A Agricultura Biológica

António Mantas, SATIVA
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Depois de muitas décadas de intensificação agrícola, com importantes prejuízos ambientais, a agricultura biológica tenta ser uma aproximação da agricultura à ecologia recuperando técnicas tradicionais.

"Seja nosso cuidado conhecer previamente os ventos e o clima de um lugar; as culturas usadas na região e a natureza dos terrenos; que frutos cada região produz e quais cada uma recusa. E não contentes com a autoridade dos agricultores, anteriores ou actuais, desenvolveremos nossos próprios métodos e tentaremos novas experiências"

Dos trabalhos do Campo de Lucio Júlio Moderato Columela, Séc. I

 A passagem da técnica da recolha itinerante de alimentos para suprimir as necessidades alimentares, para a técnica do cultivo provocou alterações profundas no modo de vida dos povos, pois levou ao sedentarismo, à estruturação social em crescente de complexidade, às trocas e ao comércio, e a novas ocupações fora da agricultura ou da obtenção de alimentos.


 A agricultura actua sobre o meio alterando as relações entre os seres vivos e permitindo a obtenção de recursos de natureza diversa, nomeadamente alimentares. Esta alteração, levada a cabo pelo Homem em proveito próprio, pode ser feita de forma mais ou menos intensiva, com maior ou menor respeito pelos equilíbrios naturais, com maior ou menor grau de protecção e melhoria do meio e da qualidade de vida.


 Durante muito tempo as técnicas utilizadas respeitaram o solo, a fertilidade, a diversidade e a qualidade das produções, seleccionando e/ou domesticando variedades e raças. Face a novas tecnologias, desde o início do século, mas sobretudo nas últimas décadas, conseguiram-se obter produções muito elevadas com elevadas utilizações de recursos disponíveis, sem limitações nos impactos negativos deste tipo de actuação, algumas vezes irreversíveis ou de difícil recuperação, isto é, actuou-se de forma não sustentável. 
 


 Com o objectivo de contrariar esta forma produtivista, surgiu uma forma de agricultura alternativa que tende a aproximar a agronomia da ecologia, recuperando técnicas e práticas tradicionais, mas tendo presente algumas das novas tecnologias. A agricultura biológica é um sistema de produção que visa a manutenção da produtividade do solo e da cultura, para proporcionar nutrientes às plantas e controlar as infestantes, parasitas e doenças, com utilização preferencial de rotações de culturas, adição de sub-produtos agrícolas, estrumes, leguminosas, detritos orgânicos, rochas ou minerais triturados e controlo biológico de pragas, evitando-se assim o uso de fertilizantes e pesticidas de síntese química, reguladores de crescimento e aditivos nas rações.


 Num solo sem cultivo a evolução ao longo do tempo faz parte do processo de sucessão ecológica, isto é, do aumento progressivo de organização que se dá nos ecossistemas naturais. Uma vez alcançadas as condições de equilíbrio o solo funciona como reserva nutritiva. O equilíbrio entre os diferentes organismos do solo e a sua interacção com a matéria orgânica e com as partículas minerais, implica a formação de estruturas organo-minerais que estabilizam a humidade e regulam a libertação de nutrientes para as plantas. Quando um solo é utilizado em agricultura de forma mais intensiva, os equilíbrios modificam-se e as estruturas degradam-se, empobrecendo-o.


 As técnicas utilizadas em agricultura biológica implicam uma boa percepção do meio envolvente à exploração que se efectua, nomeadamente:

- Construção e manutenção da fertilidade do solo: funcionando o solo como um organismo vivo, pelo que deve ser nutrido de forma a que as plantas que nele se desenvolvem encontrem boas condições e para que não diminua a actividade dos organismos benéficos essenciais à decomposição e mineralização dos detritos orgânicos que originam o húmus. A melhor forma de nutrir o solo é fornecendo-lhe matérias orgânicas que constituem a base da fertilização. Estas incorporações enriquecem o solo em húmus cuja degradação fornece à planta elementos minerais e substâncias fisiologicamente activas. Eventualmente, podem ser fornecidos ao solo alguns outros complementos minerais. Este ciclo faz com que se forme um solo estável, com libertação gradual de compostos para as plantas e enriquecimento de outros, sem perdas por lixiviação, tendo importante papel os organismos vivos do solo.

- Preservação da estrutura do solo: Com a diminuição da fertilidade há degradação da estrutura e favorece-se a erosão. A matéria orgânica possibilita a formação de agregados de partículas minerais e orgânicas, aumentando a estabilidade e a permeabilidade ao ar e à agua, originando-se uma melhor estrutura.

- Utilização de técnicas de cultivo adequadas: O desequilíbrio provocado pela agricultura pode ser compensado por meio de técnicas importantes, como sejam o fornecimento de estrumes, realização de rotações, manutenção de resíduos, sementeira nos limites das parcelas e segundo as curvas de nível, manutenção de um pH correcto e fornecimento de correctivos minerais, realização de mobilizações em épocas correctas e sem inversão de horizontes, utilização de adubos verdes e incorporação de restolhos, etc..

 São igualmente técnicas adequadas o controlo biológico de pragas e doenças e a utilização de recursos locais (variedades regionais ou raças autóctones).

 Uma exploração agrícola em agricultura biológica deve tentar conciliar a existência de agricultura e pecuária. Os animais têm um importante papel na produção de estrumes e consomem resíduos que de outra forma se perderiam, permitindo ainda a utilização de zonas que não teriam aproveitamento.

 

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