Térmitas subterrâneas em Portugal

Lina Nunes e Tânia Nobre, Laboratório Nacional de Engenharia Civil
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Conheça a distribuição das térmitas no nosso País e a sua acção devastadora nas madeiras de importantes monumentos nacionais. Num próximo artigo ficaremos a saber como evitar a sua presença aquando da instalação de madeiras na indústria da construção.

A madeira é um material natural com enormes potencialidades na indústria da construção e que se comporta muito bem quando aplicada em edifícios, se estes forem projectados, construídos e mantidos de forma adequada. No entanto, na história da vida das construções, pelo menos um destes aspectos é frequentemente negligenciado, permitindo assim a entrada e o desenvolvimento dos agentes biológicos destruidores da madeira, como os fungos e os insectos. No grupo dos insectos, a acção das térmitas subterrâneas é aquela que apresenta uma maior relevância em Portugal. 
 
As térmitas subterrâneas presentes em Portugal pertencem ao complexo de espécies Reticulitermes lucifugus (Rossi) (Figura 1). São insectos sociais, com divisão de castas: as obreiras, causadoras da maior parte dos estragos da madeira aplicada; os soldados, que têm um papel fundamental na defesa da colónia; e, finalmente, os reprodutores alados, que surgem preferencialmente na Primavera e que têm como missão principal a dispersão das colónias. O aparecimento destes últimos ou apenas das suas asas são muitas vezes o primeiro sinal de uma infestação.


Embora seja uma espécie considerada autóctone na Europa mediterrânica e aqui tenha sido descrita pela primeira vez em 1792 [1], a primeira referência encontrada em Portugal sobre a presença destas térmitas remonta ao início do século XX [2]. Desde então, o número de registos tem aumentado, estando actualmente em curso uma tentativa de conhecer melhor a sua distribuição [3,4,5].


 
Figura 1: Obreiras de Reticulitermes lucifugus s.l. em madeira

 
Num processo de revisão bibliográfica, com base não só em todos os relatórios e notas técnicas elaborados pelo Núcleo de Madeiras do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), mas também em bibliografia geral sobre a presença destes insectos no território nacional, mapeou-se a presença de térmitas subterrâneas em Portugal continental. A estes elementos, adicionaram-se dados provenientes de observações pessoais dos autores deste texto e de outros técnicos considerados fidedignos, bem como de empresas que efectuam normalmente tratamentos curativos contra térmitas.


Na realidade, as térmitas subterrâneas parecem estar profusamente difundidas por todo o território continental. Até à data, obteve-se uma lista de 602 ocorrências referentes aos últimos 50 anos, cobrindo todos os distritos de Portugal continental. De 277 concelhos existentes, 105 registaram a presença de térmitas (Figura 2). Os concelhos sem registos não devem, contudo, ser vistos como regiões privadas de térmitas mas simplesmente como regiões em relação às quais não se obteve ainda informação.

 
Figura 2: Ocorrência de térmitas subterrâneas por concelho. Portugal continental.


Crê-se que a incidência das térmitas no património construído apresenta um padrão mais ou menos generalizado, conforme as habitações incorporem tradicionalmente na sua construção maior ou menor quantidade de madeiras de espécies susceptíveis de serem degradadas e, principalmente, apresentem teores em água elevados. Do ponto de vista da sua ocorrência em floresta, a distribuição afigura-se ainda mais homogénea, estando presentes de Norte a Sul do País. Dado que as térmitas subterrâneas se alimentam fundamentalmente de celulose, elas estão presentes nas raízes e cepos de árvores e arbustos ou em qualquer outro material lenhoso existente no solo, sempre que se verifiquem condições favoráveis ao seu desenvolvimento (o que implica a necessidade de um ambiente com elevada humidade).

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