Responsabilidade Social das Empresas

Isabel Abreu
Imprimir
Texto A A A

As empresas têm uma responsabilidade social importante, devendo funcionar como promotores do desenvolvimento sustentável das sociedades onde se integram. Esta responsabilidade deverá integrar preocupações sociais a nível pessoal e comunitário.

Embora promovida principalmente por grandes empresas ou multinacionais, a Responsabilidade Social das Empresas (RSE) deverá fazer parte da estratégia de qualquer empresa e de qualquer sector de actividade, incluindo as pequenas e médias empresas. É importante salientar que o que se entende por RSE não se limita ao que é exigido por lei relativamente às condições de trabalho e protecção do Ambiente, devendo ir para além disso e abranger acções voluntárias que contribuam para o desenvolvimento da sociedade através da educação, cultura e melhoria das condições de vida, por exemplo.

RSE na prática

Uma empresa socialmente responsável respeita os direitos dos seus trabalhadores, não recorre à exploração de mão-de-obra infantil, não exerce práticas discriminatórias e no caso de recorrer a mão-de-obra localizada noutros países, nomeadamente, de países em desenvolvimento, tem preocupação pelas condições de vida destes trabalhadores. O conceito Comércio Justo diz respeito precisamente a proporcionar aos produtores de países em desenvolvimento um rendimento justo pelo seu trabalho e condições para o seu desenvolvimento.

Uma empresa socialmente responsável tem um papel importante no desenvolvimento das comunidades locais e pode fazê-lo através de patrocínios, doações, mecenato e voluntariado em áreas como a educação, cultura e desporto, por exemplo. O número de actividades que se pode desenvolver é enorme e a nível nacional há exemplos de empresas a apoiar a construção de escolas e hospitais, fornecimento de material para escolas, conservação de monumentos e edifícios. Há casos de empresas em que os empregados participam voluntariamente em acções de educação e apoio a pessoas idosas ou doentes, durante o horário normal de trabalho. 
 
Relatórios sociais

As orientações da Comissão Europeia no âmbito da estratégia de desenvolvimento sustentável indicam que as empresas cotadas na bolsa e com mais de 500 trabalhadores deverão publicar relatórios anuais relativos ao desempenho ambiental, económico e social. O Global Reporting Initiative é a referência mundial para a elaboração destes relatórios. Trata-se de uma iniciativa da CERES (Coalition for Environmentally Responsible Economies) em conjunto com organizações como as Nações Unidas. Além da importância que terão para os accionistas e investidores, os relatórios de desempenho social deverão ser lidos pela comunidade em geral funcionando como um meio de dar a conhecer o esforço das empresas no âmbito da sua responsabilidade social e permitir aos consumidores estarem mais informados na sua escolha de produtos e serviços.


Certificação Social

O número de empresas certificadas socialmente tem vindo a aumentar. Uma empresa certificada socialmente demonstra ter um papel activo na promoção das condições de trabalho ao longo da cadeia produtiva. A norma Social Accountability 8000 (SA8000) foi criada pelo Council on Economic Priorities Accreditation Agency (CEPAA) com base nas normas da Organização Internacional do Trabalho, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração Universal dos Direitos das Crianças da ONU, dizendo respeito às condições de trabalho, mão-de-obra infantil, discriminação, salários e benefícios, saúde e segurança, liberdade de associação, horário de trabalho, entre outros aspectos. A nível mundial existem 218 empresas certificadas pela SA8000. A China é o país com maior número de certificações – 39, a Itália tem 34 e o Brasil 28. Em Portugal, a Delta Cafés, é a única empresa certificada pela SA8000, tendo projectos interessantes de apoio às comunidades onde recorrem à mão-de-obra, tais como Timor e Angola.

Rótulos sociais

Como resposta a uma exigência crescente dos consumidores e investidores em relação à responsabilidade social das empresas, tem-se assistido à criação de rótulos sociais. Além da SA8000, muitos países criaram os seus próprios rótulos sociais, como por exemplo, o Selo Social, o Selo Empresa Amiga da Criança e o Selo Empresa Cidadã, todos criados e bastante utilizados no Brasil.


