De onde viemos?

Cristina Pereira
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As críticas aos estudos com ADNmt asseguram que ao ser utilizada apenas uma pequena percentagem deste, a distância genética entre os indivíduos pode estar a ser mal calculada. O pressuposto de que o ADNmt não é transferido do pai para a descendência é uma hipótese fulcral, pois caso contrário, o “relógio estaria avariado”. No entanto, estudos publicados na revista Science, realizados por pesquisadores ingleses e escoceses em homens e chimpanzés, apontam para a transferência de informação genética do pai através do ADNmt.

Nestes primeiros dias do milénio, dois estudos independentes deram a conhecer novos dados, que tornam a Teoria da Eva Negra menos credível, em benefício da Teoria Multi-regional. 
 
A Teoria Multi-regional

Um estudo de cientistas australianos, a publicar este mês na revista Proccedings of the National Academy of Sciences (PNAS), veio reforçar esta teoria com novas provas. O estudo incidiu num fóssil de um homem anatomicamente moderno, que terá vivido na Austrália há 60 mil ou 40 mil anos. Este fóssil - Homem de Mungo - encontrado no Lago Mungo, na Austrália, em 1974, parece ter muita coisa a revelar-nos. Senão vejamos: apesar de aparentemente poder ser confundido com um homem moderno, a análise do genoma mitocondrial mostrou que este é diferente do do homem actual e do africano. Os dados apontam para que este seja de uma linhagem mais antiga que a nossa. Tal só se poderá explicar se provier de uma primeira saída do H. erectus do continente africano, mais antiga que a nossa, consubstanciando a teoria Multi-regional.

Só que os críticos destes cientistas australianos não concordam. Para além de duvidarem da fiabilidade da análise de ADNmt tão antigo, afirmam que o Homem de Mungo é um ramo da segunda saída de África que não terá deixado descendentes.

Na revista Science deste mês, outro estudo, desta vez de investigadores norte-americanos, aponta também no sentido da confirmação da teoria Multi-regional. O estudo baseou-se numa análise estatística comparativa entre as características morfológicas de 25 crânios encontrados no sudeste da Austrália e na República Checa, com idades entre 20 mil e 30 mil anos, com as características de crânios mais velhos encontrados na mesma região e as de crânios de África e do Médio Oriente. Se a teoria da Eva Negra se verificasse, os crânios australianos e europeus seriam mais parecidos com os de África e do Médio Oriente, uma vez que estes seriam os seus antepassados. A teoria Multi-regional originaria uma maior parecença entre os crânios australianos e europeus relativamente aos crânios mais antigos do mesmo local, provando os cruzamentos entre as diferentes populações da mesma zona. Os testes estatísticos efectuados mostraram que a ascendência múltipla não podia ser rejeitada para os crânios australianos e europeus modernos. As parecenças eram maiores no caso dos fósseis australianos e europeus com as respectivas populações arcaicas, do que com os fósseis de África e Médio Oriente. Assim, a teoria da substituição completa era rejeitada, bem como a ideia de que as populações locais arcaicas representariam espécies humanas agora extintas.

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