Evolução histórica da indústria corticeira

Alexandra Fonseca Marques, GEGREN – Instituto Superior de Agronomia
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Quando se fala no incremento das exportações portuguesas, damos-lhe a conhecer o produto onde Portugal é líder mundial – a cortiça. Como se caracteriza este sector? Qual a sua importância económica? Quais as principais utilizações derivadas da cortiça?

Evolução histórica da industria corticeira

As referências históricas à cortiça como produto de exportação para o Reino Unido e para a Flandres, remontam ao século XIV, utilizada principalmente na construção de flutuadores dos aparelhos de pesca. Durante este período, os povoamentos de sobreiro foram alvo de leis que proibiam o seu corte e restringiam a sua exploração, o que, no entanto, não impediu a redução drástica da área ocupada pela espécie no nosso País (Gil, 1998). No século XVIII, o aparecimento, em Portugal, da rolha de cortiça para o engarrafamento de vinhos e a publicação do primeiro compêndio de subericultura de Fragoso de Sequeira (Natividade, 1950), contribuíram para a valorização dos montados de sobro e da cortiça.

A indústria rolheira em Portugal surgiu em meados do século XIX, inicialmente com pequenas instalações dedicadas ao fabrico manual de rolhas cilíndricas, distribuídas especialmente no Sul do País. Após a 1ª Guerra Mundial, assistiu-se a um grande desenvolvimento da indústria corticeira, com um incremento que chegou aos 10.000 operários por volta de 1930, o que contribuiu para que Portugal assegurasse a liderança da produção mundial de cortiça (Oliveira, 1991, cit. por Gil, 1998). O processo de transformação industrial da cortiça ocorria essencialmente no estrangeiro, em países como os E.U.A., no entanto várias empresas detinham representações no nosso País como centrais de compra da matéria-prima (Gil, 1998).


Actualmente, o nosso País mantém a liderança na produção de cortiça, apresentando uma produção média anual de cerca de 185 mil toneladas, que corresponde a 54% do total mundial, seguido da Espanha com 88 mil toneladas (26%) e da Itália com 20 mil (6%) (Anuário 2000, APCOR & AIEC). Portugal detém ainda a maior capacidade industrial e empresarial do mundo para a transformação da cortiça e exportação dos produtos derivados já transformados, contrariando a tendência de exportação da cortiça em prancha, que caracterizou o início da actividade corticeira em Portugal. Assim, o nosso País transforma cerca de 70% da produção mundial, incluindo uma percentagem substancial de cortiça originária de Espanha. A transformação média anual de cortiça ronda as 150 mil toneladas, das quais se exportam cerca de 120 mil toneladas.
 

Organização actual do sector industrial corticeiro

O desenvolvimento da indústria transformadora de cortiça em Portugal teve lugar em Silves, Évora e Azambuja, e posteriormente no distrito de Setúbal e de Aveiro onde se fixou especialmente a industria rolheira. Este último distrito é o que apresenta actualmente maior número de trabalhadores no sector, cerca de 11 mil, que constituem 73.33% dos 15 mil trabalhadores do sector a nível nacional. Seguido de Setúbal (com 2722 trabalhadores), Faro (com 546) e Évora (com 275). Os trabalhadores da indústria corticeira correspondem a 25% do volume total de emprego no sector florestal (Anuário 2000, APCOR & AIEC).

O processamento industrial da cortiça está dividido em 4 sub-sectores (figura 1), que comportam cerca de 1100 estabelecimentos fabris distribuídos por todo o país. O sub-sector preparador, localizado essencialmente na zona sul do país, comporta cerca de 50 unidades fabris de pequenas dimensões (até 20 operários). O sub-sector transformador é o mais representativo, com cerca de 92% dos estabelecimentos fabris, também com o predomínio de unidades de pequena e média dimensão (até 100 operários). O granulador e aglomerador comporta cerca de 30 estabelecimentos, com predomínio de unidades com média dimensão.

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