Mercados de valores sociais

A integração da RSE no mercado de valores reveste de valor económico o esforço das empresas no desenvolvimento da sociedade. Hoje em dia os investidores preocupam-se não só com o desempenho económico das empresas onde investem, mas também com o desempenho em termos ambientais e sociais. Uma empresa com uma actividade social e ambiental fortes demonstra uma estrutura sólida e consciente atraindo, desta forma, os investidores. Nos EUA e em alguns mercados europeus, os fundos de investimento em empresas socialmente responsáveis têm vindo a aumentar de importância, representando 600 bilhões de dólares, só nos EUA. Além disso, algumas Bolsas desenvolveram Índices que agregam empresas socialmente responsáveis como, por exemplo, o Dow Jones Sustainability Index.

Dados interessantes...

Um estudo conduzido nos Estados Unidos mostrou que:

- 60% das pessoas que procura emprego escolheriam a oferta da empresa que demonstrasse maior responsabilidade social;

- 50% dos consumidores está disposto a pagar mais por um produto que esteja associado a uma causa social;

- 20% da população pagaria 10% a mais pela causa certa;

- 61% dos consumidores mudaria de loja para uma associada a uma causa social;

- 70% dos consumidores não compraria produtos produzidos por empresas que desrespeitem as questões sociais, como por exemplo, a utilização de mão de obra infantil.


Considerações finais

Apesar de não haver legislação nesta área, a responsabilidade social tem um papel importante como ferramenta de competição empresarial e como forma de satisfazer os consumidores e os investidores cada vez mais atentos às questões sociais e ambientais.

Em Portugal foi recentemente publicado um estudo sobre a percepção da responsabilidade social, que mostrou que há pouca familiarização com o termo RSE por parte dos consumidores, meios de comunicação e entidades governamentais. A nível nacional, existem algumas entidades a trabalhar nesta área, nomeadamente, o BCSD Portugal (Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável) e a RSE Portugal (Associação Portuguesa para a Responsabilidade Social das Empresas), representando, respectivamente, o WBCSD (World Business Council for Sustainable Development) e o CSR Europe (Corporate Social Responsibility). O objectivo deste tipo de organizações é colaborar com empresas que pretendam desenvolver actividades na área da responsabilidade social, bem como promover a articulação entre as empresas, o governo e a sociedade civil contribuindo, desta forma, para uma maior familiarização com este assunto e para o seu desenvolvimento a nível nacional.

Bibliografia

Levek, Andrea et al. (2002). A responsabilidade social e a sua interface com o marketing social. Revista FAE, Curitiba v.5, n.2. Maio/Agosto: 15-25
(www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_da_fae/fae_v5_n2/a_responsabilidade_social.pdf)

Comissão das Comunidades Europeias (2001). Livro Verde – Promover um quadro europeu para a responsabilidade social das empresas. COM (2001). 18.07.2001
(http://europa.eu.int/comm/employment_social/soc-dial/csr/greenpaper_pt.pdf)

Sair da Casca (2004). A Percepção da Responsabilidade Social em Portugal. Fevereiro 2004.
(www.sairdacasca.com/actualidades/noticias.asp?not=2004040108)

Rocha, Fábio. Cidadania empresarial – um caminho sem volta.
(www.responsabilidadesocial.com/artigos.asp?id=5)

Velloso, Thiago (2003). Socialmente rentáveis. Valor Económico 17 de Novembro de 2003.
(http://carlota.cesar.org.br/aec/newstorm.notitia.apresentacao.ServletDeSecao?codigoDaSecao=1&dataDoJornal=atual)

Coutinho, Alexandre (2003). Responsabilidade Social das Empresas. Revista Ideias e Negócios Maio 2003: 54-59.

Sites recomendados

www.responsabilidadesocial.com

www.ethos.org.br

www.eticaempresarial.com.br

www.socialfunds.com

www.socialinvestment.ca

 

Comentários

Newsletter