A história do Perfume

Maria Carlos Reis
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A arte da perfumaria floresceu nesta civilização. Foram desenvolvidas fragrâncias específicas para cada parte do corpo e outras para o tratamento de diversas doenças. Teofrasto, nascido a 370 a. C. terá sido o primeiro grego a escrever um tratado sobre perfumaria, a partir dos seus vastos conhecimentos em Botânica. É através deste documento que se sabe que os óleos utilizados nesta época eram produzidos a partir de flores e esta é a primeira referência conhecida a óleos florais na história do perfume.

A perfumaria também se encontra, desde a Antiguidade, ligada à ciência médica. Na Grécia Antiga, Hipócrates, conhecido como o “pai da medicina”, utilizava pequenos concentrados de perfume para combater certas enfermidades.

Contudo, terão sido os romanos, preocupados com o asseio pessoal diário, que lançaram o consumo dos perfumes a todos os escalões da sociedade. Foram pioneiros a desenvolver óleos para a limpeza do corpo e para a preparação de rituais de fertilidade, assim como a desenvolver diferentes consistências nas substâncias aromáticas, como pastas, óleos, incensos e colónias. Utilizavam bálsamos cicatrizantes e utilizavam perfumes nas roupas para espantar as epidemias.

 

Quando foram descobertas as ruínas de Pompeia o trabalho dos arqueólogos trouxe à luz uma perfumaria, onde foram encontradas garrafinhas de perfume com resquícios dos seus conteúdos mágicos. Depois de análises diversas, os mistérios dos perfumes com mais de 2000 anos foram revelados. Verifica-se que são todos à base de azeite, no qual as plantas, como pétalas de rosas, lírio ou manjericão, eram maceradas. Como não utilizavam fixadores, depois de meia hora de utilização o que ficava mesmo era o cheiro a azeite!

Com a chegada do Cristianismo e as suas mensagens de humildade e pudor, o perfume caiu em desuso. Terá sido a civilização árabe a “investir” em experiências com perfumes, que pretendiam extrair as propriedades das plantas, a sua essência química. Desta forma, a planta seleccionada era destilada uma infinidade de vezes, até que as suas qualidades passassem a um outro estado. Com a chegada dos árabes à Península Ibérica, a perfumaria expande-se novamente pelo resto da Europa. Os países mediterrânicos, com um clima adequado ao cultivo de plantas aromáticas, principalmente o jasmim, o alfazema e o limão, viram as suas costas ocupadas com plantações, cujas flores e frutos eram aproveitados pelos árabes na produção de perfumes, a sua principal ferramenta de comércio.

Os perfumes foram também introduzidos no Japão, através da China, que já tinha desenvolvido grandes artesãos da jardinagem para perfumaria. Neste país reconhece-se grandes poderes aos perfumes e o sentido do olfacto, sempre desprezado em relação aos outros sentidos, é colocado na posição de relevo que lhe pertence.
 
Voltando à Europa, e apesar de na Idade Média a utilização de perfumes estar condicionada pela pressão da Igreja, ela continuou nas classes mais favorecidas. Com a ausência de cuidados de higiene, as mulheres perfumavam-se com fortes e persistentes aromas, como âmbar. Nos castelos aromatizavam-se alguns compartimentos, nascendo, assim, o primeiro ambientador da história.

Mas o primeiro perfume como fórmula própria, de que se tem conhecimento, surgiu em 1370, criado pela Rainha Elisabeth, da Hungria. Era uma concentração de óleos e essências, conhecido como l’eau de la reine de Hongrie.

Embora a tradição da perfumaria em França venha já do séc. XIII, quando foram criadas as primeiras escolas que formaram os aprendizes e oficiais desta profissão, foi após a Revolução Francesa que se conheceram desenvolvimentos impressionantes. Tinha chegado ao fim a história do perfume apenas como composições restritas a águas tratadas com flores e começam a aparecer fórmulas que combinam aromas de couro, almíscar e musgos. Nesta época o perfume começou a ser associado à sedução e mesmo ao erotismo. Assim, a partir do séc. XIX, a história deste produto começou a caminhar de mãos dadas com a moda. França é reconhecida como o berço da perfumaria e Paris como o centro da indústria do perfume.

Entretanto o desenvolvimento não pára, especialmente ao nível técnico. Até aqui a maioria dos perfumes era extraída de substâncias aromáticas contidas nas plantas. Com os avanços científicos, uma pequena revolução nos laboratórios começou a mudar a história dos aromas: compostos sintéticos reconstituíram aromas naturais e criaram-se mesmo novas fragrâncias. Pôs-se fim a um dos maiores problemas da indústria perfumista – a estabilidade. Este é um grande passo, que os ambientalistas agradecem – hoje não é preciso colher ao amanhecer quilos de flores, para extrair uma fragrância exótica.

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