um conhecimento da dinâmica populacional das espécies a serem exploradas. Além disso, depende também da implementação de legislação e fiscalização que permitam a renovação destas espécies, mas sobretudo de uma consciência ambiental sobre a importância de uma correcta gestão de recursos. Deste modo, será possível uma exploração sustentada destes, bem como a conservação das espécies que os constituem.

 
Referências bibliográficas

Future Harvest (2000). Global study reveals new warning signals: degraded agricultural lands threaten World’s Food production capacity. (WWW) http://Futureharvest.org (acesso em 19 Janeiro 2001).

Primack, R.B. (1998). Essentials of conservation biology. Sinauer Associates.

Sutherland, W.J. (1998). Conservation science and action. Blackwell Science.

Terborgh, J. (1999). Requiem for nature. Island press. Shearwater Books.

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