A Comida, as Compras e a Engenharia Genética

Margarida Silva - Plataforma Transgénicos Fora do Prato
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Os consumidores europeus têm vindo a rejeitar de forma crescente os produtos que contêm plantas geneticamente modificadas, porém mais de 90% dos OGM em circulação destinam-se a rações animais e aqui os consumidores compram produtos não rotulados…

Ninguém esperava encontrar dificuldades. Nos Estados Unidos os resultados confirmavam o sucesso dos planos, os governos europeus mostravam-se deslumbrados, os produtos estavam a postos e o lucro em perspectiva excedia o dos melhores períodos da história destas empresas. Por isso a surpresa foi ainda maior quando o desastre se materializou.

Falamos das plantas geneticamente modificadas (OGM), ou transgénicas. E quais os “culpados” pelo desaire que levou ao colapso deste mercado na Europa? Nada mais nada menos que os consumidores anónimos, apoiados na fundamentação técnica de algumas estruturas ambientalistas e de agricultores. 
 
O resultado? Actualmente 27 dos 30 maiores retalhistas europeus (incluindo o Carrefour, Auchan, etc.) assumiram políticas de exclusão dos OGM. Estas 30 empresas representam um total de vendas que atinge os 500 mil milhões de euros. Por outro lado, das 30 principais empresas da área alimentar e bebidas (Nestlé, Unilever, Danone...), cujas vendas anuais representam cerca de um quarto do total de vendas deste sector na Europa, 22 têm igualmente o compromisso de não empregar ingredientes transgénicos. Tais números significam que o mercado para os OGM dirigidos ao consumidor encontrou um verdadeiro beco sem saída.

Esta história teria um final rápido e feliz se todos os OGM fossem sujeitos à escolha do consumidor, mas tal não é o caso. Mais de 90% dos OGM em circulação têm por destino as rações animais, e aqui os consumidores compram produtos (leite, ovos, carne) não rotulados - a não ser que tenham certificação biológica, ninguém sabe se os animais foram ou não alimentados com rações transgénicas (o mais provável é que tenham sido).

Este aspecto da ausência de rotulagem de produtos animais não é o único “buraco” da legislação europeia nesta matéria, mas é certamente o mais grave e vai directamente contra o artigo 153 do Tratado que institui a Comunidade Europeia onde se estabelece o direito dos consumidores à informação. Como consequência desta falha fica também em causa o direito à escolha, uma vez que sem a devida rotulagem os produtos não se distinguem e o acto de comprar decorre “às cegas”.

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