Dunas – O que são, como se formam, qual o seu valor e sensibilidade?

Jorge Cancela - Biodesign
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Dada a fixação das dunas mais em terra, a duna mais junto ao mar adquire o seu perfil de equilíbrio, que embora variando ao longo do ano face à proximidade da rebentação e como tal à disponibilidade de areia na praia, mantêm-se também mais ou menos constante num dado local e permitindo assim o início da sua fixação pelas plantas.

Neste sistema dunar assim criado, à duna mais próxima ao mar chama-se “duna primária”, à duna seguinte “duna secundária” e à zona entre elas “espaço inter-dunar”.

Os sistemas dunares podem ser muito complexos e extensos, como é o caso da Costa da Caparica onde o mesmo se desenvolve desde o mar até ao topo da arriba fóssil, numa extensão que chega a ser de quase 1,5 quilómetros e que ronda em média cerca de 1 quilómetro. Este sistema dunar tem (ou teve quando todo existia) um comprimento de cerca 13 quilómetros, desde a Cova do Vapor até à Mina do Ouro, a sul da Fonte da Telha.


3. Como deve ser ordenado um sistema dunar?

Com os conhecimentos anteriores sobre a criação das dunas, da sua relação dinâmica com o vento e a fragilidade das plantas estabelecidas dadas as difíceis condições de sobrevivência das mesmas nas dunas, podemos estruturar o uso potencial dos sistemas dunares fixos da seguinte forma:

• Praia – tolerante ao recreio
• Duna primária – muito sensível; intolerante ao recreio, à construção e as passagens só podem ser pedonais e se intensas sobrelevadas
• Espaço interdunar – sensível, mas tolerante a certos usos recreativos e instalação de construções leves
• Duna secundária – muito sensível; intolerante ao recreio, à construção e as passagens só podem ser pedonais e se intensas sobrelevadas
• Zona pós-dunar – tolerante ao recreio e construção, tendo em conta as capacidades de carga, níveis freáticos e outros parâmetros biofísicos.

Esta é a distribuição natural das ocupações em função do valor e sensibilidade do sistema dunar. Qualquer outra situação implica sempre impactes significativos ao nível da utilização do património colectivo que esses sistemas constituem.

São por isso sempre indicados esquemas de ordenamento que afastem edificações das dunas, como é o caso da Carta Europeia do Litoral, Decreto-Lei nº 302/90 de 26 de Setembro (princípios a que deve obedecer a ocupação, uso e transformação da faixa costeira) e dos modelos de ocupação do território, de que aqui se transpõe um exemplo.

 

 

É preciso não esquecer a importância cada vez maior que as dunas, principalmente as dunas primárias, têm como “tampão natural” à violência das ondas, criando com elas um equilíbrio dinâmico – recebendo, armazenando e largando areia - que protege os usos do solo a sotavento e que implica sempre a sua conservação, bem como da duna secundária associada.

Sem este sistema e em situações de litoral “agressivo” e níveis de subida médios do mar inquestionáveis, a preservação das dunas ganha dimensões tanto estratégicas na defesa de pessoas e bens como ecológicas de defesa de um sistema sensível ás alterações que o Homem faz.

4. Como é que os sistemas dunares são destruídos?

As dunas são sistemas instáveis, mesmo quando estabilizadas pela vegetação, pois essa estabilização constitui um “fio-de-navalha”, que qualquer perturbação altera.

Por exemplo, quando a vegetação é continuamente pisada a ponto de desaparecer, a areia solta não oferece resistência e o vento é rápido a explorar um caminho preferencial, que inicia um chamado “blow-out” ou “duna em ferradura”, que avança rapidamente e que em casos extremos pode por em risco todo o sistema dunar e os usos a ele associados.

Se o simples pisoteio pode ter estas consequências, o que dizer da instalação artificial permanente? A destruição total da vegetação em grandes áreas transforma uma duna fixa numa duna móvel, sendo assim os processos de novo dominados pela presença da areia e do vento e da relação entre eles e as estruturas ocorrentes na duna. O desfecho deste encontro de factores traduz-se quase sempre na destruição da duna e/ ou da estrutura artificial (por exemplo, por ficar enterrada na areia), com riscos de recuo da linha de costa significativos.

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